domingo, 22 de janeiro de 2017

INCLUSÃO ESCOLAR DE CRIANÇAS COM DEFICIÊNCIA MÚLTIPLA: CONCEPÇÕES DE PAIS E PROFESSORES


Silveira (2006), em sua dissertação de mestrado intitulada “Inclusão Escolar de Crianças com Deficiência Múltipla: Concepções de pais e professores” nos traz importantes reflexões da forma como esta inclusão esta ocorrendo na rede regular de ensino, vista tanto sob a ótica dos pais, quanto a dos professores.
Vários tópicos são abordados descrevendo toda uma pesquisa feita com pais e professores de indivíduos com múltiplas deficiências. Pela perspectiva dos pais, existem empecilhos para acreditar que no ensino regular possa ocorrer a inclusão, muitos apontam apenas para a questão da socialização, desconsiderando qualquer processo pedagógico efetivo a ser realizado. A questão da autonomia e limites para estas crianças, de certa forma, mostra-se muito deficiente, pois para a maioria dos pais, estes indivíduos são constantes bebês.
  Na questão dos professores em si, percebe-se que muitos, ainda, estão focados na questão do letramento e aquisições matemáticas, o que dificulta a questão de perceber as potencialidades dos indivíduos com múltiplas deficiências.
Entretanto, se for analisado todo o contexto pedagógico em que os educandos foram formados, pode-se perceber que os grandes enfoques geralmente são dados dentro destas perspectivas. Bem como, a própria questão das provas “Provinha Brasil” e “SAEB”, que são aplicadas pelos órgãos públicos primam pelos saberes voltados ao letramento e aquisições matemáticas. Onde ocorre a inclusão nestas provas?
Como considerações finais no seu artigo, Silveira (2006) elenca alguns tópicos que necessitam ser enfocados, tais como: - respeitar o indivíduo com necessidades educacionais especiais como alguém que tem uma história, concepção, percepção, crença, experiências e trajetórias especiais; - que pais e professores modifiquem seu discurso e passem a acreditar no desenvolvimento e na aprendizagem dos deficientes múltiplos; - formação profissional dos docentes, como preocupação central; - predisposição para receber o aluno e um espaço de interação entre todos os envolvidos no ensino aprendizagem dos deficientes múltiplos.
Diante de todos estes apontamentos, pensando em todas as dificuldades que permeiam em se ter um aluno com deficiências múltiplas dentro do ensino regular, mesmo assim, é possível. No artigo até se fez menção quanto a questão do stress que esses pais passam, pois dedicam-se várias horas do seu dia para esses indivíduos; então, que se não for pela questão de toda a proposta de inclusão, que se faça um bom trabalho pedagógico, pela própria questão da solidariedade para com estes pais e estes indivíduos.
A inclusão é um fato, não é algo que podemos estar tomando partido e pensando se sou a favor ou contra. Neste momento é um momento de reorganização, de fazer algo no diferente, pois as crianças já estão em sala de aula, são vidas humanas que são colocadas diante de nós e devemos tomar atitudes.
 De uma forma ou de outra temos pensamentos radicais que influenciam nossas ações e muitas vezes não temos direções certas para onde estamos indo e perplexos por ter alunos com necessidades educacionais especiais e não sabermos como conduzi-los. Contudo, acredito que existem dois caminhos: - primeiro: ficar parados, estáticos, culpando o governo, esperando que ele tome alguma postura, afinal de contas não foi ele quem inventou a inclusão? – segundo: ir à busca de novos rumos, paradigmas, de ações mais eficazes, de pensar que estamos construindo uma nova página da história e que devemos tomar alguma atitude, se interessar por novos pensamentos, novas maneiras de perceber a inclusão. Focalizar nossas ações para o que Silveira (2006) nos alertou: - a formação dos professores, mas dentro deste tópico acredito que essa formação não deva somente ser as que têm ocorrido nos últimos tempos, “a formação de informação[1]”.
O professor é sempre questionado, é sempre o culpado, se as coisas dão certo, é o contexto, mas se não dão é o professor. O professor, muitas vezes, é visto como super-homem, mas na verdade ele é um sujeito. Ele passa, em média, quatro horas por dia com seus educando e dentro deste contexto, ele tem propriedade em mudar a ação pedagógica, quando percebe que as coisas não estão certas. As concepções do professor têm influência significativa sobre a sua prática pedagógica, são suas experiências anteriores positivas e negativas, a sua formação que vai construindo ao longo do caminho as suas concepções e são partes de si dentro da sala de aula.
Nesse sentido, percebo que dentro dessa formação do professor, a qual muitos autores tem se referido, falta o principal, ou seja, perceber o professor como sujeito e que ele necessita de apoio, não somente informativo, mas sim de apoio como pessoa. Penso que quando o sujeito está bem estruturalmente, ele consegue fazer um bom trabalho de inclusão, por que querendo ou não, as pessoas só são capazes de transmitir a outros aquilo que elas trazem consigo. Pois, conforme abordado no artigo, os pais destes indivíduos os percebem como bebês, então como é que estes pais “vão entregar seus bebês” a um professor que não consiga transmitir confiança de que fará um bom trabalho. Ou seja, que se faz necessário os professores melhorarem sua formação, isso nem se discute, é obvio, mas que também ocorram momentos de atendimento da figura de professor como sujeito, para que ele dessa forma consiga realizar um melhor trabalho e fazer crer que não é somente nas escolas especiais que os alunos com múltiplas deficiências terão um bom atendimento, mas dentro da rede regular de ensino também.


[1] Formação de informação, para mim seria aquela onde os professores tem ido somente para saber tipos de síndrome, características da mesma, recursos pedagógicos para potencializar as capacidades do indivíduo com necessidades especiais...
 
REFERÊNCIAS
SILVEIRA, Flávia Furtado. NEVES, Marisa Maria Brito da Justa Neves. Inclusão Escolar de Crianças com Deficiência múltipla: Concepção de Pais e Professores. Psicologia: Teoria e Pesquisa, Brasília, v.22, n.1, p.79-88, jan-abr. 2006.

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