quinta-feira, 27 de agosto de 2015

A alfabetização e a importância do professor alfabetizador: a magia de ensinar a ler e a escrever.

A alfabetização e a importância do professor alfabetizador: a magia de ensinar a ler e a escrever.
 
Eu nunca me esqueci de minha professora alfabetizadora, Dª Martha de Albuquerque. Ela tinha uma forte e tenra presença entre nós. Carinhosa, autêntica e acima de tudo motivadora. Foi minha professora em um grupo escolar (ensino de 1º grau como se falava) no interior de Minas Gerais. Todo ano, quando ao participar da cerimônia de final de ano em minha escola quando as professoras alfabetizadoras “entregam” aos familiares as crianças alfabetizadas, eu me lembro dela. 

Em meu discurso, sempre faço menção a ela. Foi a Dª Martha quem me ensinou a ler e a escrever. O mundo era outro, basicamente se alfabetizava o aluno sem a preocupação de viabilizar às crianças a oportunidade do contato com as práticas sociais. O mundo letrado daquele tempo não estava contextualizado na realidade dos alunos. Na verdade, nem as educadoras. A preocupação era fazer a criança ler e escrever em pouco tempo e de forma mecânica. Hoje, não é assim mais.

Emília Ferreiro, educadora por nós todos muito admirada, contribuiu e muito para a mudança de paradigmas na alfabetização e certamente influenciou na postura dos professores alfabetizadores. As alfabetizadoras passaram a entender que esse processo não deve ser mecânico, mas sim algo que vai muito além da fusão de signos e que deveria envolver um complexo processo de hipóteses sobre a representação linguísticas, entendendo que o letramento deveria estar sintonizado com a compreensão da dimensão sócio-cultural da língua escrita e também do aprendizado, pois necessita focalizar os aspectos sociais e históricos da sociedade em que a criança vive.
 
Certamente esse paradigma exige das professoras alfabetizadoras um novo olhar, uma postura diferente e um compromisso com a contextualização e com a realidade social, cultural, econômica e política de seu tempo e de seu meio. A alfabetizadora é chamada, então, a fazer uso dos instrumentos alfabetizadores, preparando os alunos para a vida social deles.

O educador, a partir dessa perspectiva, passa a ter que envolver a leitura e a escrita às práticas sociais contemporâneas. Desta forma, o alfabetizar é um processo de integração humana, em que o educando, em seu processo de aquisição da escrita e da leitura, adquire de forma contextualizada a inclusão no universo da linguagem, não só o domínio da escrita, mas também a consciência de seu próprio universo. Resta aí, então, uma professora alfabetizadora que não seja apenas conhecedora das práticas pedagógicas, mas também conhecedora do mundo que as cerca.
No sentido mais didático-pedagógico, a alfabetizadora deverá ser também capaz de conhecer a estrutura da língua e seu funcionamento, o que certamente exige um preparo técnico muito maior. A formação linguística ganha importância máxima. É dizer, então, que o professor, em toda sua dimensão e em toda a capacidade laboral, necessita de conhecimentos sócio-culturais e político-econômicos do mundo em que vive; deixa-se de lado a simples memorização de sílabas, conceitos linguísticos e regras de escrita. Sem a contextualização, os alunos não irão aprender bem a ler e a escrever, aí é que o compromisso do educador ganha importância e o seu trabalho qualificado torna-se a diferença entre formar bons leitores e bons escritores. Crianças capazes de escrever, ler e interpretar com consciência e capacidade reflexiva é o que desejamos com a alfabetização.
Nesse sentido, a perfeita condução do processo de alfabetização recai sob a responsabilidade da educadora. Paulo Freire (1996, p. 92) diz que “o professor que não leva a sério sua formação, que não estuda, que não se esforça para estar à altura de sua tarefa não tem força moral para coordenar as atividades de sua classe”.

Todos nós, educadores e educandos, sofremos uma forte pressão advinda das constantes transformações nas áreas econômicas, política e social. Também é notório que as novas tecnologias e a globalização mundial têm forçado a escola a adequar os seus objetivos e os professores a se colocarem diante de novos desafios. A escola tem sido desafiada a buscar soluções às imposições do sistema econômico que se moderniza. O novo homem exigido pela sociedade contemporânea exige também um novo educador. Alfabetizadoras igualmente estão sendo chamadas a desenvolverem novas habilidades. Estão o tempo todo sendo desafiadas a aprender para ensinar. Aliás, só pode ensinar quem aprende, e o aprender é um ato contínuo, sem fim. 

Por isso mesmo, a educadora alfabetizadora de nosso tempo tem que estar conectada com a evolução e disposta a lidar com o novo. Seus alunos estão chegando mais críticos, carregando uma bagagem de “conhecimento informal” cada vez maior. Chegam desejosos de aprender, com prontidão. Cabe a todos nós, educadores, a missão de ensiná-los. Sei que o peso é grande, mas a parcela maior na educação é mesmo nossa. Por isso, a professora tem que se perceber como um ser indivíduo em constante aprendizagem para poder ensinar.

É sabido que a prática docente reflete um complexo processo que depende da história individual de cada educador. Depende também das práticas educativas e certamente do jogo social da professora com os educandos. Por isso, o ato de alfabetizar tem que compreender a sua prática enquanto formadora de sujeitos. Saber que como possuidora de informação e das técnicas didático-pedagógicas, cabe a ela a responsabilidade de despertar (ou inibir) na criança o desejo de aprender. Cabe às educadoras alfabetizadoras possibilitar aos seus alunos o domínio da linguagem oral e escrita como forma de possibilitar a manifestação de cada eu existente em cada ser que elas educam. 

Assim sendo, alfabetizar ganha um significado gigante e a professora, nesse processo, uma responsabilidade muito significativa. A magia de ensinar a ler e a escrever é algo muito mais do que técnica de ensinar. Passa pela capacidade humana de se ler e de saber ler aqueles que estão aos seus cuidados.

Referências:
- Ferreiro, Emília. Reflexões sobre alfabetização. São Paulo, Cortez, 2001;
- Freire, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários a prática educativa. São Paulo, Paz e Terra, 1996;

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

4 atitudes que enfraquecem o vínculo emocional com seus filhos

Ser pai, mãe, avô, avó e, além disso, um educador eficaz, não é fácil. Cada criança vem a este mundo com necessidades próprias que devemos saber atender, com virtudes a serem potencializadas e emoções que devem ser incentivadas, orientadas e desenvolvidas.
Educar não é apenas ensinar as crianças a ler ou mostrar como podem realizar seu trabalho de pesquisa para o colégio com o computador. Ser pai ou mãe não é presentear os filhos com um telefone celular em seu aniversário, nem assegurar-nos de que colocamos o cinto de segurança neles cada vez que entram no carro. É muito mais que tudo isso.

Educar também é saber dizer “Não” e, ao mesmo tempo, dizer “Sim” com o olhar, porque educar não é apenas proibir, mas abrir o coração para os nossos filhos e reforçar cada dia o vínculo emocional que temos com eles, dando a entender que estamos juntos em cada instante para proporcionar-lhes maturidade como pessoas felizes e capazes.

Contudo, em algumas situações, mesmo que conheçamos a teoria não a aplicamos na prática. Além de pais e mães, também somos casal, empregados, empresários ou pessoas que querem trocar de emprego e que, possivelmente, ainda querem atingir novos objetivos profissionais. Tudo isso ocorre concomitantemente em nosso cotidiano e, sem saber como, começamos a cometer erros na educação de nossos filhos.
Se você for pai, se lembrará de quando foi filho e saberá, sem dúvida, o que você mais valorizou – e ainda valoriza! – ou do que mais sentiu falta nos seus dias de infância. Se a sua infância não foi especialmente feliz, entenderá quais aspectos romperam este vínculo emocional com os seus pais, esses erros que não devem ser repetidos sob nenhuma hipótese com seus filhos.
Falemos sobre isso.

1. Não os escutar

As crianças falam e também perguntam muito. Pegam você de surpresa com mil questionamentos, inúmeras dúvidas e centenas de comentários nos momentos mais inoportunos. Desejam saber, experimentar, querem compartilhar e desejam compreender tudo que acontece diante delas.

enfraquecer o vínculo emocional

Tenha bastante claro que, se você mandar que fiquem quietas, se você as obrigar a ficar em silêncio, ou se não atender suas palavras, respondendo com severidade ou de forma rude, isso fará com que, no curto prazo, a criança deixe de se dirigir a você. E o fará privilegiando seus próprios espaços de solidão, atrás de uma porta fechada que não desejará que você cruze.

2. Castigá-los, transmitindo-lhes falta de confiança

São muitos os pais que relacionam a palavra educação com punição, com proibição, com um autoritarismo firme e rígido em que tudo se impõe e qualquer erro é castigado. Este tipo de conduta educativa resulta em uma falta de autoestima muito clara na criança, uma insegurança e, ao mesmo tempo, uma ruptura do vínculo emocional com eles.
Se castigamos não ensinamos. Se me limito a dizer para a criança tudo o que ela faz de errado, jamais saberá como fazer algo bem. Não dou a ela medidas ou estratégias, limito-me a humilhá-la. E tudo isso gerará nela raiva, rancor e insegurança. Evite sempre esta atitude. 

3. Compará-los e rotulá-los

Poucas coisas podem ser mais destrutivas do que comparar um irmão ao outro ou uma criança a outra para ridicularizá-la, para dar a entender suas escassas aptidões, suas falhas, sua pouca iniciativa. En algumas ocasiões, um erro que muitos pais cometem é falar em voz alta diante das crianças como se elas não os escutassem.
É que o meu filho não é tão inteligente como o seu, é mais lento, o que se pode fazer”. Expressões como estas são dolorosas e geram neles um sentimento negativo que causará não apenas ódio em relação aos pais, mas um sentimento interior de inferioridade.

4. Gritar com eles e apoiar-se mais na ordens do que nos argumentos

Não trataremos aqui de maus tratos físicos, pois acreditamos que não há pior forma de romper o vínculo emocional com uma criança do que cometer este ato imperdoável.
Mas temos de ser conscientes de que existem outros tipos de maus tratos implícitos, quase igualmente destrutivos. É o caso do abuso psicológico, esse no qual se arruína a personalidade da criança por completo, sua autoimagem e a confiança em si mesma.

enfraquecer o vínculo emocional

Há pais e mães que não sabem dirigir-se de outra forma a seus filhos, sendo sempre através de gritos. Levantar a voz sem razão justificável provoca um estado de euforia e estresse contínuo nos filhos; eles não sabem em que se apoiar, não sabem se fizeram algo bom ou mau. Os gritos contínuos enfurecem e fazem mal, já que não há diálogos, apenas ordens e críticas.
Deve-se ter muito cuidado com estes aspectos básicos. O não escutar, o não falar e o não demonstrar abertura, compreensão ou sobrepor a sanção ao diálogo são modos de ir afastando aos poucos as crianças do nosso lado. Elas nos enxergarão como inimigos dos quais devem se defender e romperemos o vínculo emocional com eles.

Educar é uma aventura que dura a vida toda em que ninguém é um verdadeiro especialista. Contudo, basta apoiar-se nos pilares da compreensão, do carinho e em um apego saudável que proporcione a maturidade e a segurança nesta pessoa que é também parte de você.

Imagem cortesia: Gabriela Silva, Nicolás Gouny, Whimsical

Mural de Aniversariantes

Você faz e base e depois cola três tiras e faz cada desenho referente a um mês, pode ser estrela como no modelo abaixo, coração, florzinha ou o que sua imaginação criar.Depois é só colocar os nomes dos aniversariantes no mês devido, coloque com alfinete e você poderá usa esse mural por mais de um ano.





O mural é todo feito de eva, se o eva for muito mole , coloque um papelão atrás para ficar mais firme.

terça-feira, 25 de agosto de 2015

Anafalbetismo Emocional

Aprender a se conhecer, a desenvolver uma relação de estima consigo mesmo me parece tão importante quanto saber ler e escrever bem. No entanto, me pareceu curioso como profissionais da educação e pais tem supervalorizado a alfabetização, o desenvolvimento cognitivo e aprendizagem de outra língua, inseridos cada vez mais cedo na vida das crianças. De fato, se tivéssemos os indicadores para poder calcular a taxa de analfabetismo emocional e corporal no final do período escolar, acho que os números seriam aterradores… começando pelo crescente aumento de crianças iniciando a psicoterapia com vários sintomas como: estresse, depressão, ansiedade, agressividade, hiperatividade, entre outros.São inúmeros os indivíduos que não aprenderam a se escutar, que tomaram o hábito de recalcar suas tensões e que não sabem que palavras podem traduzir o seu mal estar. A isto se vem juntar, no âmbito das estatísticas, as altas taxas de depressão, obesidade, suicídios e divórcios. Espero que um dia o “alfabetismo emocional” ( o seu próprio ser) seja ensinado nas escolas… Imagino-a na forma de um único ateliê: o do conhecimento de si mesmo. O ser humano seria compreendido em sua globalidade, cada parte remetendo à outra. O foco seria a aquisição de m reflexo de atenção às mensagens que o nosso corpo envia quando estamos perturbados, em vez de recalcar esta informação, como tantos de nós aprendemos a fazer. E assim, desenvolver a confiança em nossos sentimentos. Podemos explorar as diferentes “portas” de acesso a nós mesmos, duas das quais são privilegiadas: os sentimentos corporais e as emoções. A visão de um professor dedicado à inteligência corporal seria no sentido de que a criança redescobrisse a comodidade e o prazer de habitar seu corpo. Devemos orientar nossas crianças e jovens a aestarem disponíveis para escuta e a cuidar das suas necessidades físicas: movimentar-se, alimentar-se, relaxar de maneira saudável e respeitosa.Temos de ensinar nossas crianças o ato de prestar atenção aos sinais do seu corpo quando exprime tensões, indisposições, contrariedades e inquietudes. Devemos lhes dar as chaves para aceitar e transformar esses mal-estares, através de:- jogos: favorecendo os movimentos, rodas de reflexão.- ritmar tempos de estudo: por momentos de concentração, relaxamento ou liberação de tensões corporais.- prever momentos de expressão, de compartilhamento dos sentimentos psíquicos e suas mensagens.- ter uma abertura por parte do professor às posições corporais (inquietude, conversas paralelas) julgadas como desrespeitosas, as quais associo mais ao cansaço e ao tédio.- propor ateliês para desenvolver o sentido do ritmo: ritmica, eurritmia, dança, etc.Quanto à inteligência emocional, poderíamos propor às crianças uma alfabetização. As mensagens veiculadas pelos sentimentos deveriam se tornar para eles como que placas de trânsito, cada um conheceria seu sentido. Por exemplo:- tédio: poderiam ser apresentados como oportunidades de se conhecer melhor, convites para escutar a si mesmo;- raiva: potência constrangedora que revela nossa inabilidade a exprimir nosso mal-estar.- Medos: turbulências subterrâneas que se escondem tão bem… as crianças seriam estimuladas a buscá-los através dos sentimentos aparentes ou dos comportamentos provocadores.- Surpresa: chave da nossa relação com o mundo emocional, a simples descoberta ajudaria a formar cidadãos abertos à diferença.O aprendizado consiste em realizar nossos movimentos de fuga com relação a emoções que nos perturbam. E, em seguida, adquirir os meios de administrá-las: a capacidade de se concentrar, de prestar atenção em si mesmo, de se deixar surpreender pela energia que surge no coração…Segue assim uma dica simples para iniciar com as crianças em casa ou na escola à expressão de seus sentimentos. Pinte um grande círculo no qual diferentes emoções correspondiam a uma cor. Antes do início do dia, das atividades, cada um deve escolher uma cor seguindo este código, sendo que as cores podem representar sua sensibilidade no momento. 

Assim, estamos oferecendo uma oportunidade para que o outro seja respeitado e considerado em sua individualidade e totalidade, além de aprender a lidar com seus sentimentos sem ter medo de aceitá-las, podendo reconhecê-las e exprimir com autenticidade.Então, faço votos que a educação contemporânea leve em conta mais globalmente o seu principal ator: a criança. Que os contatos entre jovens, crianças, educadores e pais se construam a partir desta expressão de respeito mútuo!

Referências bibliográficas:
ROGERS, Carl. A Terapia Centrada no paciente. Lisboa: Moraes, 1974.FAURE, Jean-Philippe. 
Educar em Punições nem Recompensas. Petrópolis: RJ: Vozes, 2008.STEINER, Rudolf. 
A educação da criança segundo a ciência espiritual. São Paulo: Antrosófica, 1998.

Enfeites e idéias para Primavera






A CRECHE DEVE TRABALHAR O DIA DA INDEPENDÊNCIA COM AS SUAS CRIANÇAS?

“7 de setembro, dia da independência do Brasil”.

O que pode significar a comemoração dessa data para uma criança de dois ou três anos?

Para muitos talvez pareça muito complexo o entendimento do significado de pátria, de independência, de civismo para uma criança com tal idade.

Nesta reflexão, antes de perguntar o que pode significar para criança, acho que a pergunta que deveria ser feita era: O que a comemoração da independência do país significa para aqueles que estão educando as crianças?

Não se trata apenas de didática e de fundamentação teórica a respeito de como a criança aprende ou do que pode ou não ser significativo para crianças nessa faixa etária, trata-se primeiramente de compreendermos que só educamos com base no que acreditamos, com base nos valores que construímos para nós mesmos.

Assim, um educador que  não construiu para si, por exemplo, a valorização do meio ambiente, de reciclar o lixo, de cuidar das plantas ou de manifestar o amor e o respeito pelo seu país, não conseguirá trabalhar esses valores de forma significativa com os seus alunos.

Podemos pensar que se trata apenas de uma data comemorativa e que o fato de ignorá-la não representa falta de patriotismo. Todavia, é preciso lembrar que o ser humano, diferentemente dos outros animais atribui grande importância ao simbolismo das coisas. Um simples  objeto pode adquirir uma importância enorme, que vai muito além da sua funcionalidade, em virtude da história que foi construída em torno dele e uma data pode, dessa forma, ser carregada de significados que compõe o modo de se de uma pessoa, de um grupo de pessoas ou de uma nação.

Hoje com o avanço nas pesquisas em torno de como a criança pensa e constrói o seu conhecimento, somos capazes de prever que toda as experiências que se tornam significativas na vida de uma criança, mesmo na mais tenra idade, formarão elementos relevantes na sua formação psíquica e social.

Desta forma, promover experiências relevantes em torno de valores como o patriotismo, o respeito aos mais velhos, aos animais, a natureza, entre outros, deixam marcas na vida da criança. Embora essas marcas, muitas vezes, não sejam de imediato vislumbradas, elas, certamente, representam fundamentos, bases, para compreensões futuras.

Assim, neste dia em que se comemora a independência do nosso país, ao vermos uma criança desfilando com chapéu de soldado feito de jornal; com o rosto pintado com as cores da bandeira brasileira; com uma bandeirinha na mão feita por ela ou qualquer outra manifestação promovida pela escola para referendar a data junto aos seus alunos, podemos ter a convicção de que fizemos a nossa parte para que no futuro essa criança possa compreender que nesta data, 7 de setembro, o seu país comemora uma conquista que precisa ser lembrada sempre para que se valorize a independência adquirida à custas de muita luta e sangue de pessoas que por amor a sua gente lutou por isso.

Atividades: 07 de Setembro





domingo, 23 de agosto de 2015

O prazer da leitura

Alfabetizar é ensinar a ler. A palavra alfabetizar vem de “alfabeto“. “Alfabeto“ é o conjunto das letras de uma língua, colocadas numa certa ordem. É a mesma coisa que “abecedário“. A palavra “alfabeto“ é formada com as duas primeiras letras do alfabeto grego: “alfa“ e “beta“. E “abecedário“, com a junção das quatro primeiras letras do nosso alfabeto: “a“, “b“, “c“ e “d“. Assim sendo, pensei a possibilidade engraçada de que “abecedarizar“, palavra inexistente, pudesse ser sinônima de “alfabetizar“...

“Alfabetizar“, palavra aparentemente inocente, contém uma teoria de como se aprende a ler. Aprende-se a ler aprendendo-se as letras do alfabeto. Primeiro as letras. Depois, juntando-se as letras, as sílabas. Depois, juntando-se as sílabas, aparecem as palavras...

E assim era. Lembro-me da criançada repetindo em coro, sob a regência da professora: “be a ba; be e be; be i bi; be o bo; be u bu“... Estou olhando para um cartão postal, miniatura de um dos cartazes que antigamente se usavam como tema de redação: uma menina cacheada, deitada de bruços sobre um divã, queixo apoiado na mão, tendo à sua frente um livro aberto onde se vê “fa“, “fe“, “fi“, “fo“, “fu“... (Centro de Referência do Professor, Centro de Memória, Praça da Liberdade, Belo Horizonte, MG.)

Se é assim que se ensina a ler, ensinando as letras, imagino que o ensino da música deveria se chamar “dorremizar“: aprender o dó, o ré, o mi... Juntam-se as notas e a música aparece! Posso imaginar, então, uma aula de iniciação musical em que os alunos ficassem repetindo as notas, sob a regência da professora, na esperança de que, da repetição das notas, a música aparecesse...

Todo mundo sabe que não é assim que se ensina música. A mãe pega o nenezinho e o embala, cantando uma canção de ninar. E o nenezinho entende a canção. O que o nenezinho ouve é a música, e não cada nota, separadamente! E a evidência da sua compreensão está no fato de que ele se tranquiliza e dorme – mesmo nada sabendo sobre notas! Eu aprendi a gostar de música clássica muito antes de saber as notas: minha mãe as tocava ao piano e elas ficaram gravadas na minha cabeça. Somente depois, já fascinado pela música, fui aprender as notas – porque queria tocar piano. A aprendizagem da música começa como percepção de uma totalidade – e nunca com o conhecimento das partes.

Isso é verdadeiro também sobre aprender a ler. Tudo começa quando a criança fica fascinada com as coisas maravilhosas que moram dentro do livro. Não são as letras, as sílabas e as palavras que fascinam. É a estória. A aprendizagem da leitura começa antes da aprendizagem das letras: quando alguém lê e a criança escuta com prazer. “Erotizada“ – sim, erotizada! – pelas delícias da leitura ouvida, a criança se volta para aqueles sinais misteriosos chamados letras. Deseja decifrá-los, compreendê-los – porque eles são a chave que abre o mundo das delícias que moram no livro! Deseja autonomia: ser capaz de chegar ao prazer do texto sem precisar da mediação da pessoa que o está lendo.

No primeiro momento as delícias do texto se encontram na fala do professor. Usando uma sugestão de Melanie Klein, o professor, no ato de ler para os seus alunos, é o “seio bom“, o mediador que liga o aluno ao prazer do texto. Confesso nunca ter tido prazer algum em aulas de gramática ou de análise sintática. Não foi nelas que aprendi as delícias da literatura. Mas me lembro com alegria das aulas de leitura. Na verdade, não eram aulas. Eram concertos. A professor lia, interpretava o texto, e nós ouvíamos extasiados. Ninguém falava. Antes de ler Monteiro Lobato, eu o ouvi. E o bom era que não havia provas sobre aquelas aulas. Era prazer puro. Existe uma incompatibilidade total entre a experiência prazerosa de leitura – experiência vagabunda! – e a experiência de ler a fim de responder questionários de interpretação e compreensão. Era sempre uma tristeza quando a professora fechava o livro...

Vejo, assim, a cena original: a mãe ou o pai, livro aberto, lendo para o filho... Essa experiência é o aperitivo que ficará para sempre guardado na memória afetiva da criança. Na ausência da mãe ou do pai a criança olhará para o livro com desejo e inveja. Desejo, porque ela quer experimentar as delícias que estão contidas nas palavras. E inveja, porque ela gostaria de ter o saber do pai e da mãe: eles são aqueles que têm a chave que abre as portas daquele mundo maravilhoso! Roland Barthes faz uso de uma linda metáfora poética para descrever o que ele desejava fazer, como professor: maternagem: continuar a fazer aquilo que a mãe faz. É isso mesmo: na escola, o professor deverá continuar o processo de leitura afetuosa. Ele lê: a criança ouve, extasiada! Seduzida, ela pedirá: “Por favor, me ensine! Eu quero poder entrar no livro por conta própria...“

Toda aprendizagem começa com um pedido. Se não houver o pedido, a aprendizagem não acontecerá. Há aquele velho ditado: “É fácil levar a égua até o meio do ribeirão. O difícil é convencer a égua a beber“. Traduzido pela Adélia Prado: “Não quero faca nem queijo. Quero é fome“. Metáfora para o professor: cozinheiro, Babette, que serve o aperitivo para que a criança tenha fome e deseje comer o texto...

Onde se encontra o prazer do texto? Onde se encontra o seu poder de seduzir? Tive a resposta para essa questão acidentalmente, sem que a tivesse procurado. Ele me disse que havia lido um lindo poema de Fernando Pessoa, e citou a primeira frase. Fiquei feliz porque eu também amava aquele poema. Aí ele começou a lê-lo. Estremeci. O poema – aquele poema que eu amava – estava horrível na sua leitura. As palavras que ele lia eram as palavras certas. Mas alguma coisa estava errada! A música estava errada! Todo texto tem dois elementos: as palavras, com o seu significado. E a música... Percebi, então, que todo texto literário se assemelha à música. Uma sonata de Mozart, por exemplo. A sua “letra“ está gravada no papel: as notas. Mas assim, escrita no papel, a sonata não existe como experiência estética. Está morta. É preciso que um intérprete dê vida às notas mortas. Martha Argerich, pianista suprema (sua interpretação do concerto n. 3 de Rachmaninoff me convenceu da superioridade das mulheres...) as toca: seus dedos deslizam leves, rápidos, vigorosos, vagarosos, suaves, nenhum deslize, nenhum tropeção: estamos possuídos pela beleza. A mesma partitura, as mesmas notas, nas mãos de um pianeiro: o toque é duro, sem leveza, tropeções, hesitações, esbarros, erros: é o horror, o desejo que o fim chegue logo.

Todo texto literário é uma partitura musical. As palavras são as notas. Se aquele que lê é um artista, se ele domina a técnica, se ele surfa sobre as palavras, se ele está possuído pelo texto – a beleza acontece. E o texto se apossa do corpo de quem ouve. Mas se aquele que lê não domina a técnica, se ele luta com as palavras, se ele não desliza sobre elas – a leitura não produz prazer: queremos que ela termine logo. Assim, quem ensina a ler, isto é, aquele que lê para que seus alunos tenham prazer no texto, tem de ser um artista. Só deveria ler aquele que está possuído pelo texto que lê. Por isso eu acho que deveria ser estabelecida em nossas escolas a prática de “concertos de leitura“. Se há concertos de música erudita, jazz e MPB – por que não concertos de leitura? Ouvindo, os alunos experimentarão os prazeres do ler. E acontecerá com a leitura o mesmo que acontece com a música: depois de ser picado pela sua beleza é impossível esquecer. Leitura é droga perigosa: vicia... Se os jovens não gostam de ler, a culpa não é deles. Foram forçados a aprender tantas coisas sobre os textos - gramática, usos da partícula “se“, dígrafos, encontros consonantais, análise sintática –que não houve tempo para serem iniciados na única coisa que importa: a beleza musical do texto literário: foi-lhes ensinada a anatomia morta do texto e não a sua erótica viva. Ler é fazer amor com as palavras. E essa transa literária se inicia antes que as crianças saibam os nomes das letras. Sem saber ler elas já são sensíveis à beleza. E a missão do professor? Mestre do kama-sutra da leitura...

                                                                                         Rubem Alves
Gaiolas ou Asas-A arte do voo
ou a busca da alegriade aprender.Porto,Edições Asa,2004.

sábado, 22 de agosto de 2015

O que é Folclore?

No dia 22 de agosto, comemora-se o folclore. Podemos definir o folclore como um conjunto de mitos e lendas
 que as pessoas passam de geração para geração. Muitos nascem da pura imaginação das pessoas, principalmente dos moradores das regiões do interior do Brasil.
Muitas destas histórias foram criadas para passar mensagens importantes ou apenas para assustar as pessoas.
Muitos deles deram origem à festas populares, que ocorrem pelos quatro cantos do país.
CADA REGIÃO E CIDADE, POSSUEM SUAS LENDAS, MITOS, MÚSICAS E TRADIÇÕES, QUE FAZEM PARTE DO SEU ACERVO FOLCLÓRICO.

O folclore é uma manifestação baseada em conhecimento popular que tem múltiplas expressões: cantigas de rodas, brincadeiras, canções de ninar, jogos, remédios caseiros, culinária, mitos, lendas e parlendas.As atividades folclóricas são muito importantes para manter a tradição e a unidade de um povo. Além disso, o acesso da criança a esse universo propicia também o desenvolvimento da imaginação, da fantasia e da ludicidade.
CANTIGAS DE RODAS


Alguns exemplos de cantigas de roda:

Caranguejo
Caranguejo não é peixe
Caranguejo peixe é Caranguejo não é peixe
Na vazante da maré.
Palma, palma, palma, Pé, pé, pé Caranguejo só é peixe, na vazante da maré!
Ciranda

Ciranda, cirandinha, vamos todos cirandar, vamos dar a meia-volta, volta e meia vamos dar
O anel que tu me deste era vidro e se quebrou
O amor que tu me tinhas era pouco e se acabou
Por isso, D. Fulano (SUBSTITUIR pelo nome da criança) entre dentro dessa roda
Diga um verso bem bonito, diga adeus e vá-se embora
A ciranda tem tres filhas
Todas tres por batizar
A mais velha delas todas Ciranda se vai chamar
Escravos de Jó
Escravos de Jó Jogavam caxangá
Tira, bota, deixa o Zé Pereira ficar.
Guerreiros com guerreiros fazem zigue zigue zá
Guerreiros com guerreiros fazem zigue zigue zá.
A linda rosa juvenil

A linda Rosa juvenil, juvenil, juvenil
A linda Rosa juvenil, juvenil.
Vivia alegre no seu lar, no seu lar, no seu lar
Vivia alegre no seu lar, no seu lar.
Mas uma feiticeira má, muito má, muito má
Mas uma feiticeira má, muito má.
Adormeceu a Rosa assim, bem assim, bem assim
Adormeceu a Rosa assim, bem assim
Não há de acordar jamais, nunca mais, nunca mais
Não há de acordar jamais, nunca mais.
O tempo passou a correr, a correr, a correr
O tempo passou a correr, a correr.
E o mato cresceu ao redor, ao redor, ao redor
E o mato cresceu ao redor, ao redor.
Um dia veio um belo rei, belo rei, belo rei
Um dia veio um belo rei, belo rei.
Que despertou a Rosa assim, bem assim, bem assim
Que despertou a Rosa assim, bem assim.(a última estrofe tem 3 versões diferentes para brincarmos com as crianças:)
E batam palmas para o rei, para o rei, para o rei
E batam palmas para o rei, para o rei.
ou
Digamos ao rei muito bem, muito bem, muito bem
Digamos ao rei muito bem, muito bem.
ou
E os dois puseram-se a dançar, a dançar, a dançar
E os dois puseram-se a dançar, a dançar

DICA do blog: Para a música escravos de Jó, ofereça um pedacinho de madeira para cada criança, no rítmo da música, cada criança coloca a sua madeira na frente da criança que estiver ao seu lado direito e assim, durante toda a música.

A Cantiga de Roda LINDA ROSA JUVENIL é para cantar e brincar: as crianças formam uma roda; uma delas vai para dentro da roda, e é a "Rosa" outras duas ficam fora da roda e serão a "Feiticeira" e o "Rei". Seguindo as estrofes da música, cada criança deve agir de acordo com o seu personagem. Aquelas que estão na roda, devem girar e cantar ao redor da Rosa.


PARLENDAS


Alguns exemplos de parlendas:

Um, dois, feijão com arroz.
Três, quatro, feijão no prato.
Cinco, seis, chegou minha vez
Sete, oito, comer biscoito
Nove, dez, comer pastéis.
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Serra, serra, serrador! Serra o papo do vovô!
Quantas tábuas já serrou?
Uma delas diz um número e as duas, sem soltarem as mãos, dão um giro completo com os braços, num movimento gracioso. Repetem os giros até completar o número dito por uma das crianças.
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Um elefante amola muita gente...
Dois elefantes... amola, amola muita gente...
Três elefantes... amola, amola, amola muita gente...
Quatro elefantes amola, amola, amola, amola muito mais...(continua...)
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Cala a boca!
– Cala a boca já morreU
Quem manda em você sou eu!
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Enganei um bobo...Na casca do ovo!
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Dedo Mindinho
Seu vizinho,
Maior de todos
Fura-bolos
Cata-piolhos.

TRAVA-LÍNGUAS

*Pedro tem o peito preto,
O peito de Pedro é preto;
Quem disser que o peito de Pedro é preto,
Tem o peito mais preto que o peito de Pedro.
*A vaca malhada foi molhada por outra vaca molhada e malhada.
*Um ninho de mafagafos, com cinco mafagafinhos, quem desmafagafizar os mafagafos, bom desmafagafizador será.

*Chupa cana chupador de cana na cama chupa cana chuta cama cai no chão.
*Pinga a pipa
Dentro do prato
Pia o pinto e mia o gato.
*O rato roeu a roupa do rei de Roma.
*Três pratos de trigo para três tigres tristes.*Sabendo o que sei e sabendo o que sabes e o que não sabes e o que não sabemos, ambos saberemos se somos sábios, sabidos ou simplesmente saberemos se somos sabedores.*O Tempo perguntou pro tempo quanto tempo o tempo tem, o Tempo respondeu pro tempo que o tempo tem o tempo que o tempo tem.

DICA do blog para brincar com trava-línguas:
Dê para a criança uma rolha, ela deve recitar O TRAVA LÍNGUA o mais rápido possível, com a rolha entre os dentes. Fica bem divertido.

MÚSICA PARA BRINCAR

Aratatá
Aratatá, aratatá.
Zug, zug aratatá
Auêe, auêe, auêe
Zug, zug, aratatá
Outra Versão:
Aram sam sam
Aram sam sam
Guli guli
Guli guli guli ram sam sam
Forme um círculo com as crianças. Invente uma melodia ou fale a letra da música de forma ritmada. Depois, explique que, ao pronunciar "aratatá", os alunos devem tocar os joelhos. Ao dizer "zug", devem tocar os ombros e, ao cantar "auêe", devem movimentar os braços.
Ou
no "Aram" devem tocar os joelhos, no "Guli" devem coçar o queijo e a cabeça.Após algumas rodadas, altere os comandos da brincadeira.
Diga aos alunos que "aratatá" passa a ser a ordem para tocar o joelho do vizinho da direita.
E "zug" passa a ser o sinal para tocar o ombro do vizinho da esquerda.
O toque despretensioso entre eles é uma forma de livrar as crianças de preconceitos que possam existir.
As poucos complique as regras: todos devem cantar e fazer a roda girar, caminhando no ritmo da música. Os comandos passam a ser "aratatá" para tocar o joelho de quem vem atrás e "zug" para tocar o ombro de quem vai à frente, etc..


FONTES:
http://www.suapesquisa.com/folclorebrasileiro/folclore.htm
http://www.suapesquisa.com/musicacultura/

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Felicidade Clandestina

Ela era gorda, baixa, sardenta e de cabelos excessivamente crespos, meio arruivados. Tinha um busto enorme; enquanto nós todas ainda éramos achatadas. Como se não bastasse, enchia os dois bolsos da blusa, por cima do busto, com balas. Mas possuía o que qualquer criança devoradora de histórias gostaria de ter: um pai dono de livraria.
Pouco aproveitava. E nós menos ainda: até para aniversário, em vez de pelo menos um livrinho barato, ela nos entregava em mãos um cartão-postal da loja do pai. Ainda por cima era de paisagem do Recife mesmo, onde morávamos, com suas pontes mais do que vistas. Atrás escrevia com letra bordadíssima palavras como "data natalícia" e "saudade".
Mas que talento tinha para a crueldade. Ela toda era pura vingança, chupando balas com barulho. Como essa menina devia nos odiar, nós que éramos imperdoavelmente bonitinhas, esguias, altinhas, de cabelos livres. Comigo exerceu com calma ferocidade o seu sadismo. Na minha ânsia de ler, eu nem notava as humilhações a que ela me submetia: continuava a implorar-lhe emprestados os livros que ela não lia.
Até que veio para ela o magno dia de começar a exercer sobre mim uma tortura chinesa. Como casualmente, informou-me que possuía As reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato.
Era um livro grosso, meu Deus, era um livro para se ficar vivendo com ele, comendo-o, dormindo-o. E completamente acima de minhas posses. Disse-me que eu passasse pela sua casa no dia seguinte e que ela o emprestaria.
Até o dia seguinte eu me transformei na própria esperança da alegria: eu não vivia, eu nadava devagar num mar suave, as ondas me levavam e me traziam.
No dia seguinte fui à sua casa, literalmente correndo. Ela não morava num sobrado como eu, e sim numa casa. Não me mandou entrar. Olhando bem para meus olhos, disse-me que havia emprestado o livro a outra menina, e que eu voltasse no dia seguinte para buscá-lo. Boquiaberta, saí devagar, mas em breve a esperança de novo me tomava toda e eu recomeçava na rua a andar pulando, que era o meu modo estranho de andar pelas ruas de Recife. Dessa vez nem caí: guiava-me a promessa do livro, o dia seguinte viria, os dias seguintes seriam mais tarde a minha vida inteira, o amor pelo mundo me esperava, andei pulando pelas ruas como sempre e não caí nenhuma vez.
                                                                              
 
Clarice Lispector
* O primeiro beijo e outros contos-Antologia,São Paulo,Atica,1998.