A matemática para algumas crianças
ainda é um bicho de sete cabeças. Muitos não compreendem os problemas que a
professora passa no quadro e ficam muito tempo tentando entender se é para
somar, diminuir ou multiplicar; não sabem nem o que o problema está pedindo.
Alguns, em particular, não entendem os sinais, muito menos as expressões.
Contas? Só nos dedos e olhe lá.
Em muitos casos o problema não
está na criança, mas no professor que elabora problemas com enunciados
inadequados para a idade cognitiva da criança.
Carraher afirma que:
“Vários
estudos sobre o desenvolvimento da criança mostram que termos quantitativos
como “mais”, “menos”, maior”, “menor” etc. são adquiridos gradativamente e, de
início, são utilizados apenas no sentido absoluto de “o que tem mais”, “o que é
maior” e não no sentido relativo de “ ter mais que” ou “ser maior que”. A
compreensão dessas expressões como indicando uma relação ou uma comparação
entre duas coisas parece depender da aquisição da capacidade de usar da lógica
que é adquirida no estágio das operações concretas”...”O problema passa então a
ser algo sem sentido e a solução, ao invés de ser procurada através do uso da
lógica, torna-se uma questão de adivinhação” (2002, p. 72).
No entanto,
em outros casos a dificuldade pode ser realmente da criança e trata-se de um
distúrbio e não de preguiça como pensam muitos pais e professores
desinformados.
Em geral, a
dificuldade em aprender matemática pode ter várias causas.
De acordo com Johnson e
Myklebust, terapeutas de crianças com desordens e fracassos em aritmética,
existem alguns distúrbios que poderiam interferir nesta aprendizagem:
Distúrbios de memória auditiva:
- A criança
não consegue ouvir os enunciados que lhes são passados oralmente, sendo assim,
não conseguem guardar os fatos, isto lhe incapacitaria para resolver os
problemas matemáticos.
- Problemas
de reorganização auditiva: a criança reconhece o número quando ouve, mas tem
dificuldade de lembrar do número com rapidez.
Distúrbios de leitura:
- Os dislexos
e outras crianças com distúrbios de leitura apresentam dificuldade em ler o
enunciado do problema, mas podem fazer cálculos quando o problema é lido em voz
alta. É bom lembrar que os dislexos podem ser excelentes matemáticos, tendo
habilidade de visualização em três dimensões, que as ajudam a assimilar
conceitos, podendo resolver cálculos mentalmente mesmo sem decompor o cálculo.
Podem apresentar dificuldade na leitura do problema, mas não na interpretação.
- Distúrbios
de percepção visual: a criança pode trocar 6 por 9, ou 3 por 8 ou 2 por 5 por
exemplo. Por não conseguirem se lembrar da aparência elas têm dificuldade em
realizar cálculos.
Distúrbios de escrita:
- Crianças
com disgrafia têm dificuldade de escrever letras e números.
Estes
problemas dificultam a aprendizagem da matemática, mas a discalculia impede a
criança de compreender os processos matemáticos.
A discalculia
é um dos transtornos de aprendizagem que causa a dificuldade na matemática.
Este transtorno não é causado por deficiência mental, nem por déficits visuais
ou auditivos, nem por má escolarização, por isso é importante não confundir a
discalculia com os fatores citados acima.
O portador de
discalculia comete erros diversos na solução de problemas verbais, nas
habilidades de contagem, nas habilidades computacionais, na compreensão dos
números.
Kocs (apud
García, 1998) classificou a discalculia em seis subtipos, podendo ocorrer em combinações
diferentes e com outros transtornos:
Discalculia Verbal -
dificuldade para nomear as quantidades matemáticas, os números, os termos, os
símbolos e as relações.
✏Discalculia Practognóstica -
dificuldade para enumerar, comparar e manipular objetos reais ou em imagens
matematicamente.
✏Discalculia Léxica - Dificuldades
na leitura de símbolos matemáticos.
✏Discalculia Gráfica - Dificuldades
na escrita de símbolos matemáticos.
✏Discalculia Ideognóstica –
Dificuldades em fazer operações mentais e na compreensão de conceitos
matemáticos.
✏Discalculia Operacional -
Dificuldades na execução de operações e cálculos numéricos.
Na área da neuropsicologia as áreas afetadas são:
✏Áreas terciárias do hemisfério esquerdo
que dificulta a leitura e compreensão dos problemas verbais, compreensão de
conceitos matemáticos;
✏Lobos frontais dificultando a realização
de cálculos mentais rápidos, habilidade de solução de problemas e
conceitualização abstrata.
✏Áreas secundárias occípito-parietais
esquerdos dificultando a discriminação visual de símbolos matemáticos escritos.
✏Lobo temporal esquerdo dificultando
memória de séries, realizações matemáticas básicas.
De acordo com Johnson e Myklebust a criança com discalculia é incapaz
de:
→Visualizar conjuntos de objetos
dentro de um conjunto maior;
→Conservar a quantidade: não
compreendem que 1 quilo é igual a quatro pacotes de 250 gramas.
→Seqüenciar números: o que vem
antes do 11 e depois do 15 – antecessor e sucessor.
Classificar números.
→Compreender os sinais +, - , ÷,
×.
→Montar operações.
→Entender os princípios de
medida.
→Lembrar as seqüências dos passos
para realizar as operações matemáticas.
→Estabelecer correspondência um a
um: não relaciona o número de alunos de uma sala à quantidade de carteiras.
→Contar através dos cardinais e
ordinais.
Os processos cognitivos envolvidos na discalculia são:
1. Dificuldade na memória de
trabalho;
2. Dificuldade de memória em
tarefas não-verbais;
3. Dificuldade na soletração de
não-palavras (tarefas de escrita);
4. Não há problemas fonológicos;
5. Dificuldade na memória de
trabalho que implica contagem;
6. Dificuldade nas habilidades
visuo-espaciais;
7. Dificuldade nas habilidades
psicomotoras e perceptivo-táteis.
De acordo com o DSM-IV, o
Transtorno da Matemática caracteriza-se da seguinte forma:
A capacidade
matemática para a realização de operações aritméticas, cálculo e raciocínio
matemático, encontra-se substancialmente inferior à média esperada para a idade
cronológica, capacidade intelectual e nível de escolaridade do indivíduo.
As
dificuldades da capacidade matemática apresentadas pelo indivíduo trazem
prejuízos significativos em tarefas da vida diária que exigem tal habilidade.
Em caso de
presença de algum déficit sensorial, as dificuldades matemáticas excedem aquelas
geralmente a este associadas.
Diversas
habilidades podem estar prejudicadas nesse Transtorno, como as habilidades
lingüisticas (compreensão e nomeação de termos, operações ou conceitos
matemáticos, e transposição de problemas escritos em símbolos matemáticos),
perceptuais (reconhecimento de símbolos numéricos ou aritméticos, ou
agrupamento de objetos em conjuntos), de atenção (copiar números ou cifras,
observar sinais de operação), e matemáticas (dar seqüência a etapas
matemáticas, contar objetos e aprender tabuadas de multiplicação).
Quais os comprometimentos?
✹
Organização espacial;
✹
Auto-estima;
✹
Orientação temporal;
✹
Memória;
✹
Habilidades sociais;
✹
Habilidades grafomotoras;
✹
Linguagem/leitura;
✹
Impulsividade;
✹
Inconsistência (memorização).
Ajuda do professor:
O aluno deve
ter um atendimento individualizado por parte do professor que deve evitar:
☞Ressaltar as dificuldades do aluno,
diferenciando-o dos demais;
☞Mostrar impaciência com a dificuldade
expressada pela criança ou interrompê-la várias vezes ou mesmo tentar adivinhar
o que ela quer dizer completando sua fala;
☞Corrigir o aluno freqüentemente diante
da turma, para não o expor;
☞Ignorar a criança em sua dificuldade.
Dicas para o professor:
· Não
force o aluno a fazer as lições quando estiver nervoso por não ter conseguido;
· Explique
a ele suas dificuldades e diga que está ali para ajudá-lo sempre que precisar;
· Proponha
jogos na sala;
· Não
corrija as lições com canetas vermelhas ou lápis;
· Procure
usar situações concretas, nos problemas.
Ajuda do profissional:
Um
psicopedagogo pode ajudar a elevar sua auto-estima valorizando suas atividades,
descobrindo qual o seu processo de aprendizagem através de instrumentos que
ajudarão em seu entendimento. Os jogos irão ajudar na seriação, classificação,
habilidades psicomotoras, habilidades espaciais, contagem.
Recomenda-se
pelo menos três sessões semanais.
O uso do
computador é bastante útil, por se tratar de um objeto de interesse da criança.
O
neurologista irá confirmar, através de exames apropriados, a dificuldade
específica e encaminhar para tratamento. Um neuropsicologista também é
importante para detectar as áreas do cérebro afetadas. O psicopedagogo, se
procurado antes, pode solicitar os exames e avaliação neurológica ou
neuropsicológica.
O que ocorre com crianças que não são tratadas precocemente?
Comprometimento do
desenvolvimento escolar de forma global
O aluno fica inseguro e com medo
de novas situações
Baixa auto-estima devido a
críticas e punições de pais e colegas
Ao crescer o adolescente / adulto
com discalculia apresenta dificuldade em utilizar a matemática no seu
cotidiano.
Qual a diferença? Acalculia e Discalculia.
A discalculia já foi relatada
acima.
A acalculia ocorre quando o
indivíduo, após sofrer lesão cerebral, como um acidente vascular cerebral ou um
traumatismo crânio-encefálico, perde as habilidades matemáticas já adquiridas.
A perda ocorre em níveis variados para realização de cálculos matemáticos.
Cuidado!
As crianças, devido a uma série
de fatores, tendem a não gostar da matemática, achar chata, difícil. Verifique
se não é uma inadaptação ao ensino da escola, ou ao professor que pode estar
causando este mal estar. Se sua criança é saudável e está se desenvolvendo
normalmente em outras disciplinas não se desespere, mas é importante procurar
um psicopedagogo para uma avaliação.
Muitas confundem inclusive
maior-menor, mais-menos, igual-diferente, acarretando erros que poderão ser
melhorados com a ajuda de um professor mais atento.
Site: http://www.psicopedagogiabrasil.com.br/disturbios.htm#Discalculia
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