sábado, 27 de setembro de 2014

Como saber se seu aluno entendeu o que leu?

Ao fazer a avaliação da leitura no dia-a-dia, você consegue ensinar a turma a compreender realmente o texto, e não apenas a reproduzir o que está escrito
Na alfabetização, a avaliação é constante: os alunos da professora Ângela, do Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro, comentam em classe o que leram em casa
Você sabe o quanto ler bem pode facilitar o desempenho escolar e a vida dos estudantes. Mas já se perguntou se cada uma das crianças e adolescentes de sua turma está realmente desenvolvendo a capacidade de ler, compreender e interpretar os textos? Há meios eficientes de verificar se as metodologias de ensino adotadas em sala de aula estão dando certo. "Meus alunos de alfabetização aprenderam a ler, conseguem selecionar textos e, com base neles, produzir seus próprios escritos", afirma a professora Ângela Vidal Gonçalves, do Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro. Os progressos alcançados pela turma dela durante este ano letivo são efeito de um trabalho criterioso e de avaliação constante.
Em qualquer série do Ensino Fundamental, a busca de resultados concretos pode levar à tentação de treinar com os estudantes, separadamente, habilidades como reproduzir informações ou estabelecer relações de causa e conseqüência entre as partes de um texto. Essa não é a estratégia mais adequada para a consultora em Língua Portuguesa Maria José Nóbrega, de São Paulo. "Não há por que treinar uma a uma as habilidades se a leitura é, por natureza, uma prática articulada", afirma. Existem outros caminhos para capacitar e avaliar a turma.

Leitura em três níveis

Antes de ler o texto, diz a consultora, um primeiro passo é verificar o que os estudantes sabem ou têm curiosidade de conhecer sobre o assunto. Depois, examinar com eles o texto no conjunto e dar informações adicionais.

A leitura é mais do que "ler nas linhas" — identificar as informações apresentadas e reproduzi-las. Isso a maioria dos estudantes faz. Para que dêem um passo à frente, as novas informações precisam ser integradas ao que já sabem.

Convém sempre ir chamando a atenção para a idéia principal do texto e seus desdobramentos. Isso encoraja todos a "ler nas entrelinhas", ou seja, deduzir o sentido de expressões desconhecidas e ligar as várias partes do texto.
A compreensão deve ser o foco principal do professor. Se o texto for informativo, você pode levar os alunos a relacionar o novo assunto com os conhecimentos que já têm ou perguntar como a nova informação pode ser aplicada em outros contextos. A elaboração de esquemas e o fichamento ajudam a visualizar as relações entre as informações. No caso de um texto literário, é importante mostrar aos alunos os recursos expressivos empregados pelo autor.
Leitores críticos precisam também ler "por trás das linhas" — avaliar o que foi lido por meio de comentários orais ou escritos. Você deve incentivar o grupo a verificar se as informações são confiáveis, consultar outras fontes, identificar a posição do autor e dar sua opinião sobre as idéias que ele transmite.

Formas de avaliação

Ao longo de todo esse processo, você consegue detectar os sinais dados pela classe e avaliar os resultados da leitura. Maria José recomenda escapar da armadilha das avaliações com questionários que pedem para o leitor "devolver" o que foi lido. "Isso leva a garotada a fazer a cópia do texto", afirma. Melhor é solicitar ao aluno que exponha o tema por escrito com suas próprias palavras.
Você também pode verificar se houve desvio na compreensão do sentido original ao pedir para a criança expor oralmente o que leu. Se a tarefa solicitada turma for a produção do esquema de um texto informativo, é possível verificar, com base na hierarquização das informações, se o leitor compreendeu a estrutura da obra e se empregou corretamente os conceitos. Uma terceira opção é, com base em um esquema montado pelos alunos, pedir que eles desenvolvam um texto e assim verificar se a interpretação está correta.

Ler bem para escrever bem

No Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro, a professora Ângela foi construindo meios de avaliar seus pequenos leitores da classe de alfabetização. Na sala de aula, há um acervo de livros que a turma leva para casa nos fins de semana. Na volta, em uma roda de leitura, todos compartilham as histórias, comentam sobre as ilustrações e avaliam o que cada colega contou. "Assim, verifico se eles compreenderam o que foi lido", diz.
Outra rotina de Ângela é ler histórias de gêneros variados para as crianças e pedir que leiam para os colegas. Antes da apresentação, o aluno leva o livro para casa para treinar a leitura. Em sistema de rodízio, todos também lêem em classe os enunciados de exercícios das diversas disciplinas. Durante as leituras, qualquer dificuldade com o texto pode ser detectada de imediato.
As atividades de redação também são constantes. Foi a turma, por exemplo, que produziu os convites para a inauguração do clube de leitura. Para dar conta da tarefa, todos analisaram convites que trouxeram de casa e discutiram a linguagem e o objetivo de cada um até conseguir redigir o próprio convite. Durante o trabalho, Ângela observava e questionava as crianças para se certificar de que estavam compreendendo o que liam e depois redigiam.
Antes de a turma realizar uma pesquisa, Ângela faz um levantamento sobre o que todos querem saber e onde as informações devem ser procuradas. A garotada assinala as respostas no material pesquisado e depois faz uma síntese escrita do tema. Seja qual for o objetivo da leitura, no final há sempre uma conversa em grupo. "Assim, os resultados das estratégias de ensino podem ser testados na hora." Quando detecta dificuldades nos alunos, Ângela tenta verificar se sua proposta foi adequada ou se é o caso de repensá-la.


Fonte: revistaescola.abril.com.br

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