Silveira
(2006), em sua dissertação de mestrado intitulada “Inclusão Escolar de
Crianças com Deficiência Múltipla: Concepções de pais e professores” nos
traz importantes reflexões da forma como esta inclusão esta ocorrendo
na rede regular de ensino, vista tanto sob a ótica dos pais, quanto a
dos professores.
Vários
tópicos são abordados descrevendo toda uma pesquisa feita com pais e
professores de indivíduos com múltiplas deficiências. Pela perspectiva
dos pais, existem empecilhos para acreditar que no ensino regular possa
ocorrer a inclusão, muitos apontam apenas para a questão da
socialização, desconsiderando qualquer processo pedagógico efetivo a ser
realizado. A questão da autonomia e limites para estas crianças, de
certa forma, mostra-se muito deficiente, pois para a maioria dos pais,
estes indivíduos são constantes bebês.
Na
questão dos professores em si, percebe-se que muitos, ainda, estão
focados na questão do letramento e aquisições matemáticas, o que
dificulta a questão de perceber as potencialidades dos indivíduos com
múltiplas deficiências.
Entretanto,
se for analisado todo o contexto pedagógico em que os educandos foram
formados, pode-se perceber que os grandes enfoques geralmente são dados
dentro destas perspectivas. Bem como, a própria questão das provas
“Provinha Brasil” e “SAEB”, que são aplicadas pelos órgãos públicos
primam pelos saberes voltados ao letramento e aquisições matemáticas.
Onde ocorre a inclusão nestas provas?
Como
considerações finais no seu artigo, Silveira (2006) elenca alguns
tópicos que necessitam ser enfocados, tais como: - respeitar o indivíduo
com necessidades educacionais especiais como alguém que tem uma
história, concepção, percepção, crença, experiências e trajetórias
especiais; - que pais e professores modifiquem seu discurso e passem a
acreditar no desenvolvimento e na aprendizagem dos deficientes
múltiplos; - formação profissional dos docentes, como preocupação
central; - predisposição para receber o aluno e um espaço de interação
entre todos os envolvidos no ensino aprendizagem dos deficientes
múltiplos.
Diante
de todos estes apontamentos, pensando em todas as dificuldades que
permeiam em se ter um aluno com deficiências múltiplas dentro do ensino
regular, mesmo assim, é possível. No artigo até se fez menção quanto a
questão do stress que esses pais passam, pois dedicam-se várias horas do
seu dia para esses indivíduos; então, que se não for pela questão de
toda a proposta de inclusão, que se faça um bom trabalho pedagógico,
pela própria questão da solidariedade para com estes pais e estes
indivíduos.
A
inclusão é um fato, não é algo que podemos estar tomando partido e
pensando se sou a favor ou contra. Neste momento é um momento de
reorganização, de fazer algo no diferente, pois as crianças já estão em
sala de aula, são vidas humanas que são colocadas diante de nós e
devemos tomar atitudes.
De
uma forma ou de outra temos pensamentos radicais que influenciam nossas
ações e muitas vezes não temos direções certas para onde estamos indo e
perplexos por ter alunos com necessidades educacionais especiais e não
sabermos como conduzi-los. Contudo, acredito que existem dois caminhos: -
primeiro: ficar parados, estáticos, culpando o governo, esperando que
ele tome alguma postura, afinal de contas não foi ele quem inventou a
inclusão? – segundo: ir à busca de novos rumos, paradigmas, de ações
mais eficazes, de pensar que estamos construindo uma nova página da
história e que devemos tomar alguma atitude, se interessar por novos
pensamentos, novas maneiras de perceber a inclusão. Focalizar nossas
ações para o que Silveira (2006) nos alertou: - a formação dos
professores, mas dentro deste tópico acredito que essa formação não deva
somente ser as que têm ocorrido nos últimos tempos, “a formação de
informação[1]”.
O
professor é sempre questionado, é sempre o culpado, se as coisas dão
certo, é o contexto, mas se não dão é o professor. O professor, muitas
vezes, é visto como super-homem, mas na verdade ele é um sujeito. Ele
passa, em média, quatro horas por dia com seus educando e dentro deste
contexto, ele tem propriedade em mudar a ação pedagógica, quando percebe
que as coisas não estão certas. As concepções do professor têm
influência significativa sobre a sua prática pedagógica, são suas
experiências anteriores positivas e negativas, a sua formação que vai
construindo ao longo do caminho as suas concepções e são partes de si
dentro da sala de aula.
Nesse
sentido, percebo que dentro dessa formação do professor, a qual muitos
autores tem se referido, falta o principal, ou seja, perceber o
professor como sujeito e que ele necessita de apoio, não somente
informativo, mas sim de apoio como pessoa. Penso que quando o sujeito
está bem estruturalmente, ele consegue fazer um bom trabalho de
inclusão, por que querendo ou não, as pessoas só são capazes de
transmitir a outros aquilo que elas trazem consigo. Pois, conforme
abordado no artigo, os pais destes indivíduos os percebem como bebês,
então como é que estes pais “vão entregar seus bebês” a um professor que
não consiga transmitir confiança de que fará um bom trabalho. Ou seja,
que se faz necessário os professores melhorarem sua formação, isso nem
se discute, é obvio, mas que também ocorram momentos de atendimento da
figura de professor como sujeito, para que ele dessa forma consiga
realizar um melhor trabalho e fazer crer que não é somente nas escolas
especiais que os alunos com múltiplas deficiências terão um bom
atendimento, mas dentro da rede regular de ensino também.
[1]
Formação de informação, para mim seria aquela onde os professores tem
ido somente para saber tipos de síndrome, características da mesma,
recursos pedagógicos para potencializar as capacidades do indivíduo com
necessidades especiais...
REFERÊNCIAS
SILVEIRA, Flávia Furtado. NEVES, Marisa Maria Brito da Justa Neves. Inclusão Escolar de Crianças com Deficiência múltipla: Concepção de Pais e Professores. Psicologia: Teoria e Pesquisa, Brasília, v.22, n.1, p.79-88, jan-abr. 2006.
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