sábado, 5 de julho de 2014

Ludopedagogia, a arte de ensinar

“Não se pode ensinar coisa alguma a alguém, pode-se apenas auxiliá-lo a descobrir por si mesma.” 

(Galileu Galilei)


A introdução do lúdico na vida escolar do educando é uma maneira muito eficaz de perpassar pelo universo infantil para imprimir-lhe o universo adulto, nossos conhecimentos e principalmente a forma de interagirmos. A atividade lúdica é muito importante para o desenvolvimento sensóriomotor e cognitivo, desta forma, torna-se uma maneira inconsciente de se aprender, de forma prazerosa e eficaz.
A finalidade é enfatizar a importância dos educadores terem em mente os objetivos e os fins da brincadeira desenvolvida, sua utilização lúdica, cognitiva, sócio-cultural, e mais, precisam saber observar as condutas dos educandos para então diagnosticar, avaliar e elaborar estratégias de trabalho; identificando, desta forma, as dificuldades e os avanços dos educandos. Este estudo está fundamentado em Lev Vygotsky e Jean Piaget, pois, embora estes estudiosos tenham concepções diferentes de desenvolvimento, cada qual em conformidade com a sua concepção trata da importância do brinquedo no desenvolvimento infantil.
Fröebel foi o primeiro educador que justificou o uso do brincar no processo educativo. Ele tinha uma visão pedagógica do ato de brincar. O brincar, pelo ato de brincar desenvolve os aspectos físico, moral e cognitivo, entre outros, mas o estudioso defende, também, a necessidade da orientação do adulto para que esse desenvolvimento ocorra. Como metodologia, primeiramente, buscamos suporte teórico para, em seguida, observar e aplicar algumas atividades lúdicas com a finalidade de analisar na prática o desempenho dos educandos. Ressaltamos, ainda, que na brincadeira as crianças aprendem a refletir e experimentam situações novas ou mesmo do seu cotidiano, e a ação de brincar está ligada ao preenchimento das necessidades da criança e nestas está incluso tudo aquilo que é motivo para ação. É muito importante procurar entender as necessidades da criança, bem como os incentivos que a colocam em ação para, então, entendermos a lógica de seu desenvolvimento. 
Ao lidar com os objetos existentes na brincadeira e nos jogos a criança pode lidar com o significado das palavras por meio do próprio objeto concreto, e por esta ação de brincar a criança embora não possua linguagem gramatical, consegue internalizar a definição funcional de objetos, e a criança passa a relacionar as palavras com algo concreto. O ato de brincar estimula o uso da memória que ao entrar em ação se amplia e organiza o material a ser lembrado, tudo isto está relacionado com aparecimento gradativos dos processos da linguagem que ao reorganizarem a vivência emocional e eleva a criança a um novo nível de processos psíquicos. Conclui-se então que a ação de brincar (o lúdico) é um fator importante para o desenvolvimento humano, sendo que ele a partir da situação imaginária introduz gradativamente entre outras coisas a criança a um mundo social, cheio de regras. Portanto, surgem transformações internas no desenvolvimento da criança em conseqüência do brinquedo, cujo fundamento é a criação de uma nova relação entre o campo do significado e o campo da percepção visual, ou seja, entre as situações do pensamento e as reais.
O desenhar e brincar deveriam ser estágios preparatórios ao desenvolvimento da linguagem escrita das crianças. Os educadores devem organizar todas essas ações e todo o complexo processo de transição de um tipo de linguagem escrita para outro. Devem acompanhar esse processo através de seus momentos críticos até o ponto da descoberta de que se pode desenhar não somente objetos, mas também a fala. Se quiséssemos resumir todas essas demandas práticas e expressá-las de uma forma unificada, poderíamos dizer o que se deve fazer é, ensinar às crianças a linguagem escrita e não apenas a escrita de letras assim como Vygotsky (1987), em sua psicologia de aprendizagem.
Os benefícios e os estágios do lúdico para o desenvolvimento infantil, as brincadeiras, para a criança, constituem atividades primárias que trazem grandes benefícios do ponto de vista físico, intelectual e social. Como benefício físico, o lúdico satisfaz as necessidades de crescimento e de competitividade da criança. Os jogos lúdicos devem ser a base fundamental dos exercícios físicos impostos às crianças pelo menos durante o período escolar. Como benefício intelectual, o brinquedo contribui para desinibir, produzindo uma excitação mental e altamente fortificante. Illich (1976), afirma que os jogos podem ser a única maneira de penetrar os sistemas informais. Suas palavras confirmam o que muitas professoras de primeira série comprovam diariamente, ou seja, a criança só se mostra por inteira através das brincadeiras. Como benefício social, a criança, através do lúdico representa situações que simbolizam uma realidade que ainda não pode alcançar; através dos jogos simbólicos se explica o real e o eu.
A brincadeira não é uma atividade inata, mas sim uma atividade social e humana e que supõe contextos sociais, a partir dos quais as crianças recriam a realidade através da utilização de sistemas simbólicos próprios. É uma atividade social aprendida através das interações humanas. É o adulto ou as crianças mais velhas que ensinam o bebê a brincar, interagindo e atribuindo significado aos objetos e às ações, introduzindo a criança no mundo da brincadeira, nessa perspectiva, os educadores e auxiliares cumprem um papel fundamental nas instituições quando interagem com as crianças através de ações lúdicas ou se comunicam através de uma linguagem simbólica, estando disponíveis para brincar.
Além das interações, a oferta o uso e exploração dos brinquedos também contribuem nessa aprendizagem da brincadeira, deve-se considerar o brinquedo como um elemento da brincadeira, pois contribui para a atribuição de significados. Tem um importante valor simbólico e expressivo. O brinquedo é um importante abjeto cultural produzido pelos adultos para as crianças e que ganha ou produz significados no processo da brincadeira, pela imagem que a realidade representa e transmite.
A brincadeira como atividade social específica é vivida pelas crianças tendo por base um sistema de comunicação e interpretação do real, que vai sendo negociado pelo grupo de crianças que estão brincando. Mesmo sendo uma situação imaginária, a brincadeira não pode dissociar suas regras da realidade. As unidades fundamentais da brincadeira, que permite que ela aconteça, é o papel assumido pelas crianças. O papel revela sua natureza social, bem como possibilita o desenvolvimento das regras e da imaginação.
A relação entre a imaginação e os papéis assumidos são muito importantes para o ato de brincar, pois ao mesmo tempo em que a criança é livre na sua imaginação, ela tem que obedecer às regras sociais do papel assumido. A brincadeira é então, uma atividade sócio-cultural, pois ela se origina nos valores e hábitos de um determinado grupo social, onde as crianças têm a liberdade de escolher com o quê e como elas querem brincar. Para brincar as crianças utilizam-se da imitação de situações conhecidas, de processos imaginativos e da estruturação de regras. Por exemplo, brincar de boneca representa uma situação que ainda vai viver desenvolvendo um instinto natural. Como benefício didático, as brincadeiras transformam conteúdos maçantes em atividades interessantes, revelando certas facilidades através da aplicação do lúdico. Outra questão importante é a disciplinar, quando há interesse pelo que está sendo apresentado e faz com que automaticamente a disciplina aconteça.
Concluindo, os benefícios didáticos do lúdico são procedimentos didáticos altamente importantes; mais que um passatempo; é o meio indispensável para promover a aprendizagem disciplinar, o trabalho do aluno e incutir-lhe comportamentos básicos, necessários à formação de sua personalidade. Estudar as relações entre as atividades lúdicas e o desenvolvimento humano é uma tarefa complexa, e para facilitar o estudo classificou-se o desenvolvimento em três fases distintas: aspectos psicomotores, aspectos cognitivos e aspectos afetivo-sociais. Nos aspectos psicomotores encontram-se várias habilidades musculares e motoras, de manipulação de objetos, escrita e aspectos sensoriais. Os aspectos cognitivos dependem, como os demais, de aprendizagem e maturação que podem variar desde simples lembranças de aprendido até mesmo formular e combinar idéias, propor soluções e delimitar problemas. Já os aspectos afetivo-sociais incluem sentimentos e emoções, atitudes de aceitação e rejeição de aproximação ou de afastamento.
O fato é que esses três aspectos interdependem uns do outros, ou seja, a criança necessita dos três para tornar-se um indivíduo completo. Ainda com respeito às categorias psicomotoras, cognitivas e afetivas, assim como a seriação dos brinquedos, deve-se levar em conta cinco pontos básicos: integração entre o jogo e o jogador, deixando-o aberto para o mundo para transformá-lo à sua maneira; o próprio corpo humano é o primeiro jogo das crianças; nos jogo de imitação, a imagem ou modelo a ser seguido é importante; os jogos de aquisição começam desde cedo e para cada idade existem alguns mais apropriados; os jogos de fabricação ajudam na criatividade, no sentimento de segurança e poder sobre o meio. Quando toda a criança, indiscriminadamente, puder brincar em espaços alternativos, com equipamentos diversificados, jogar com outras crianças de várias faixas etárias, descobrir o novo, manipular e construir brinquedos, desafiar seus limites, criar regras, ser intuitiva e espontânea - transformando-se em bruxa, super homem, batman, rainha... - estaremos atingindo o principal objetivo que é o de fazer com que ela incorpore a sua essência e constitua-se num indivíduo mais plenos e felizes, aptos a enfrentar os desafios da vida.
Por meio destes conceitos apresentados, podemos concluir a eficácia da utilização lúdica no sistema ensino/ aprendizagem, com a utilização de jogos, brinquedos, piadas, músicas, poesias, paródias, e etc, como seguidor do pensamento de Rubem Alves, devemos ensinar e aprender de forma que tenhamos prazer.
Como futuros educadores somos os condutores do processo, atuando na zona de desenvolvimento proximal. Sua intervenção é direta, pois deve ajudar a criança a avançar, os educandos acham muitas coisas, mas não podem ficar no achismo, o professor sabe mais e deve sistematizar os conhecimentos, nossa postura profissional deve estar inclinada ao processo lúdico de ensino/ aprendizagem, acompanhando o próprio processo da corrente escolanovista, nos posicionar de forma que sejamos facilitadores do conhecimento, utilizando forma não-tradicionalista o ensino, como exemplo em uma aula de matemática para o ensino infantil, utilizar receitas de doces e preparar em sala de aula com os educandos, e o que estes necessitam saber de matemática para realizar a tarefa, assim introduzindo os valores e conceitos específicos da matéria. Enquanto o uso de termos culinários como xícaras, copos, colheres, medidas de equivalência quantitativa, transformaram em unidades de medidas, quilos (kg), gramas (g), miligramas (mg), litro (l), mililitros (ml), e etc, podendo ser depois da tarefa realizada, e saboreado o doce, proposto trabalho em grupos.
O sistema ludopedagógico pode ser utilizado em qualquer nível de instrução, provocando um melhor aproveitamento do ensino oferecido, e, as aulas tachadas de maçantes, como quem nunca bocejou na aula de matemática, física, geografia entre outras que chateavam e chateiam ainda? Estamos em pleno século XXI, e estamos em um ensino tradicionalista, metódico, onde recebemos informações sistematizadas, deixando o professor e o aluno muito distantes, o professor tradicionalista, considerado chato, e na escola a única coisa boa é o intervalo, a brincadeira, os joguinhos, as paródias, as piadas, como mudar esse quadro, e diminuir o índice de reprovação e evasão escolar? Seria possível aprender brincando? Pare e observe uma criança ou um jovem em nível escolar, por que eles aprendem mais rápidos? Segundo Froebel, as músicas e os jogos educativos, fora às paródias feitas pelas crianças nos intervalos, estimulam o aprendizado, esse método é conhecido como ludopedagogia, aonde o ensino vem carregado de criatividade, dinâmicas, jogos e brinquedos para proporcionar emoção e entusiasmo no aluno, sem uma pressão estressante e traumática, aprendendo, de forma construtiva, enriquecendo o saber, ensinando a ter criatividade e espontaneidade no mundo qual o rodeia e o cobra hora após hora.
A ludopedagogia nos oferece a magia de ensinar, aprender brincando, diferente das aulas perturbadoras afastam o aluno do conhecimento, e, como em muitos casos, o abandono escolar, por meio da ludopedagogia podemos oferecer ao aluno uma proximidade da realidade qual esta inserida, assim como realizado em experiências escolares quais receberam premiações do Ministério da Educação, com o Prêmio Professor do Brasil, demonstram o aumento na freqüência escolar, a diminuição da violência dentro da escola, socialização e integração de todos os alunos no grupo, a auto-estima elevada e o respeito com as diferenças, transformando o aluno, o professor, a escola, a família e a sociedade. Oferecendo uma oportunidade de deixar de copiar idéias, mas, ser criador delas.
Todos devem aprender de forma que seja prazeroso, que não sejam reprimidos, ou estancados no processo ensino/ aprendizagem, não precisamos encarar a ludopedagogia como uma arte de brincar, limitados entre brincadeiras e brinquedos, mas, em uma arte de ensinar, diferenciando do tradicionalista das aulas expositivas, monótonas e improdutivas. O aluno deve ser estimulado com a criatividade do educador assumindo sua natureza de mediador do conhecimento, oferecendo pontes novas a seu educando.


REFERÊNCIA:

JESUS, Cláudia Beatriz Souza de. Prêmio Professor do Brasil 2005, Prática leitora através do brinquedo, p. 86-89 in: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica Brasília, 2006.

KISHIMOTO, Tiziko Morchida et al. O brincar e suas teorias. São Paulo: Pioneira Thomson Learnirng, 2002.

Roberson Aparecido de Oliveira Carneiro

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