- Para a criança cada dia é diferente do outro. Ou seja, o dia anterior foi o dia anterior e não faz mais parte do seu passado, inclusive os problemas. O novo dia é tudo o que lhe importa, é só o que existe. Aqui ela começa tudo de novo, mas, sem esquecer dos erros, ou daquilo que já aprendeu.
- Do dia anterior a única coisa que ela traz é o que aprendeu e mesmo assim não sabe disso. Quer dizer, ela não sabe que aprendeu antes como enfrentar uma situação nova, do novo dia que surge à sua frente. Ela apenas enfrenta a nova situação, como se realmente fosse nova, e dedica a ela toda sua energia e experiência acumulada.
- Os erros que ela cometeu no dia anterior, ela não lembra mais. Mas agora ela já sabe o que é errado, só não lembra onde aprendeu isso. Se lembra, não dá importância. O importante é que ela já sabe como não deve fazer uma coisa que fez errado antes.
- No processo da descoberta de como resolver uma coisa, há uma imersão total. Toda sua atenção tem apenas um foco, e esta é a solução daquele problema. Ela não consegue deixar para resolver depois, precisa dar uma resposta imediata à aquele contratempo.
- Mas ela não se apega ao problema. Ao invés disso, examina a questão e, caso não encontre a solução de imediato, vai fazer outra coisa. E eis seu grande segredo. Volta depois ao problema, mas, vai examiná-lo de uma forma sempre nova, como se fosse novo, mas, sem esquecer o que já aprendeu com ele.
- E eis que surge, dentro de sua simplicidade, a solução que julga mais adequada, e esta inclui, simplesmente, o descarte daquela questão. Não porque desistiu, mas, antes disso, porque não considera mais aquilo como um problema. Daí pra frente vai usá-lo, mas não como tal, e sim como referência. Feito isso, aquilo deixou de ser um problema e passa a servir de gabarito quando encontrar situações que poderiam resultar em coisas semelhantes.
- Na busca por uma solução, como ela não tem conhecimentos sofisticados e a capacidade para complicar as coisas, suas soluções são as mais simples e diretas possíveis.
- Ela costuma, baseada num problema encontrado, brincar com aquilo durante sua busca por uma solução.
- Então, problema para uma criança, na maioria das vezes, não constitui de fato um "problema", mas uma necessidade básica de aprendizado e motivação.
- Ambientes que não ofereçam desafios e problemas, não tem a menor graça para elas. Ou seja, problema para elas é quase como se fosse diversão pura, uma oportunidade sem igual para aprender. Tanto que, muitas vezes, ela, mesmo depois de descobrir uma solução, retorna à questão para solucioná-la de outra forma.
- No processo de busca por uma solução, ela desiste milhares de vezes, tenta milhares de vezes, mas esquecer de verdade, isso nunca ocorre. Lembre-se, mesmo quando descarta a coisa, ainda assim, irá usá-la como medida para outras situações, e isso inclui evitar caminhos que a conduziriam à embaraços semelhantes.
- Um novo dia para uma criança, é de fato um novo dia. Esse novo dia não faz parte do dia anterior. É comum as crianças brincarem com seus velhos brinquedos como se tivessem acabado de ganhá-los.
- Um mestre de verdade não espera que as crianças o imitem, mas, ao contrário disso, tudo fará para que elas descubram, sem nenhum tipo de indução, suas próprias preferências.
- Pessimismo para uma criança é ver a mãe ou o pai triste, irmão, amigo ou outra criança doente, ou adultos com problemas, especialmente aqueles que fazem questão de torná-los públicos em sua presença. Otimismo para uma criança é ver um adulto com problemas sorrindo, outra criança doente sorrindo, pessoas da família, tristes, mas sorrindo. No seu mundo, existem apenas dois tipos de problemas, aqueles que devem ser enfrentados não importa a situação daquele momento, e aqueles que devem ser esquecidos se não são importantes naquele momento.
- Uma criança quando fica, ou está doente, não sabe que ficar doente é ruim. Ela sente os efeitos físicos da doença, mas ela planeja seu futuro como se não existisse obstáculo algum à sua frente. Ela planeja seu dia seguinte como se nada estivesse acontecendo. Não desanima em momento algum, sabe na sua simplicidade psicológica que doença e saúde não estão separadas, tudo é uma coisa só. É muito importante notar que ela nunca diz:"Se eu ficar boa...", e sim "Amanhã quando eu melhorar eu vou fazer isso e aquilo...". Também, ela ainda não teve tempo de desenvolver o apego às coisas, assim medo e insegurança não existe em seu mundo simples. Seu mundo se resume a duas coisas; O dia que ela está disposta para brincar e o dia que não está. Desse modo ela não vê doença e saúde como coisas distintas.
- Uma criança tem a capacidade excepcional de guardar para sempre os bons momentos e usá-los como experiência pelo resto de sua vida. Tem também a capacidade de guardar para sempre os maus momentos e usá-los como experiência pelo resto de sua vida. Tem também a capacidade de não Ter saudade ou lembrança mórbida, nem de bons, nem de maus momentos.
- Ela não conta os dias que já viveu ou ainda vai viver. Isso não tem a menor importância. Como ela não baseia sua vida nisso, quer aprender sempre e todos os dias. Ela sequer sabe o que vai fazer com o que aprende ou vai aprender, simplesmente ela quer aprender mais e mais. Se ela vai Ter tempo para usar o que está aprendendo ou vai aprender, isso não faz parte do seu pensamento. Viver para ela é uma coisa muito simples. Ela pensa, amanhã eu faço de novo. Nunca diz, "amanhã eu tento de novo", ou diz, "será que isso vai dar certo amanhã..?". Incerteza para ela é só uma palavra cujo significado desconhece. Fazer, não fazer, tentar e tentar mais, para ela é a mesma coisa.
- O dia para uma criança, não tem o limite de oito ou vinte e quatro horas. Para uma criança o tempo cronológico não existe. Para uma criança o ano todo é igual a um dia. Noite e dia é a mesma coisa. A diferença é que uma parte é clara e tem sol e a outra não. Apenas o tempo psicológico faz parte de sua vida. E tempo psicológico não trabalha dentro dos ponteiros de um relógio. O tempo psicológico é toda sua vida naquele único minuto ou instante.
quarta-feira, 16 de abril de 2014
Reflexões sobre as Crianças
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