Muitos pais e professores ficam preocupados quando os pequenos
brincam com o próprio corpo ou descobrem o prazer de tocar os genitais –
comportamentos comuns na infância. No entanto, em uma postura
contraditória, eles estimulam a criança a namorar quando ouvem o filho
ou aluno se referindo ao amigo como namorado.
Namoro não é natural na infância.
As criança pequenas ainda não têm condições biológicas, emocionais, e
muito menos maturidade para realizar o relacionamento afetivo-sexual
indispensável ao namoro.
Crianças não namoram, elas se
relacionam. Para os pequenos, o outro ainda não tem a importância que o
adulto dá. Uma criança não gosta de outra porque sente vontade de
beijá-la, abraçá-la ou ser a única companheira de suas brincadeiras. Os
pequenos gostam dos outros porque eles demonstram prazer em brincar
junto, devolvem seus brinquedos, inventam uma brincadeira divertida,
emprestam lápis de cores…
Por que, então, algumas crianças dizem ter namorados?
Normalmente, porque algum adulto falou isso antes.
Em geral, é a partir dos três anos que as crianças passam a brincar de
namoro e de papai e mamãe. Nesse momento, eles já incorporaram o
conceito de gênero e começam a imitar os adultos. As brincadeiras
revelam como os pequenos estão percebendo os papéis de gênero assumidos
pelo mais velhos. Não indicam o desejo de ser pai, mãe ou mesmo de namorar.
Além disso, a criança constrói seu
imaginário com base nas mensagens transmitidas pela família e pela
sociedade. Para ela, ser namorado de alguém é gostar de estar junto. E,
em geral, quem se encaixa neste perfil, é o(a) amiguinho(a) do momento.
É por isso que uma menina pode imitar
os mais velhos e até dizer que o seu namorado é o Felipe. Mas, se isso
não for reforçado pelo adulto, amanhã ela poderá dizer que é o Flávio,
depois a Marina, a Carla…
Li na internet um depoimento de uma mãe
que exemplifica bem o tema deste post. A filha de cinco anos pegou um
anel de brinquedo e avisou: “Vou levar para o Felipe, posso?”. A mãe
respondeu cheia de expectativas: “É um anel de compromisso?” “O que é um
anel de compromisso?”, questionou a menina. “Nada, nada. Pode levar,
filha.” A criança então complementou: “Não sei se vou dar pra ele ou
para a Letícia.”
Uma vez, um pai me procurou muito preocupado com a possibilidade de seu filho ser gay. Ele havia perguntado ao seu filho de 4 anos quem era a namorada do menino. A resposta veio de pronto: “Ora, o Rafael!”. Apesar da ansiedade do pai, é claro que a resposta da criança não sinaliza qual será a sua orientação sexual.
As confusões acontecem porque as pessoas entendem a palavra namorado sob o ponto de vista do adulto.
E têm dificuldade em diferenciar sua visão de mundo da visão dos
pequenos. Deveriam lidar com os comentários de acordo com o contexto e
com a capacidade das crianças. Mesmo porque, logo, logo, quando chegarem
aos 7 anos, os meninos dirão que as meninas são chatas e mimadas. Já as
garotas vão dizer que eles só conversam bobagens e não entendem de
meninas. É por volta dos 13 anos que as crianças passam a ter interesse afetivo e sexual por alguém e de fato, namorar.
O que fazer quando o aluno diz estar namorando
Durante a infância, é importante que a criança tenha tranquilidade
para fazer amigos e brincar de acordo com o seu desenvolvimento.
Portanto, o professor ajuda muito ao evitar comentários sobre namoro.
Também não é bom sugerir que o aluno sente ao lado de seu suposto
namoradinho ou lhe dê um beijo. Atitudes como essas inibem os pequenos.
O que era para ser uma amizade leve, descontraída, divertida e
companheira… vira um constrangimento e tolhe o desenvolvimento e a
aproximação entre eles.
A atitude da escola com os pais
Uma professora de Educação Infantil me
perguntou como proceder com o aluno cuja mãe compra presentes para sua
filha dar ao “namoradinho” na escola. “A mãe já trouxe até jóias, como
um anel simbolizando compromisso!”, explicou.
Meu conselho? Não estimule esse
comportamento na escola. Há crianças que pegam birra e nem chegam mais
perto do amigo que insistem em dizer ser seu namorado.
Em casos como esses, a escola pode conversar com os pais sobre o assunto.
Essa tarefa pode ficar com o coordenador ou o professor da criança.
Caso o profissional se sinta inseguro, pode levar para o bate-papo a
pessoa na escola que entenda de sexualidade infantil, como a psicóloga.
Quem lidera essa conversa preciso conquistar a confiança e o respeito
desses pais. Isso porque irá tocar em questões delicadas, como as
expectativas e valores dos responsáveis pela criança.
A escola também pode promover palestras ou cursos sobre sexualidade infantil
e desenvolvimento afetivo-sexual. Essas atividades para a comunidade
costumam surtir um efeito positivo na compreensão dos adultos.
Há outras condutas em sua escola para lidar com essa pressão sobre as crianças? Compartilhe nos comentários!
Fonte: Novaescola.
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