sexta-feira, 18 de julho de 2014

Dificuldades de Aprendizagem: Conceitos e Abordagens

Este texto trata do tema dificuldades de aprendizagem, colocando em foco o papel do professor enquanto o profissional responsável pela educação formal do aluno X o aluno no papel de aprendiz.
  • Toda vez que um aluno apresenta baixo rendimento escolar a culpa é dele ou do professor? Eis a questão: Será uma dificuldade de aprendizagem ou dificuldade de ensinagem!
Devemos levantar várias hipóteses quando o tema é a dificuldade em aprender. Pois muitos são os casos em que o aluno não aprende por causa do professor. Sendo assim, vou comentar sobre os dois temas.


Dificuldade de Ensinagem

Mui/tos são aqueles que escolhem a profissão por amor, dinheiro ou oportunidade, muitas vezes alcançada em um concurso público. De fato aquele que escolhe por amor, tem tudo para ser um excelente profissional, seja em qual área for. Enquanto aquele, que escolhe por dinheiro, poderá muitas vezes se perder, não encontrar identificação e dái desencadear uma dificuldade em transmitir o que sabe. Como ocorre naquela famosa frase dita por alguns alunos: Sinto que meu professor(a) sabe muito sobre determinado assunto, mas não sabe explicar! Quem nunca ouviu essa frase? Aqueles que veem no concurso público a oportunidade de ter um emprego estável, ótimo pensar assim. Mas se ainda não tiver amor e desejo pela profissão dificilmente obterá com êxito o sucesso escolar. Além disso, podemos dizer que tal dificuldade ocorre por outros motivos: falta de qualificação profissional, falta de atualização, desmotivação, desinteresse pela profissão. Sendo esses motivos, muitas vezes ocasionados pela desvalorização que infelizmente a educação apresenta. De fato, quando a dificuldade de aprendizagem ocasionada ao aluno tem como ensinante o causador, devemos sinalizar o alerta. E provavelmente, não só um aluno será prejudicado e sim vários.

 
Dificuldades de Aprendizagem: 
Após descartar a dificuldade de aprendizagem pela dificuldade de ensinar do professor, buscamos outras causas.Essas poderão ser de origem: cognitiva, emocional e orgânico. E é importante que sejam descobertas a fim de auxiliar o desenvolvimento do processo educativo, percebendo se estão associadas à preguiça, cansaço, sono, tristeza, agitação, desordem, dentre outros, considerados fatores que também desmotivam o aprendizado.
  1. Origem orgânica, pode ser bastante definidas e claras, levando- nos a supor que a área emocional e o ambiente familiar tiveram pouca ou nenhuma participação no seu aparecimento e determinação.  Seria o caso dos distúrbios de ordem neurológica ou metabólica, que implicam numa perda da capacidade de aprendizagem.
  2. Origem emocional, quando a dificuldade ocorre por causa do fator emocional, é preciso detectar o que pode ser a causa dessa dificuldade. Uma separação dos pais, mudança de escola, mudança de residência, entre outros. Será preciso trabalhar essa causa, para então a criança apresentar o sucesso escolar.
  3. Origem cognitiva, a criança nasce com distúrbio ou transtorno que dificultará o seu processo de aprendizagem. Entre eles mais comum são: Dislexia, Discalculia, Disortografia, TDAH, Disgrafia, Dislalia.


Principais Distúrbio e Transtorno que dificultam o processo de aprendizagem:

Dislexia: É um distúrbio específico de origem constitucional caracterizado por uma dificuldade na decodificação de palavras simples que, como regra, mostra uma insuficiência no processamento fonológico. Se manifesta por várias dificuldades em diferentes formas de linguagem freqüentemente incluindo, além das dificuldades com leitura, uma dificuldade de escrita e de soletração. Existe várias classificações para dislexia: dislexia adquirida, dislexia de desenvolvimento, dislexia central ,  dislexia periférica,  dislexia profunda, dislexia de superfície.

Discalculia: É um problema causado por má formação neurológica que se manifesta como uma dificuldade no aprendizado dos números. Essa dificuldade de aprendizagem não é causada por deficiência mental, má escolarização, déficits visuais ou auditivos, e não tem nenhuma ligação com níveis de QI e inteligência. Crianças portadoras de discalculia são incapazes de identificar sinais matemáticos, montar operações, classificar números, entender princípios de medida, seguir sequências, compreender conceitos matemáticos, relacionar o valor de moedas entre outros. Existe seis tipos de discalculia: a discalculia léxica, discalculia verbal, discalculia gráfica, discalculia operacional, discalculia practognóstica e discalculia ideognóstica.



Disortografia: A característica principal de um sujeito com disortografia são as confusões de letras, sílabas de palavras, e trocas ortográficas já conhecidas e trabalhadas pelo professor. Exº.:Troca de letras que se parecem sonoramente: faca/vaca, chinelo/jinelo, porta/borta; Confusão de sílabas como: encontraram/encontrarão; Adições: ventitilador; Omissões: cadeira/cadera, prato/pato; Fragmentações: en saiar, a noitecer;  Inversões: pipoca/picoca; Junções: No diaseguinte, sairei maistarde.


TDAH: Ocorre devido à uma diminuição dos neurotransmissores, dopamina e noradrenalina (substâncias químicas do cérebro que transmitem informações entre as células nervosas), fazendo com que a atividade do córtex pré-frontal seja menor. É uma disfunção neurobiológica. Essa região é a parte mais evoluída do cérebro e supervisiona as funções executivas: observa, guia, direciona e/ou inibe o comportamento, organiza,
planeja, e faz a manutenção da atenção e do auto-controle. Essa disfunção é crônica, herdada na grande maioria das vezes, daí sua presença desde a infância. Em menor grau há fatores do meio ambiente que podem estar relacionados ao TDAH (DDA):A nicotina de cigarros fumados pela mãe gestante bem como bebidas alcoólicas consumidas, podem ser causas significativas de anormalidades no desenvolvimento da região frontal do cérebro da criança em gestação. Crianças expostas ao chumbo entre 12 e 36 meses de idade pode ser outro fator.Traumatismos neonatais como hipoxia (privação de oxigênio), traumas obstétricos, rubéola intra-uterino, encefalite, meningite pós-natal, subnutrição e traumatismo craniano são fatores que também podem contribuir para o surgimento do distúrbio. Os principais sintomas são: falta de atenção, impulsividade e hiperatividade ou uma “energia nervosa”. Tipos de TDAH: desatento;  hiperativo/impulsivo e combinado.




Disgrafia: É o transtorno da escrita, de origens funcionais. Disgrafia surge nas crianças com adequado desenvolvimento emocional e afetivo, onde não existem problemas de lesão cerebral, alterações sensoriais ou história de ensino deficiente do grafismo da escrita. Existe dois tipos: como disgrafia do tipo maturativa, desenvolvida a partir de fatores próprios do desenvolvimento do indivíduo e disgrafia “provocada”, de causa pedagógica, cujo substrato é o ensino inadequado da escrita. Ambos, neste caso, reportam-se tanto ao excesso de exigência quanto à deficiente orientação no processo de aquisição do grafismo da escrita.


Dislalia: A dislalia é um distúrbio que acomete a fala, caracterizado pela dificuldade em articular as palavras. A pessoa portadora de dislalia, troca as palavras por outras similares na pronuncia, fala erroneamente as palavras, omitindo ou trocando as letras. Resumidamente, as manifestações clínicas da dislalia consistem em omissão, substituição ou deformação dos fonemas.
O caso clássico desse distúrbio é o Cebolinha, personagem da Turma da Mônica.O tratamento da dislalia é feita com o auxilio de um fonoaudiólogo e varia de acordo com a necessidade de cada criança.



        Ao apresentar dificuldades de aprendizagem, muitas vezes o aluno, ao perceber passa a demonstrar desinteresse, desatenção, agressividade, desmotivação...etc. Tais dificuldades acarretam sofrimentos e a verdade é que nenhum aluno apresenta baixo rendimento por vontade própria.

       É preciso também considerar os efeitos emocionais que essas dificuldades acarretam,  agravando o problema. Se seu rendimento escolar for sofrível,  a criança talvez seja vista como um fracasso pelos professores ou colegas,  e até pela própria família. 
      Infelizmente, muitas dessas crianças desenvolvem uma autoestima negativa, que agrava em muito a situação, e, que poderia ser evitada, com o auxílio da família e de uma escola adequada.  É essencial que as crianças recebam apoio dos pais, pois quando sabem que têm pais que dão suporte emocional, a criança desenvolve uma base sólida e um senso de competência que a leva a um autoestima satisfatória.
     Ao ser concebida, a criança já é depositária de uma série de expectativas tanto do casal, quanto das famílias de origem dos pais.  "Quando um indivíduo nasce,  ele não vem ao mundo como uma tela em branco,  mas sim,  inserido numa história familiar que compreende várias gerações e recebe uma série de missões e projeções dos pais,  avós e família extensiva"(Bowen, in Groisman, 1996).(pag. 29)



     Os primeiros ensinantes são os pais, com eles aprendem-se as primeiras interações e ao longo do desenvolvimento, aperfeiçoa. Estas relações, já estão constituídas na criança, ao chegar à escola, que influenciará consideravelmente no poder de produção deste sujeito. É preciso uma dinâmica familiar saudável, uma relação positiva de cooperação, de alegria e motivação.Torna-se necessário orientar aluno, família e professor, para que juntos, possam buscar orientações para lidar com alunos/filhos, que apresentam dificuldades e/ou que fogem ao padrão, buscando a intervenção de um profissional especializado. O Psicopedagogo é um dos profissionais recomendados para procurar diante uma dificuldade de aprendizagem. Em alguns casos, deverá ser solicitada ajuda a mais de um profissional, temos assim a equipe multidisciplinar, esta poderá ser composta por: Neurologista ou Neuropediatra, Psicólogo, Fonoaudiólogo, Psicopedagogo.

Dicas para os pais:
Estabelecer uma relação de confiança e colaboração com a escola;
Escute mais e fale menos;
Informe aos professores sobre os progressos feitos em casa em áreas de interesse mútuo;
Estabelecer horários para estudar e realizar as tarefas de casa;
Sirva de exemplo, mostre seu interesse e entusiasmo pelos estudos;
Desenvolver estratégias de modelação, por exemplo, existe um problema para ser solucionado, pense em voz alta;
Aprenda com eles ao invés de só querer ensinar;
Valorize sempre o que o seu filho faz, mesmo que não tenha feito o que você pediu;
Disponibilizar materiais para auxiliar na aprendizagem;
É preciso conversar, informar e discutir com o seu filho sobre quaisquer observações e comentários emitidos sobre ele.

Cada pessoa é uma. Uma vida é uma história de vida. É preciso saber o aluno que se tem, como ele aprende. Se ele construiu uma coisa, não pode-se destruí-la. O psicopedagogo ajuda a promover mudanças, intervindo diante das dificuldades que a escola nos coloca, trabalhando com os equilíbrios/desequilíbrios e resgatando o desejo de aprender.

Por Karla Carvalho - Pedagoga e Psicopedaga.Próibida a reprodução deste artigo sem prévia autorização do próprietário da autora. Sob pena da Lei 9610/19-02-1989 .

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