Transtorno afetivo bipolar é um distúrbio psiquiátrico complexo. Sua
característica mais marcante é a alternância, às vezes súbita, de
episódios de depressão com os de euforia (mania e hipomania) e de
períodos assintomáticos entre eles. As crises podem variar de
intensidade (leve, moderada e grave), frequência e duração.
As flutuações de humor têm reflexos negativos sobre o comportamento e
atitudes dos pacientes, e a reação que provocam é sempre desproporcional
aos fatos que serviram de gatilho ou, até mesmo, independem deles.
Em geral, essa perturbação do humor se manifesta tanto nos homens quanto
nas mulheres, entre os 15 e os 25 anos, mas pode afetar também as
crianças e pessoas mais velhas.
Tipos
De acordo com o DSM.IV e o CID-10, (manuais internacionais de
classificação diagnóstica), o transtorno bipolar pode ser classificado
nos seguintes tipos:
1) Transtorno bipolar Tipo I
O portador do distúrbio apresenta períodos de mania, que duram, no
mínimo, sete dias, e fases de humor deprimido, que se estendem de duas
semanas a vários meses. Tanto na mania quanto na depressão, os sintomas
são intensos e provocam profundas mudanças comportamentais e de conduta,
que podem comprometer não só os relacionamentos familiares, afetivos e
sociais, como também o desempenho profissional, a posição econômica e a
segurança do paciente e das pessoas que com ele convivem. O quadro pode
ser grave a ponto de exigir internação hospitalar por causa do risco
aumentado de suicídios e da incidência de complicações psiquiátricas.
2) Transtorno bipolar Tipo II
Há uma alternância entre os episódios de depressão e os de hipomania
(estado mais leve de euforia, excitação, otimismo e, às vezes, de
agressividade), sem prejuízo maior para o comportamento e as atividades
do portador.
3) Transtorno bipolar não especificado ou misto
Os sintomas sugerem o diagnóstico de transtorno bipolar, mas não são
suficientes nem em número nem no tempo de duração para classificar a
doença em um dos dois tipos anteriores.
4) Transtorno ciclotímico
É o quadro mais leve do transtorno bipolar, marcado por oscilações
crônicas do humor, que podem ocorrer até no mesmo dia. O paciente
alterna sintomas de hipomania e de depressão leve que, muitas vezes, são
entendidos como próprios de um temperamento instável ou irresponsável.
Causas
Ainda não foi determinada a causa efetiva do transtorno bipolar, mas já
se sabe que fatores genéticos, alterações em certas áreas do cérebro e
nos níveis de vários neurotransmissores estão envolvidos.
Da mesma forma, já ficou demonstrado que alguns eventos podem precipitar
a manifestação desse distúrbio do humor nas pessoas geneticamente
predispostas. Entre eles, destacam-se: episódios frequentes de depressão
ou início precoce dessas crises, puerpério, estresse prolongado,
remédios inibidores do apetite (anorexígenos e anfetaminas), e
disfunções da tireoide, como o hipertireoidismo e o hipotireoidismo.
Diagnóstico
O diagnóstico do transtorno bipolar é clinico, baseado no levantamento
da história e no relato dos sintomas pelo próprio paciente ou por um
amigo ou familiar. Em geral, ele leva mais de dez anos para ser
concluído, porque os sinais podem ser confundidos com os de doenças como
esquizofrenia, depressão maior, síndrome do pânico, distúrbios da
ansiedade. Daí a importância de estabelecer o diagnóstico diferencial
antes de propor qualquer medida terapêutica.
Sintomas
Depressão:
humor deprimido, tristeza profunda, apatia, desinteresse pelas
atividades que antes davam prazer, isolamento social, alterações do sono
e do apetite, redução significativa da libido, dificuldade de
concentração, cansaço, sentimentos recorrentes de inutilidade, culpa
excessiva, frustração e falta de sentido para a vida, esquecimentos,
ideias suicidas.
Mania:
estado de euforia exuberante, com valorização da autoestima e da
autoconfiança, pouca necessidade de sono, agitação psicomotora,
descontrole ao coordenar as ideias, desvio da atenção, compulsão para
falar, aumento da libido, irritabilidade e impaciência crescentes,
comportamento agressivo, mania de grandeza. Nessa fase, o paciente pode
tomar atitudes que reverterão em danos a si próprio e às pessoas
próximas, como demissão do emprego, gastos descontrolados de dinheiro,
envolvimentos afetivos apressados, atividade sexual aumentada e, em
casos mais graves, delírios e alucinações.
Hipomania:
os sintomas são semelhantes aos da mania, porém bem mais leves e com
menor repercussão sobre as atividades e relacionamentos do paciente, que
se mostra mais eufórico, mais falante, sociável e ativo do que o
habitual. Em geral, a crise é breve, dura apenas uns poucos dias. Para
efeito de diagnóstico, é preciso assegurar que a reação não foi induzida
pelo uso de antidepressivos.
Tratamento
Transtorno
bipolar não tem cura, mas pode ser controlado. O tratamento inclui o
uso de medicamentos, psicoterapia e mudanças no estilo de vida, tais
como o fim do consumo de substâncias psicoativas, (cafeína, anfetaminas,
álcool e cocaína, por exemplo), o desenvolvimento de hábitos saudáveis
de alimentação e sono e redução dos níveis de estresse.
De acordo com o tipo, gravidade e evolução da doença, a prescrição de
medicamentos neurolépticos, antipsicóticos, anticonvulsivantes,
ansiolíticos e estabilizadores de humor, especialmente o carbonato de
lítio, tem-se mostrado útil para reverter os quadros agudos de euforia e
evitar a recorrência das crises. A associação de lítio com
antidepressivos e anticonvulsivantes tem demonstrado maior eficácia para
prevenir recaídas. No entanto, os antidepressivos devem ser utilizados
com cuidado, porque podem provocar uma guinada rápida da depressão para a
euforia, ou acelerar a incidência das crises.
A psicoterapia é outro recurso importante no tratamento da bipolaridade,
uma vez que oferece suporte para o paciente superar as
dificuldades impostos pelas características da doença, ajuda a prevenir a
recorrência das crises e, especialmente, promove a adesão ao tratamento
medicamentoso que, como ocorre na maioria das doenças crônicas, deve
ser mantido por toda a vida.
Recomendações
Portadores de transtorno bipolar e seus familiares precisamestar cientes de que:
* seguir o tratamento à risca é a melhor forma de prevenir a
instabilidade emocional e a recorrência das crises, o que assegura a
possibilidade de levar vida praticamente normal;
* os remédios podem não fazer o efeito desejado logo nas primeiras doses
que, muitas vezes, precisam ser ajustadas ao longo do tratamento;
* crises depressivas prolongadas sem tratamento adequado podem aumentar em 15% o risco de suicídio nos pacientes bipolares;
* o paciente pode procurar alívio para os sintomas no álcool e em outras drogas, solução que só ajuda a agravar o quadro;
* alternar a fase de depressão com a de mania pode dar a falsa sensação
de que a pessoa está curada e não precisa mais de tratamento;
* a família pode precisar também de acompanhamento psicoterápico, por
duas diferentes razões: primeira, porque o distúrbio pode afetar todos
que convivem diretamente com o paciente; segunda, porque precisa ser
orientada sobre como lidar no dia a dia com os portadores do transtorno.
Nenhum comentário:
Postar um comentário