Ao fazer a avaliação da leitura no dia-a-dia, você
consegue ensinar a turma a compreender realmente o texto, e não apenas a
reproduzir o que está escrito
Na
alfabetização, a avaliação é constante: os alunos da professora Ângela,
do Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro, comentam em classe o que leram
em casa
Você sabe o quanto ler bem pode facilitar o desempenho
escolar e a vida dos estudantes. Mas já se perguntou se cada uma das
crianças e adolescentes de sua turma está realmente desenvolvendo a
capacidade de ler, compreender e interpretar os textos? Há meios
eficientes de verificar se as metodologias de ensino adotadas em sala de
aula estão dando certo. "Meus alunos de alfabetização aprenderam a ler,
conseguem selecionar textos e, com base neles, produzir seus próprios
escritos", afirma a professora Ângela Vidal Gonçalves, do Colégio Pedro
II, no Rio de Janeiro. Os progressos alcançados pela turma dela durante
este ano letivo são efeito de um trabalho criterioso e de avaliação
constante.
Em qualquer série do Ensino Fundamental, a busca de resultados concretos
pode levar à tentação de treinar com os estudantes, separadamente,
habilidades como reproduzir informações ou estabelecer relações de causa
e conseqüência entre as partes de um texto. Essa não é a estratégia
mais adequada para a consultora em Língua Portuguesa Maria José Nóbrega,
de São Paulo. "Não há por que treinar uma a uma as habilidades se a
leitura é, por natureza, uma prática articulada", afirma. Existem outros
caminhos para capacitar e avaliar a turma.
Leitura em três níveis
Antes de ler o texto, diz a consultora, um primeiro passo é verificar o que os estudantes sabem ou têm curiosidade de conhecer sobre o assunto. Depois, examinar com eles o texto no conjunto e dar informações adicionais.
A leitura é mais do que "ler nas linhas" — identificar as informações apresentadas e reproduzi-las. Isso a maioria dos estudantes faz. Para que dêem um passo à frente, as novas informações precisam ser integradas ao que já sabem.
Convém sempre ir chamando a atenção para a idéia principal do texto e
seus desdobramentos. Isso encoraja todos a "ler nas entrelinhas", ou
seja, deduzir o sentido de expressões desconhecidas e ligar as várias
partes do texto.
A compreensão deve ser o foco principal do professor. Se o texto for
informativo, você pode levar os alunos a relacionar o novo assunto com
os conhecimentos que já têm ou perguntar como a nova informação pode ser
aplicada em outros contextos. A elaboração de esquemas e o fichamento
ajudam a visualizar as relações entre as informações. No caso de um
texto literário, é importante mostrar aos alunos os recursos expressivos
empregados pelo autor.
Leitores críticos precisam também ler "por trás das linhas" — avaliar o
que foi lido por meio de comentários orais ou escritos. Você deve
incentivar o grupo a verificar se as informações são confiáveis,
consultar outras fontes, identificar a posição do autor e dar sua
opinião sobre as idéias que ele transmite.
Formas de avaliação
Ao longo de todo esse processo, você
consegue detectar os sinais dados pela classe e avaliar os resultados da
leitura. Maria José recomenda escapar da armadilha das avaliações com
questionários que pedem para o leitor "devolver" o que foi lido. "Isso
leva a garotada a fazer a cópia do texto", afirma. Melhor é solicitar ao
aluno que exponha o tema por escrito com suas próprias palavras.
Você também pode verificar se houve desvio na compreensão do sentido
original ao pedir para a criança expor oralmente o que leu. Se a tarefa
solicitada turma for a produção do esquema de um texto informativo, é
possível verificar, com base na hierarquização das informações, se o
leitor compreendeu a estrutura da obra e se empregou corretamente os
conceitos. Uma terceira opção é, com base em um esquema montado pelos
alunos, pedir que eles desenvolvam um texto e assim verificar se a
interpretação está correta.
Ler bem para escrever bem
No Colégio Pedro II, no Rio de
Janeiro, a professora Ângela foi construindo meios de avaliar seus
pequenos leitores da classe de alfabetização. Na sala de aula, há um
acervo de livros que a turma leva para casa nos fins de semana. Na
volta, em uma roda de leitura, todos compartilham as histórias, comentam
sobre as ilustrações e avaliam o que cada colega contou. "Assim,
verifico se eles compreenderam o que foi lido", diz.
Outra rotina de Ângela é ler histórias de gêneros variados para as
crianças e pedir que leiam para os colegas. Antes da apresentação, o
aluno leva o livro para casa para treinar a leitura. Em sistema de
rodízio, todos também lêem em classe os enunciados de exercícios das
diversas disciplinas. Durante as leituras, qualquer dificuldade com o
texto pode ser detectada de imediato.
As atividades de redação também são constantes. Foi a turma, por
exemplo, que produziu os convites para a inauguração do clube de
leitura. Para dar conta da tarefa, todos analisaram convites que
trouxeram de casa e discutiram a linguagem e o objetivo de cada um até
conseguir redigir o próprio convite. Durante o trabalho, Ângela
observava e questionava as crianças para se certificar de que estavam
compreendendo o que liam e depois redigiam.
Antes de a turma realizar uma pesquisa, Ângela faz um levantamento sobre
o que todos querem saber e onde as informações devem ser procuradas. A
garotada assinala as respostas no material pesquisado e depois faz uma
síntese escrita do tema. Seja qual for o objetivo da leitura, no final
há sempre uma conversa em grupo. "Assim, os resultados das estratégias
de ensino podem ser testados na hora." Quando detecta dificuldades nos
alunos, Ângela tenta verificar se sua proposta foi adequada ou se é o
caso de repensá-la.
Fonte: revistaescola.abril.com.br
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