"Preparação
e parceria com a família são fundamentais para assegurar uma adaptação
tranquila aos bebês que vão à escola pela primeira vez".
Crianças inseguras, pais
angustiados e sofrimento diante da separação iminente. Esse não precisa ser o
retrato do início dos pequenos na creche. É possível diminuir o desconforto e
proporcionar uma adaptação tranquila e saudável para os bebês e sua família. A
fase de acolhimento na Educação Infantil é diferente para cada faixa etária e
requer atenção redobrada com bebês de até 2 anos. Afinal, quase tudo é novidade
para eles: a convivência com outras crianças e adultos (além do círculo mais
próximo), as brincadeiras com a areia...
O primeiro passo é conhecer bem a
criançada. Entender seus costumes e medos ajuda a elaborar o planejamento.
"Quando percebem que o educador sabe coisas que as fazem se sentir bem,
elas ficam mais calmas", diz Rosa Virgínia Pantoni, mestre em Psicologia e
coordenadora de assistência social da Creche Carochinha, ligada à Universidade
de São Paulo (USP)
Bebês de até 10 meses estranham a
escola, o modo como são colocados para dormir e a comida oferecida. É
necessário prestar atenção nos aspectos sensoriais: deixar objetos pessoais,
como mantinhas, chupeta e fronhas, junto ao berço ajuda na adaptação. A
ausência dos pais não incomoda, mas a textura diferente do lençol do berço, a
forma como são colocados para dormir, a temperatura da água do banho,
sim.
Depois de completar 1 ano, a
adaptação muda um pouco. O foco principal agora é fazer com que o bebê se
acostume à ausência dos responsáveis. Por isso, é necessário alternar momentos
em que os familiares estejam próximos e distantes da criança. Nessa idade, ela
já começa a estranhar quem não conhece e estabelece vínculos com alguns
adultos. Faz parte do processo, então, manter os rostos conhecidos ao alcance
da visão do pequeno. A separação é feita aos poucos, intercalando momentos de
aproximação e de ausência, até que o bebê se acostume à rotina na creche.
Outra estratégia para assegurar a
tranquilidade é fazer um espaço para cada criança:
Sequência Didática:
1. Processo de acolhimento dos
bebês (até 2 anos)
Objetivos
- Construir um ambiente de
acolhimento e segurança para os bebês e suas famílias.
- Estabelecer diálogos com eles e
ressignificar os gestos, as ações e os sentimentos por meio da linguagem.
Conteúdos
- Inclusão das famílias no
processo de adaptação.
- Respeito às singularidades de
cada criança.
Idade
Até 2 anos.
Tempo estimado
Duas semanas.
Material necessário
Objetos de apego dos bebês e para
os cantos de atividades diversificadas, uma foto de cada criança e livros de
literatura infantil.
Flexibilização
Bebês com deficiência intelectual
costumam apresentar um desenvolvimento mais lento que os demais. No entanto, no
caso de deficiências menos severas, essas diferenças podem ser pouco notadas
nos primeiros anos de vida. O bebê é capaz de desenvolver sua mobilidade (mesmo
que tenha algumas limitações motoras) e também a capacidade de comunicação,
embora costume apresentar dificuldades de equilíbrio e de orientação espacial.
Certifique-se das limitações desta criança, respeite o ritmo de cada bebê e
conte muito com a ajuda dos pais ou responsáveis para adequar os procedimentos
nas situações de cuidado e de aprendizagem. Repetir atividades e oferecer
objetos que façam parte do dia a dia do bebê são ações fundamentais que ajudam
a criança nesse processo de acolhimento. Organizar um caderno de registros, com
as evoluções e dificuldades de cada bebê em diferentes situações de
aprendizagem também contribui para diagnosticar eventuais dificuldades da criança.
Desenvolvimento
1ª etapa
Leia a anamnese dos bebês ou
entreviste seus familiares. Converse com eles sobre a possibilidade de uma
pessoa próxima à criança acompanhar o período de adaptação e participar de
situações da rotina para compartilhar formas de cuidados com o educador. Não é
preciso que os pais estejam presentes. Outros responsáveis, como avós, tios e
irmãos mais velhos, podem participar dos primeiros dias.
2ª etapa
No primeiro dia, acompanhe os
responsáveis nas situações de cuidado, como banho, alimentação e sono, e
observe procedimentos e formas de interação (a entrega do objeto de apego no
momento de sono, como foi interpretado o choro etc.). Monte alguns cantos (por
exemplo, com jogos de encaixe) e se aproxime dos pequenos. Depois, faça uma
roda com eles e as pessoas de sua referência para despedida e transforme os
gestos e as ações observados em palavras. Converse sobre as brincadeiras, os
interesses e o que foi possível aprender sobre eles: João gosta de bola, Marina
tem um paninho etc. Fale que novas brincadeiras serão feitas no dia seguinte.
No segundo dia, organize outros cantos, com bacias com água, bonecas e livros,
por exemplo. Circule e participe das situações. Oriente as pessoas que
acompanham o processo a ficar no campo de visão do bebê, mas que procurem desta
vez não interagir o tempo todo. No momento de trocar a fralda, a referência
familiar pode ficar ao lado do educador, enquanto ele realiza o procedimento
explicando à criança o que foi que aprendeu sobre ela ("Eu já sei que você
adora segurar seu urso ao ser trocado. Pegue aqui").
3ª etapa
No terceiro dia, brinque e abra
espaço para a expressão de sentimentos e gestos. Procure dar sentido às ações
com base nas experiências que os envolvem ("Seu bebê está com fome, José.
Vamos preparar uma sopa?). As pessoas que acompanham os bebês podem se afastar
do campo de visão deles. A saída deve ser comunicada às crianças. No quarto
dia, mostre cantos variados. À medida que demonstrarem segurança, faça as
despedidas das pessoas que os acompanham. Anuncie onde estarão (quem ainda fica
na creche, quem vai tomar um café ou quem vai embora). Brinque e acolha os
possíveis choros, pegando no colo, oferecendo brinquedos etc. Leia uma
história.
4ª etapa
No quinto dia, componha o ambiente
com os três cantos que mais atraíram no decorrer da semana. Selecione fotos dos
pequenos para a composição de um painel. Nesse dia, apresente cada um, diga o
nome, do que já brincou, se é sapeca, brincalhão etc. Quando os responsáveis
vierem buscá-los, compartilhe esse painel na presença dos bebês e crie um
contexto de conversa que demonstre o pertencimento deles à creche ("Agora
esta sala é da Estela também. Olha onde fica sua foto."). Na segunda
semana, planeje os cantos com base nos interesses das crianças e no que julga
pertinente para ampliar as experiências delas com o mundo -- a repetição de
propostas é importante.
Avaliação
Observe o comportamento dos bebês.
Se possível, empreste um brinquedo às mais resistentes, diga para cuidarem bem
e trazerem de volta à escola.
Consultoria: Clélia Cortez
Formadora do Instituto Avisa Lá,
em São Paulo.
__
Assim, ela entende que
há um lugar coletivo, mas que também existe um cantinho só dela, com seus
objetos de apego ou brinquedos. Isso faz com que se estabeleçam vínculos com o
local. Também é importante definir uma rotina, com horários e regras, para que
os pequenos se sintam amparados.
O choro nos momentos iniciais da
separação é normal e deve passar logo, à medida que a criança percebe que é
acolhida e compreendida. Caso o berreiro persista, isso pode ser sinal de
insegurança. Outras manifestações de desconforto são o sono constante, a apatia
e a recusa em comer. Reuniões e estudos periódicos permitem aprofundar o
conhecimento a respeito do universo infantil e agir nesses casos. "A
insegurança dos responsáveis influencia ansiedade dos pequenos. Por isso, os
profissionais precisam estar preparados", explica Ana.
Cabe ao educador acolher os bebês,
reconhecer seus sentimentos e fortalecê-los emocionalmente. "As ações
devem estar voltadas para a apresentação do novo ambiente de uma forma
delicada", explica Clélia Cortez, formadora do Instituto Avisa Lá, em São
Paulo. "O que está em jogo é o compromisso em transformar os sentimentos
de angústia presentes neste momento em segurança e afeto", completa.
__
Processo de acolhimento das crianças e das famílias (2-3 anos)
Objetivos
-
Envolver as famílias que chegam à escola pela primeira vez num clima de
acolhimento, segurança, cuidado e afeto.
-
Incluir as crianças na construção do espaço e do tempo da escola (rotina)
-
Acolher as singularidades de cada criança e incluí-las no desenvolvimento das
situações planejadas.
-
Mediar as experiências da criança com a cultura
Conteúdos
-
Inclusão das famílias no processo de adaptação
-
Envolvimento das crianças na construção da rotina
-
Respeito e valorização das singularidades das crianças
-
Mediação das experiências da criança com a cultura
Idade
2 e 3
anos (a sequência pode ser adaptada para acolher crianças de até 5 anos)
Tempo
estimado
Duas
semanas
Materiais
necessários
- Objetos
para casinha, bonecas, carrinhos, giz ou fita crepe, massinha, papel para
desenho, fantasias;
- Uma
caixa de papelão;
- Uma
foto de cada criança;
- Fotos
ou desenhos de situações da rotina;
-
Livros de literatura infantil.
Flexibilização
Para
crianças com deficiência física
Para
incluir crianças com deficiência física nos membros inferiores, o primeiro
passo é garantir a acessibilidade dos espaços da creche. Faça um passeio com a
criança pelas salas e áreas externas e apresente-a aos colegas. Deixe que as
crianças interajam e conversem. Caso as crianças tenham dúvidas, como por
exemplo "por que ele não anda?", responda de forma clara. Aproveite a
oportunidade para contar a todos que a limitação motora do colega, de forma
alguma o impede de fazer as atividades propostas, mas que, para algumas ações,
ele pode precisar de ajuda. Explique isso à criança com deficiência física e
mostre que ele pode recorrer a você ou aos colegas sempre que precisar. Conte
com a ajuda da família para compreender melhor as necessidades e hábitos da
criança. Procure manter objetos ao alcance dos pequenos e respeite o tempo de
aprendizagem da criança.
Desenvolvimento
A
adaptação começa antes da entrada da criança na escola. Solicite, portanto, aos
familiares que preencham previamente uma ficha, ou então, realize uma
entrevista com perguntas que retratem quem é a criança: seu nome, se possui
irmãos na escola, suas brincadeiras preferidas, comidas que aprecia ou não, se
possui objetos de apego, chupeta e o que costuma gerar conforto ou desconforto
emocional (por exemplo, a resistência para relacionar-se com pessoas
estranhas).
Ao ler
as fichas e estabelecer um primeiro contato com as crianças inicie o
planejamento.
1º dia
Organize
o ambiente contemplando, também, as preferências observadas nos relatos das
famílias: por exemplo, um canto de casinha com carrinhos de boneca e bonecas;
um outro, com carrinhos e algumas pistas desenhadas no chão com giz ou fita
crepe; um canto com massinha ou materiais para desenho. O tempo de permanência
da criança na escola pode ser aumentado gradativamente, mas é importante que
nos primeiros dias uma pessoa de sua referência afetiva permaneça o tempo que
for necessário próximo dela, mesmo que seja em outro lugar que não seja a sala
de aula.
Já neste
primeiro dia mostre que houve interesse em conhecer a história de cada um, faça
comentários do tipo: "João, sua mãe me contou que você gosta muito de
bola, você viu que aqui nesta sua escola você pode brincar de futebol? Veja
quantas bolas separei para você, quer brincar comigo?", ou: "Marina,
eu já sei que você adora massinha, vamos fazer um bolo e uma festa com seus
novos colegas?".
No
encerramento dessa proposta, anuncie para as crianças o que será feito a
seguir. Faça um passeio pela escola e apresente os espaços e pessoas que
pertencem a este lugar. Em seguida, apresente uma brincadeira cantada para as
crianças e os pais. No final do dia faça uma roda de conversa com as crianças e
relembre o que observou de mais significativo do movimento do grupo; narre
algumas cenas que revelaram envolvimento, interesse e anuncie o que viverão no
dia seguinte.
Solicite
aos pais uma foto da criança para que seja organizado um canto do grupo na sala
de aula.
Avaliação Observe
e registre posteriormente as crianças que mais se envolveram com as propostas e
as mais resistentes à aproximação dos adultos para pensar em formas de convite
e construção de vínculos nas próximas situações.
2º dia
Organize
os cantos de atividades diversificadas de desenho, massinha, jogos e fantasias
e compartilhe com as crianças as opções que terão neste dia. Procure circular
pelos diferentes cantos e participe das situações junto com os pequenos.
Num
outro momento, apresente para as crianças o canto que foi escolhido para
colocar as suas fotos e envolva-as nesta situação. Crie um contexto de
interação neste momento: ao colocar as fotos no painel cante músicas com os
nomes das crianças ou então faça uma brincadeira referindo-se a algumas
características físicas ou ações observadas no dia. Por exemplo: "esta
menina que vou mostrar agora brincou muito de bola, comeu muita banana e está
ao lado do Lucas. Quem será?"
Faça a
leitura de uma história e mostre onde será o canto de livros do grupo.
No
final, apresente uma caixa onde ficarão os objetos trazidos pelas crianças de
casa.
Solicite
aos pais que façam um desenho com seus filhos e tragam no dia seguinte para ser
colado nesta caixa. Se possível tire uma foto do grupo para identificar este
objeto que será de todos.
Avaliação Observe
a movimentação das crianças nos cantos e a forma de envolvimento com as
propostas. Anote como foram as reações daquelas crianças mais caladas, das que
resistem aos contatos, ou mesmo daquelas que demonstram uma certa euforia
diante de tanta novidade.
3º dia
Faça
mais uma vez a brincadeira com as fotos das crianças e com as músicas "A
canoa virou"; "João roubou pão". Proponha mais uma vez os cantos
de atividades diversificadas de massinha, casinha, pistas de carrinhos e
bichos.
Monte
com as crianças a caixa onde ficarão seus objetos e escolham um canto onde ela
ficará guardada.
Compartilhe
mais uma leitura e guarde mais um livro na biblioteca que será do grupo.
Encerre
o dia recuperando oralmente o que foi vivido pelas crianças e anuncie algo que
as aguardará no dia seguinte. Faça também um clima de surpresa, de expectativa
para as novas experiências.
Avaliação Invista
na interação com as crianças que demonstram maior dificuldade e resistência.
Chame-as para pegar algum material com você para a organização do ambiente,
sente-se ao lado para fazer um desenho, faça você um mesmo um desenho ou
escultura de massinha para que leve para casa e observe as reações a estas
formas de convite. Não se esqueça de que aquelas crianças que aparentemente
estão achando que tudo é uma "festa", merecem um olhar especial, um
colo, momentos de atenção para se entregarem às propostas e para compreenderem
o que está acontecendo com elas.
4º dia
Receba
as crianças com os cantos de atividades diversificadas (no mínimo 3). Faça mais
uma vez a brincadeira com as fotos. Apresente em forma de desenho ou por meio
de fotografias das crianças, cada situação da rotina (o professor deve
organizar este material previamente). Converse com as crianças o que fazem em
cada momento e organize junto com elas a sequência temporal das atividades.
Diga que essas fotos ou desenhos ajudarão a saber o que farão na escola e que
logo após o lanche ou então da brincadeira no parque, por exemplo, seus pais
voltarão para buscá-las. Cole o quadro da rotina num lugar de fácil acesso para
as crianças.
Avaliação Ao
anunciar os momentos que retratam a rotina, diga às crianças que ainda choram e
demonstram sofrimento em estar neste novo ambiente, quais são as situações que
viverão e quando será o momento de reverem as pessoas de sua família todos os
dias. Observe as reações e sempre que chorarem recorra a esta estratégia para
ajudar a tranquilizar as crianças.
5º
dia
Receba
as crianças em roda e conte que escolheu montar os cantos que mais gostaram no
decorrer da semana. Quando encerrar, recorra ao quadro da rotina para situar o
que farão a seguir. Faça mais uma leitura e guarde mais um livro na biblioteca
do grupo. Comente que, aos poucos, conhecerão muitas histórias. Em seguida,
mude a atividade e faça com o grupo uma salada de frutas (se possível, peça no
dia anterior que cada criança traga de casa uma fruta). Ou então, no lanche,
faça um piquenique no espaço externo da escola.
Encerre
o dia com uma brincadeira. Conte que ficarão dois dias em casa sem vir para a
escola, mas que muitas novidades as aguardam na próxima semana. Fale que
brincarão muito e que o professor estará sempre presente quando precisarem de
algo.
Avaliação Ajude
as crianças mais resistentes à aproximação a transformarem sentimentos em
palavras. Reconheça os desafios ainda existentes, mas reafirme que na próxima
semana estará novamente na escola para recebê-las e investigar quais são as brincadeiras
e outras situações que lhes farão se sentir bem neste ambiente. Se possível,
empreste algum livro ou brinquedo e peça para que cuide bem e traga novamente
para a escola na próxima semana. Isso ajudará neste processo de construção de
vínculo com a escola e com o educador.
Consultoria
Clélia Cortez
Formadora
do Instituto Avisa Lá, em São Paulo.
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Reflexões
sobre a chupeta
Objetivos
-
Estimular a autonomia da turma, favorecendo um processo tranquilo de abandono
da chupeta e respeitando o ritmo e a necessidade de cada um.
-
Promover um diálogo com as famílias, favorecendo ações em conjunto com a
creche.
Conteúdos
-
Cuidados.
-
Identidade e autonomia.
Faixa
etária
2 a 3
anos.
Tempo
estimado
O ano
todo.
Material
necessário
Outros
objetos de apego que não a chupeta, como cobertores e brinquedos, de acordo com
a anuência da família.
FlexibilizaçãoPara
crianças com deficiência intelectualO grande desafio, ao trabalhar com crianças
com deficiência intelectual é mostrar que é possível fazê-las pensar para além
da 'concretude' dos objetos. Esses pequenos tendem a apegar-se mais a objetos
como a chupeta. Por isso, é importante não oferecer a chupeta diante de
qualquer sinal de desconforto da criança e conduzi-la, aos poucos, a deixar o
objeto, da mesma forma que as outras crianças do grupo - desde que respeitado o
tempo de aprendizagem e as conquistas de cada criança. As conversas com a
família e a socialização na creche também contribuem nesse processo.
Desenvolvimento
Questionamento
Busque
compreender o significado da chupeta na vida dos pequenos. Para tanto, reflita
sobre as seguintes questões:
- Por
que bebês e crianças pequenas geralmente chegam à creche com ela na boca?
- Por
que para algumas ela é importante na hora do sono? E quando acordam
também?
- Por
que muitas delas param de chorar imediatamente quando esse objeto lhes é
entregue?
- Em
quais momentos as crianças costumam deixá-lo de lado?
Interação
com as crianças
Ao
entender que a chupeta é um objeto de apego e fundamental para a adaptação na
creche, busque os momentos mais adequados para sugerir aos pequenos que ela não
seja usada, como durante as refeições, e na hora do parque e das atividades,
explicando que ela atrapalha os movimentos e a fala. Vale também planejar
atividades divertidas, como a manipulação de massas e tintas, e sempre oferecer
um aconchego especial, como o colo ou uma canção, para quem se mostrar mais
sensível.
Interação
com a família
Converse
com os pais para saber em que situações os pequenos costumam usar a chupeta em
casa (e se usam). Informe-os também sobre a postura adotada na creche de
sugerir que o objeto saia de cena em alguns momentos - como as refeições e as
atividades - e proponha que façam o mesmo em casa, reforçando que o objetivo maior
não é abandonar a chupeta, mas promover a autonomia da criança em vários
aspectos gradualmente.
Solidariedade
Quando
o combinado é não usar a chupeta, algumas crianças podem não lidar bem com o
fato, mesmo com você oferecendo atenção e outros objetos de apego. Nesses casos
de resistência, devolva a chupeta para que elas não se sintam desamparadas.
Desapego
Os
objetos de apego podem ser usados para ajudar nos momentos críticos, mas, com o
tempo e a progressiva integração das crianças ao grupo, você deve lembrá-las de
que podem ficar sem a chupeta durante um período.
Avaliação
Mesmo
que influenciado pelas experiências de socialização que os pequenos viverão na
creche, o sucesso em deixar a chupeta é uma conquista pessoal, que está
relacionada ao crescimento individual. Então, quando algum deles conseguir
passar muito tempo sem o objeto por perto, parabenize-o. Sempre que possível,
chame a atenção também para as coisas que as crianças estão conseguindo fazer
sem ajuda e comente o desempenho delas em outras atividades, como desenhos e
pinturas, demonstrando o quanto estão crescidas e independentes.
Professora do Instituto de Educação Superior Vera
Cruz (ISE Vera Cruz) e assessora da Secretaria Municipal de Educação de São
Paulo.
__
Eu,
nós, todo mundo na escola!
Introdução
A
construção da identidade se dá por meio das interações da criança com o seu
meio social. A escola de Educação Infantil é um universo social diferente do da
família, favorecendo novas interações, ampliando desta maneira seus
conhecimentos a respeito de si e dos outros. A auto-imagem também é construída
a partir das relações estabelecidas nos grupos em que a criança convive. Um
ambiente farto em interações, que acolha as particularidades de cada indivíduo,
promova o reconhecimento das diversidades, aceitando-as e respeitando-as, ao
mesmo tempo que contribui para a construção da unidade coletiva, favorece a
estruturação da identidade, bem como de uma auto imagem positiva.
Tendo
em vista estes propósitos, a utilização de fotos pode ser amplamente aproveitada
pelo professor de educação infantil. Este recurso visual promove situações de
interação, reconhecimento e construção da auto-imagem, favorece as trocas e a
percepção do outro e, das igualdades e diferenças, e consequentemente, de
si.
Objetivos
- Interagir
e relacionar-se por meio de fotos.
-
Perceber-se a si e ao outro, as igualdades e diferenças, mediante as interações
estabelecidas.
-Sentir-se
valorizado e reconhecido enquanto indivíduo.
-Enxergar-se
a si próprio como parte de um grupo, de uma unidade complexa.
Tempo
estimado
Um a
dois meses.
Esta
sequência de atividades foi traçada considerando as necessidades das crianças
de se reconhecerem no grupo no início do ano letivo. Desta forma, foram
pensadas atividades numa sequência, que pode ser alterada conforme as
necessidades e interesses de cada grupo. Depois desta sequênica inicial é
interessante que algumas atividades ocorram diariamente no decorrer do ano,
como a elaboração da rotina e a elaboração do quadro de presença.
Material
necessário
- Fotos
das crianças sozinhas, com seus familiares, com seu brinquedo preferido, e
outras, realizando atividades que gosta sozinhas e junto de seus colegas na
escola.
-
Caixinhas de sapato infantil para servir de caixinhas surpresa. Podem ser
pintadas, ou forradas.
- Papel
craft para fazer cartazes de pregas.
- Papel
cartão colorido e cola para confeccionar os cartazes com janelinhas.
- Fita
adesiva.
Flexibilização
Para
crianças com deficiência visual
É
importante que as crianças com deficiência visual também tragam fotos, para que
os colegas as reconheçam. Mas, para que esses bebês sejam incluídos e consigam
reconhecer a si e aos colegas, é muito importante trabalhar estímulos
relacionados aos outros sentidos. Músicas, cheiros e objetos que caracterizem
os colegas - a Mariana usa óculos, o João está sempre de boné etc. - são
fundamentais nesse processo. Substitua algumas brincadeiras com fotos por
brincadeiras com objetos de cada criança. O móbile da sala também pode ser
construído com brinquedos e as caixinhas, encapadas com tecidos de diferentes
texturas. Descreva bastante as imagens e as características de cada criança.
Você também pode trabalhar com as imagens em relevo (em braile, cola de relevo
ou barbantes nos contornos).
Desenvolvimento
das atividades
Sequência
1 : eu, eu e eu
1. Numa
roda, distribuir caixinhas supresa para as crianças com suas respectivas fotos
dentro, de forma que abram e encontrem a sua imagem.
2.
Distribuir as fotos e ajudar as crianças a colá-las sobre os cabides, onde
ficam penduradas suas sacolas. Deixar as fotos sempre no mesmo lugar para que
as crianças saibam o lugar destinado a ela guardar seus pertences. (Pode-se
também fazer um mural de bolsos e, com ajuda das crianças, colar suas fotos, uma
em cada bolso).
3.
Fazer um cartaz de pregas representando a escola e outro representando a casa.
Disponibilizar as fotos das crianças numa caixa que fique disponível a elas no
início do dia. Deixe que olhem as fotos, encontrem as suas próprias e ensine-as
a colocar no cartaz referente à escola.
4. Numa
roda, sortear uma foto por vez para que o grupo identifique quem é quem.
Incentivar as crianças a nomear e a relacionar foto e colega. Também podem
cantar alguma canção simples, que diga os nomes das crianças neste momento,
como "Bom dia Mariana, com vai? Bom dia Mariana, como vai? Bom dia,
Mariana, bom dia Mariana, bom dia, Mariana, como vai?". Cada um leva a sua
foto ao cartaz da escola.
5.
Espalhar fotos pelo espaço e brincar com as crianças de encontrar. Pode cantar
uma canção simples como: "Cadê o Léo, cadê o Léo, o Léo onde é que
está?". Cada um leva a sua foto ao cartaz da escola.
6.
Fazer um cartaz com xerox repetidos e misturados das fotos de todas as
crianças. Brincar com as crianças de cada uma encontrar as suas próprias fotos
entre as demais.
Sequência
2: eu, tu, eles
1.
Preparar um pequeno cartaz com janelinhas que abrem e fecham, uma sobre a
outra, para cada criança (uma coluna, com espaço para quatro ou cinco fotos).
Na janelinha de cima, colocar a foto da criança e fechar, de forma que a foto
fiue escondida. Sugerir às crianças que abram as janelinhas e encontrem qual é
o seu cartaz.
2. Nas
caixinhas surpresas colocar as fotos das crianças com seus familiares.
Distribuí-las entre as crianças aleatoriamente. Deixar que abram e sugerir que
descubram de quem é a foto que encontraram. Cada um entrega a foto que
encontrou para o seu dono. O dono da foto cola-a, com ajuda do professor, no
seu cartaz de janelinhas.
3. Em
roda, cada criança mostra a foto do seu brinquedo preferido para o grupo e, com
ajuda do professor, conta o que é e como brinca com ele. Depois, colam na
janelinha seguinte de seu cartaz.
4.
Repetir a atividade acima quantas vezes quiser, acrescentando fotos de outras
coisas significativas do universo familiar de cada criança (foto do quarto, do
animal de estimação etc.)
Sequência
3: nós e todo mundo
1. Com
os cartazes, montar um biombo para sala, ou um grande mural, ao qual as
crianças terão acesso livre para verificar as fotos de suas janelinhas e as de
seus colegas.
2.
Tirar fotos das crianças na escola, em suas atividades cotidianas, em pequenos
ou em grandes grupos. Montar um móbile na altura das crianças para enfeitar um
canto da sala.
3.
Entre algumas fotos tiradas na escola, selecionar as mais ilustrativas das
atividades que acontecem diariamente para confeccionar um quadro de rotina do
grupo.
4.
Todos os dias montar a rotina, sequenciando as atividades representadas pelas
fotos, com ajuda das crianças.
Quer
saber mais?
Bibliografia
As cem
linguagens da criança, Carolyn
Edwards, ARTMED
Aprender
e ensinar na Educação Infantil, Eulália
Bassedas, ARTMED
Referencial
Nacional para a Educação Infantil, MEC,
1998.
Orientações
Curriculares: Expectativas de Aprendizagem e Orientações Didáticas para a
Educação Infantil, PMSP - SME/ DOT, 2007.
Ana
Lúcia Antunes Bresciane
Psicóloga, Formadora de professores e Coordenadora
Pedagógica da Escola Recreio, em SP.
__
Atividade:
Visita aos amigos
Objetivos
-
Favorecer o cuidado com o outro e regras de convivência.
-
Resgatar a história de cada criança.
-
Aprender a confiar no processo de dar e receber.
Tempo
estimado Quatro dias.
Flexibilização
Para
crianças com deficiência visual
Para
incluir os pequenos com deficiência visual, é possível trabalhar com fotos em
relevo (com os contornos pontilhados em braile, em cola de relevo ou destacados
com barbante) ou com gravações em áudio do riso, do choro e de outras
expressões dos bebês. Pode ser um estímulo interessante para mostrar às
crianças de dois anos que elas também já foram menores. Ensinar músicas à
criança, que caracterizem os colegas, é outra boa atividade. Um ambiente
sinalizado na creche ajuda a criança a se localizar no berçário. Oriente o
pequeno a encontrar o bebê e a presenteá-lo. Amplie o tempo de confecção do
presente e, se julgar necessário, faça com que a criança reconheça os espaços
do berçário antecipadamente, com a sua ajuda.
Material
necessário Bolinhas de plástico (maior do que a boca dos bebês), tinta
atóxica e não solúvel, cola, pedaços de pano, revistas de bebês, cartolina,
tesoura e lápis de cor.
Desenvolvimento 1ª
etapa Proponha uma atividade às crianças maiores de 2 anos para que
conheçam a vida dos menorzinhos: coloque várias revistas de bebês no chão e
sugira que escolham algumas imagens. Recorte-as e cole numa cartolina. Enquanto
isso, pergunte a cada uma por que escolheu aquela figura (aos que não
responderem, indague como está o bebê na foto: sorrindo, chorando, comendo, se
parece feliz ou triste etc.). Deixe o painel de fotos de bebês exposto até o
fim da atividade. Diga às crianças que irá pedir à família uma foto delas
quando bebês. Ao fazer o pedido, sugira que os pais escrevam alguma
característica marcante, um fato interessante ou algo que o filho fazia ou de
que gostava quando era menor.
2ª
etapa
Apresente
ao grupo as fotos e as histórias encaminhadas pelos pais. Proponha que cada
criança cole sua foto numa folha e faça uma moldura pintada com lápis colorido.
É fundamental que você explique a elas que já foram bebê um dia - uma boa
estratégia é comentar as semelhanças físicas que a imagem revela.
3ª
etapa
Conte
para aos maiores de 2 anos que eles farão uma visita ao berçário e sugira que
construam um presente para dar aos bebês. Para confeccioná-los, entregue duas
bolas de plástico para cada criança, explicando que uma será para ela brincar e
a outra deverá servir de base para o presente dos bebês. Utilize tinta
misturada à cola branca ou pedaços de pano para decorá-las.
4ª
etapa
As
professoras do berçário devem organizar os bebês em grupos para receber a
visita. Em um que reúna bebês de 4 a 8 meses, as auxiliares e professoras
precisam permanecer ao lado para ajudar aqueles que ainda não seguram a bola.
Ao receber os presentes dos maiores, elas devem pegá-lo e agradecê-lo. Em outro
grupo, com bebês de 9 meses a 1 ano, deve-se dizer para eles que estão recebendo
um presente, feito pelo seu amigo, e que poderão brincar com ele. É muito comum
que o bebê devolva a bola. Nesse momento, é fundamental que o professor
explique o ato, dizendo à criança que deu o presente que o bebê quer brincar de
dar e receber. Não se esqueça de monitorar o toque das crianças nos bebês,
pontuando a cada gesto que se deve ter cuidado, "traduzindo" as
expressões de satisfação ou desprazer do bebê para as crianças.
Avaliação Analise
a atividade em conjunto com a equipe do berçário, identificando a forma como
cada um interagiu com os outros e como foi a qualidade das trocas afetivas do
encontro. Verifique, ainda, o nível de confiança do processo de dar e receber
para cada pequeno.
Respectivamente, psicóloga da Clínica Infans e
coordenadora pedagógica da Escola Jacarandá, ambas em São Paulo, SP.
__
Na
creche, o que fazer na hora do choro?
Adaptar-se
ao ambiente e à equipe da creche, despedir-se da família, avisar que a fralda
está suja ou que a barriga dói, perder um brinquedo para um colega... Pode não
parecer, mas a vida de uma criança até 3 anos tem uma porção de desafios e uma
boa dose de estresse! Sem contar com a fala bem desenvolvida, os pequenos não
têm muitas opções além das lágrimas, que podem acompanhar chorinhos sofridos ou
mesmo choradeiras de assustar a vizinhança.
Para o
educador, enfrentar momentos como esses está longe de ser fácil. É natural que
surjam sinais de frustração, irritação e, principalmente, falta de paciência.
Mas tudo fica mais simples quando se conhece o desenvolvimento infantil e há
acolhimento e uma permanente construção de vínculos afetivos com os bebês e as
crianças - um trabalho fundamental, que começa ao iniciarem a adaptação e segue
ao longo do ano.
Nos primeiros
dias da criança na creche, a equipe ainda não distingue os tipos de choro dela.
"Há o que expressa dor, o de ‘acordei, vem me buscar’ e o de saudade,
entre tantos outros. Quem investe em um cuidado atento passa a identificar
essas diferenças e, assim, descobre qual é a melhor atitude a tomar", diz
Edimara de Lima, psicopedagoga da Associação Brasileira de
Psicopedagogia.
Para
decifrar as lágrimas, é preciso ter em mente que o objetivo dos bebês é
comunicar que algo vai mal. "Eles relacionam o choro a uma reação boa.
Afinal, alguém vem atendê-los. Esse é o jeito que eles têm de dizer ‘estou
tentando lidar com um problema, mas não está fácil’. Por isso, deve-se evitar
ideias preconcebidas e tentar entender o que o choro expressa", orienta
Beatriz Ferraz, coordenadora do Núcleo de Educação Infantil do Centro de
Educação e Documentação para Ação Comunitária (Cedac).
Essa
pesquisa parte de tentativas e erros e, com o tempo, chega a várias respostas.
Quando há dor física, deve-se agir no ato e buscar as devidas orientações
médicas. A dor emocional também merece ação rápida e aconchego. "Costumam
dizer que, se pegar no colo, a criança fica manhosa. Mas colo e carinho não
estragam ninguém e são sempre bem-vindos", garante Regina Célia Marques
Teles, diretora da Creche Carochinha, em Ribeirão Preto, a 319 quilômetros de
São Paulo.
Partindo
dessa premissa, Vera Cristina Figueiredo, coordenadora de projetos da
associação Grão da Vida, em São Paulo, desenvolveu com sua equipe uma proposta
preventiva baseada no acolhimento constante. "Logo notamos a importância
do brincar junto e do estar próximo, atento às realizações e descobertas dos
pequenos. Dar atenção nesses momentos, e não apenas na hora de impor limites,
gera tranquilidade e faz o pranto diminuir", conta. Essa experiência jogou
por terra a teoria de que acolher deixa os pequenos grudentos e dependentes.
"O carinho gera ganhos consideráveis em termos de autonomia", garante
Vera.
Não é
raro que um simples conflito tome proporções de catástrofe mundial, com direito
a gritos, sacudidas pelo chão e soluços sem fim. "Às vezes, a criança
perde o controle e não consegue voltar ao normal sozinha. Não dá para cruzar os
braços e esperar isso passar nem tentar resolver na conversa", relata
Regina Célia. Também não vale cair na armadilha de fazer chantagens para o
choro cessar. O melhor é mostrar que entende o problema e pedir que ela respire
fundo, lave o rosto e sente no seu colo, passando a mensagem de que você confia
que ela vai se acalmar. Não perca a chance: respire fundo e tome fôlego também.
Quer
saber mais?
CONTATOS
Creche
Carochinha , Av.
Bandeirantes, 3900, 14040-901, Ribeirão Preto, SP, tel. (16) 3602-3580
Edimara
de Lima
Grão da
Vida, R. Oswaldo Quirino Simões, 140,
04775-010, São Paulo, SP, tel. (11) 5523-2406
BIBLIOGRAFIA
Creche:
Organização, Montagem e Funcionamento, Gilda Rizzo, 400 págs., Ed. Record, tel.
(11) 3286-0802, 53 reais
"Bebês e crianças pequenas se
sentem à vontade quando a creche acolhe as famílias e os objetos pessoais de
todos".
Cristiane
Marangon (Revista Nova Escola, Nov, 97)
A
decisão de matricular o filho na Educação Infantil é movida por diferentes
razões. Alguns precisam apenas de um lugar para deixá-lo, enquanto outros
entendem que esse é o ambiente mais apropriado para os pequenos. Nos dois
casos, os primeiros dias na creche costumam não ser fáceis. As mães (ou
responsáveis) choram discretamente, se sentindo culpadas pela separação, e a
criançada abre o berreiro ao ver os adultos saírem pela porta. Evitar cenas
assim é possível quando os profissionais escolares programam uma boa adaptação
para todos. "Como, na maioria das vezes, essa é a primeira vivência de
meninos e meninas num espaço coletivo fora de casa, devemos fazer dessa
experiência a grande e boa referência para as próximas relações", diz
Beatriz Ferraz, diretora de projetos de formação continuada da Escola de
Educadores, em São Paulo.
No
Colégio Farroupilha, em Porto Alegre, a professora Edimari Rodrigues Romeu tem
grande preocupação com a adaptação. "Para amenizar o sofrimento das
famílias, é preciso mostrar que as crianças ficam bem na creche", lembra.
Com isso em mente, ela desenvolveu no início deste ano o projeto Um Cantinho da
Minha Casa na Escola com sua turma de berçário. O trabalho com os pequenos, de
até 1 ano e meio, durou dois meses e rendeu um diploma por ter ficado entre os
50 melhores do Prêmio Victor Civita Educador Nota 10 em 2007.
Durante
a entrevista com as famílias, Edimari pediu fotos das crianças com os parentes,
os animais de estimação e os brinquedos preferidos. "É importante que elas
encontrem objetos pessoais na escola", justifica. "Isso dá a sensação
de extensão de casa na instituição." Com o material, escolheu um canto,
colocou um tapete colorido de EVA no chão e espalhou almofadas e brinquedos
devidamente identificados. Em paralelo, confeccionou um painel com os retratos.
Tirou cópias coloridas e as fixou em cartolina branca com um adesivo
transparente largo. Por fim, colocou o mural na parede numa altura acessível ao
grupo.
Álbum
de fotos
As
imagens originais foram para álbuns individuais. A professora cortou ao meio
folhas coloridas de tamanho A4 e colou as fotos em cada pedaço. Depois, digitou
as legendas no computador e imprimiu em papel branco. Nelas, o nome das pessoas
e a situação ("Pedro com seus avós no parque", por exemplo). Para
garantir mais durabilidade, envolveu as folhas com plástico adesivo
transparente. Com o furador, fez dois orifícios em todas as páginas e as uniu
com barbante. Na capa, escreveu "Eu e minha família". Como a intenção
era deixá-los ao alcance da criançada, ela tomou o cuidado de não usar
grampeador nem fio de náilon para não causar machucados.
Todos
os dias, alguém chegava com um brinquedo para juntar ao canto. Edimari reunia a
turma numa roda, fazia a chamada e mostrava o novo objeto. "Eu contava
quem havia trazido e estimulava o empréstimo, mas nem sempre era atendida. Quem
não queria compartilhar era respeitado", diz. Dessa maneira, ficava
entendido o que pertencia a quem. O mesmo aconteceu com a inserção de fotos
inéditas, com destaque para o nome e as peculiaridades de cada família.
O tempo
todo, os pequenos estão livres para explorar o espaço. "Em alguns
momentos, eles ficam um longo período olhando e observando seus parentes e os
dos colegas", conta. Mas nem todos se acalmam vendo a imagem da família na
parede. No princípio, era comum alguns chorarem de saudade. Quando isso
acontecia, a educadora os pegava no colo e conversava sobre o momento em que se
reencontrariam com os pais novamente. Um de seus argumentos era a proximidade
da hora de saída. Para os que não têm autonomia para se locomover, como os
bebês de colo e os que ainda não engatinham ou andam, a estratégia é levá-los
ao painel ou fixar as fotos no chão com plástico adesivo transparente. Desde o início
do ano, Edimari já refez o material algumas vezes por causa da manipulação, mas
isso não é problema. O que importa mesmo é o bem-estar da turma.
Envolvimento
de todos
O CEI
Mina, na capital paulista, tem um projeto institucional de adaptação bastante
elogiado. Assim que recebe a lista de interessados em fazer a matrícula, a
diretora Rosangela Santos Barbosa marca uma entrevista com os pais ou os
responsáveis. No dia combinado, ela aplica um questionário com perguntas sobre
concepção, gestação, parto, relações afetivas, higiene, alimentação, sono e
outros aspectos da vida da criança em casa. Sua intenção é reunir informações
para que a equipe consiga fazer um atendimento personalizado. Depois, ela
explica o planejamento pedagógico e apresenta todos os espaços e funcionários,
dando ênfase aos lugares onde a criança vai ficar. O fim da conversa é um
convite para que os adultos passem alguns dias na creche, acompanhando a
rotina.
Rosangela
tem objetivos definidos. "Quero proporcionar tranquilidade e fazer com que
todos se sintam seguros acompanhando nosso trabalho", explica. A medida
tem um ganho adicional. Com a família dentro da instituição, os professores
aprendem mais rapidamente a melhor maneira de cuidar do novo integrante da
turma. "O ideal é que a primeira troca de fraldas seja feita pela mãe com
a observação do educador", defende a consultora Beatriz.
Na CEI
Mina, os adultos participam ainda de palestras e discussões pedagógicas.
"Sempre exibo um vídeo e leio sobre o tema adaptação antes de iniciar uma
reflexão", conta a diretora. Além do ambiente preparado com mesa, cadeiras
e videocassete, ela oferece um lanche. Nesse clima descontraído, todos se
sentem à vontade para compartilhar impressões e angústias. Com o entrosamento
no espaço escolar, Rosangela propõe uma oficina de sucata para a confecção de
um brinquedo. A produção dos pais é sempre colocada na sala da creche. Outra
iniciativa é integrar os participantes às atividades do dia-a-dia. "O
envolvimento é tão grande que as pessoas não se restringem a dar atenção aos
seus", narra.
Os
especialistas recomendam ainda compartilhar um texto sobre o desenvolvimento
infantil e explicar o que acontece em cada época da infância, principalmente na
fase em que está o filho.
A
equipe e a família
A equipe
pedagógica também merece uma adaptação. "A rotina da instituição se altera
completamente com a chegada de cada novo integrante, seja no início do ano,
seja agora", justifica Silvana Augusto, assessora para Educação Infantil e
formadora de professores, de São Paulo. Nesse caso, coordenadores e diretores
devem orientar professores e demais funcionários sobre como se comportar: por
exemplo, explicar aos cozinheiros que, se acriança rejeitar a comida, não é um
problema do trabalho dele.
A
adaptação é um período de aprendizagem. Família, escola e crianças descobrem
sobre convívio, segurança, ritmos e exploração de novos ambientes, entre tantas
outras coisas. Para as famílias das crianças do CEI Mina, fica a clareza de
fazer parte da creche, pois a equipe considera o sentimento delas para
desenvolver o próprio trabalho. "Estamos prontos para receber os pais.
Eles são nossos parceiros!", diz Rosangela.
No
Colégio Farroupilha, a professora gaúcha também alcançou seu objetivo: as
crianças rapidamente ficaram tranqüilas dentro do novo ambiente. Para
demonstrar isso aos pais ou responsáveis, fez fotos de diferentes situações,
como a brincadeira no tanque de areia, a hora do lanche, o abraço apertado no
brinquedo querido e os olhares felizes em direção ao mural. "As crianças
aprendem a ficar longe da família e, com isso, se apropriam dos espaços da
creche", avalia.
***
Entrevista
feita pela Revista Nova Escola, com a professora Beatriz Ferraz, leia
abaixo:
"Unir cuidados e conteúdos é
oferecer ao mesmo tempo afeto e Educação desde os primeiros anos de vida",
diz a professora e pesquisadora Beatriz Ferraz
Como funcionam as creches hoje?
BEATRIZ FERRAZ Há dois modelos mais comuns. Um com foco nos cuidados (o
bem-estar físico e as questões biológicas) e outro que usa a pré-escola como
referência (foco nos conteúdos curriculares). E ambos têm problemas. No
primeiro, a creche se organiza em torno das refeições e da higiene. A troca de
fralda não é feita de acordo com a necessidade. Ela tem hora marcada. Como
sempre, há muitos bebês e crianças pequenas sendo trocados e ninguém dá conta
de todos ao mesmo tempo. Alguns ficam esperando, sem nada para fazer. Já o
segundo exagera na escolarização. Professores não propõem atividades de
Matemática para que os pequenos explorem materiais relacionados ao assunto, mas
para aprender a contar. Na hora do banho, muitos querem ensinar sobre as partes
do corpo, quando o correto é estimular os pequenos a participar desses momentos
com mais autonomia, fazê-los entender a importância da higiene e ajudar com
pequenas ações, como lavar as mãos e levantar os braços.
Qual o modelo mais indicado, então?
BEATRIZ O ideal é encontrar o meio-termo entre os cuidados e a
escolarização. Há muitos benefícios no primeiro modelo porque os professores
são sensíveis ao carinho, ao acolhimento e ao vínculo, fundamentais nessa época
da vida. No segundo, o bacana é entender que as crianças são competentes,
ativas e produtoras de cultura. Mesclar isso é a chave.
Os pais entendem essas diferenças?
BEATRIZ Sim. E sofrem com a polarização. A referência que eles têm é a
da escola regular. Mas, quando encontram essa escolarização na creche, sentem
falta do colo, do afeto, da emoção. Ao mesmo tempo, muitas famílias acham que
as crianças, desde cedo, devem ter cadernos e atividades de linguagem. É papel
do profissional de Educação Infantil explicar essa dupla função da escola para
os pequenos.
Quais são os ingredientes de uma boa proposta pedagógica?
BEATRIZ É fundamental inteirar-se sobre a concepção de bebê e criança
pequena. Existe um discurso mais difundido sobre a pré-escola: os meninos e as
meninas são ativos, construtores de cultura, fazem escolhas e tomam decisões.
Para a creche, é essencial definir os grandes marcos do desenvolvimento:
sentar, engatinhar, andar, falar, desfraldar etc. Da mesma forma, a boa
proposta pedagógica deve contemplar que esses sujeitos tenham possibilidades de
interação (e não sejam tratados como passivos, completamente dependentes dos
adultos, sem outra necessidade além das básicas). Estudar o que os teóricos
deixaram é outro ponto. O que Jean Piaget (1896-1980) queria dizer com o
período sensório-motor? E Lev Vygotsky (1896-1934), ao afirmar que o bebê é um
sujeito social? Nenhum deles disse que os pequenos precisam aprender a contar
ou a segurar o lápis. Por isso, acredito que uma proposta pedagógica para a
creche deve ter espaço para a formação de valores, a constituição da criança
como sujeito, as relações sociais e as questões de vínculo, segurança e afeto.
Todos devemos estar conscientes de que os bebês conhecem o mundo em todas as
suas facetas: cheiros, gostos, formas, texturas, sons - e só depois vão organizar
esse conhecimento.
Como os bem pequenos aprendem na Educação Infantil?
BEATRIZ Sempre de forma ativa. Na relação com as pessoas, os objetos, o
ambiente, outros bebês ou crianças mais velhas. É preciso valorizar a
exploração e a manipulação, investindo em materiais que possibilitem isso, como
os brinquedos. Um cubo áspero de um lado e escorregadio de outro permite que o
bebê entenda essas diferenças. Os pequenos também aprendem fazendo escolhas. O
francês Gilles Brougère diz que o bebê já sabe se deseja ou não brincar. Quando
não quer, chora. Quando quer, estica a mão, mexe a perna, dá um grito. É
importante respeitar esse interesse. Além disso, é fundamental entender que não
é o professor que ensina a criança a explorar e escolher. Isso acontece naturalmente.
Seu papel é propiciar oportunidades. Daí a importância do ambiente para
garantir a interação com segurança e conforto.
Como deve ser o espaço da creche?
BEATRIZ Ele deve ter diferentes objetos motivadores, como brinquedos e
outros materiais que ofereçam diversas experiências. Não é preciso ter seis
bonecas na sala porque há seis crianças. Existe essa idéia de que elas têm
dificuldade de dividir. Na verdade, elas vêem o objeto do outro e querem
brincar junto para interagir.
Quais são as qualificações pessoais mais importantes para trabalhar em
creche?
BEATRIZ Gostar das crianças é essencial, mas não basta. A pessoa tem de
estar preparada para cuidar e educar. Precisa saber lidar com imprevistos, se
relacionar bem com outras pessoas e ter ética. Não é admissível tirar a
mamadeira da boca de um bebê, colocá-lo no berço e se despedir só porque está
na hora de ir embora.
Como deveria ser a formação inicial?
BEATRIZ Para começar, a expressão cuidado deve ser entendida como cuidar
e educar. Também é importante saber trocar fralda, dar banho, segurar no colo e
ter noções de primeiros socorros. É essencial entender como se dá o
desenvolvimento humano dentro de situações coletivas, como a escola, e ser
formado para refletir sobre a própria prática.
"Preparação
e parceria com a família são fundamentais para assegurar uma adaptação
tranquila aos bebês que vão à escola pela primeira vez".
Crianças inseguras, pais
angustiados e sofrimento diante da separação iminente. Esse não precisa ser o
retrato do início dos pequenos na creche. É possível diminuir o desconforto e
proporcionar uma adaptação tranquila e saudável para os bebês e sua família. A
fase de acolhimento na Educação Infantil é diferente para cada faixa etária e
requer atenção redobrada com bebês de até 2 anos. Afinal, quase tudo é novidade
para eles: a convivência com outras crianças e adultos (além do círculo mais
próximo), as brincadeiras com a areia...
O primeiro passo é conhecer bem a
criançada. Entender seus costumes e medos ajuda a elaborar o planejamento.
"Quando percebem que o educador sabe coisas que as fazem se sentir bem,
elas ficam mais calmas", diz Rosa Virgínia Pantoni, mestre em Psicologia e
coordenadora de assistência social da Creche Carochinha, ligada à Universidade
de São Paulo (USP)
Bebês de até 10 meses estranham a
escola, o modo como são colocados para dormir e a comida oferecida. É
necessário prestar atenção nos aspectos sensoriais: deixar objetos pessoais,
como mantinhas, chupeta e fronhas, junto ao berço ajuda na adaptação. A
ausência dos pais não incomoda, mas a textura diferente do lençol do berço, a
forma como são colocados para dormir, a temperatura da água do banho,
sim.
Depois de completar 1 ano, a
adaptação muda um pouco. O foco principal agora é fazer com que o bebê se
acostume à ausência dos responsáveis. Por isso, é necessário alternar momentos
em que os familiares estejam próximos e distantes da criança. Nessa idade, ela
já começa a estranhar quem não conhece e estabelece vínculos com alguns
adultos. Faz parte do processo, então, manter os rostos conhecidos ao alcance
da visão do pequeno. A separação é feita aos poucos, intercalando momentos de
aproximação e de ausência, até que o bebê se acostume à rotina na creche.
Outra estratégia para assegurar a
tranquilidade é fazer um espaço para cada criança:
Sequência Didática:
1. Processo de acolhimento dos
bebês (até 2 anos)
Objetivos
- Construir um ambiente de
acolhimento e segurança para os bebês e suas famílias.
- Estabelecer diálogos com eles e
ressignificar os gestos, as ações e os sentimentos por meio da linguagem.
Conteúdos
- Inclusão das famílias no
processo de adaptação.
- Respeito às singularidades de
cada criança.
Idade
Até 2 anos.
Tempo estimado
Duas semanas.
Material necessário
Objetos de apego dos bebês e para
os cantos de atividades diversificadas, uma foto de cada criança e livros de
literatura infantil.
Flexibilização
Bebês com deficiência intelectual
costumam apresentar um desenvolvimento mais lento que os demais. No entanto, no
caso de deficiências menos severas, essas diferenças podem ser pouco notadas
nos primeiros anos de vida. O bebê é capaz de desenvolver sua mobilidade (mesmo
que tenha algumas limitações motoras) e também a capacidade de comunicação,
embora costume apresentar dificuldades de equilíbrio e de orientação espacial.
Certifique-se das limitações desta criança, respeite o ritmo de cada bebê e
conte muito com a ajuda dos pais ou responsáveis para adequar os procedimentos
nas situações de cuidado e de aprendizagem. Repetir atividades e oferecer
objetos que façam parte do dia a dia do bebê são ações fundamentais que ajudam
a criança nesse processo de acolhimento. Organizar um caderno de registros, com
as evoluções e dificuldades de cada bebê em diferentes situações de
aprendizagem também contribui para diagnosticar eventuais dificuldades da criança.
Desenvolvimento
1ª etapa
Leia a anamnese dos bebês ou
entreviste seus familiares. Converse com eles sobre a possibilidade de uma
pessoa próxima à criança acompanhar o período de adaptação e participar de
situações da rotina para compartilhar formas de cuidados com o educador. Não é
preciso que os pais estejam presentes. Outros responsáveis, como avós, tios e
irmãos mais velhos, podem participar dos primeiros dias.
2ª etapa
No primeiro dia, acompanhe os
responsáveis nas situações de cuidado, como banho, alimentação e sono, e
observe procedimentos e formas de interação (a entrega do objeto de apego no
momento de sono, como foi interpretado o choro etc.). Monte alguns cantos (por
exemplo, com jogos de encaixe) e se aproxime dos pequenos. Depois, faça uma
roda com eles e as pessoas de sua referência para despedida e transforme os
gestos e as ações observados em palavras. Converse sobre as brincadeiras, os
interesses e o que foi possível aprender sobre eles: João gosta de bola, Marina
tem um paninho etc. Fale que novas brincadeiras serão feitas no dia seguinte.
No segundo dia, organize outros cantos, com bacias com água, bonecas e livros,
por exemplo. Circule e participe das situações. Oriente as pessoas que
acompanham o processo a ficar no campo de visão do bebê, mas que procurem desta
vez não interagir o tempo todo. No momento de trocar a fralda, a referência
familiar pode ficar ao lado do educador, enquanto ele realiza o procedimento
explicando à criança o que foi que aprendeu sobre ela ("Eu já sei que você
adora segurar seu urso ao ser trocado. Pegue aqui").
3ª etapa
No terceiro dia, brinque e abra
espaço para a expressão de sentimentos e gestos. Procure dar sentido às ações
com base nas experiências que os envolvem ("Seu bebê está com fome, José.
Vamos preparar uma sopa?). As pessoas que acompanham os bebês podem se afastar
do campo de visão deles. A saída deve ser comunicada às crianças. No quarto
dia, mostre cantos variados. À medida que demonstrarem segurança, faça as
despedidas das pessoas que os acompanham. Anuncie onde estarão (quem ainda fica
na creche, quem vai tomar um café ou quem vai embora). Brinque e acolha os
possíveis choros, pegando no colo, oferecendo brinquedos etc. Leia uma
história.
4ª etapa
No quinto dia, componha o ambiente
com os três cantos que mais atraíram no decorrer da semana. Selecione fotos dos
pequenos para a composição de um painel. Nesse dia, apresente cada um, diga o
nome, do que já brincou, se é sapeca, brincalhão etc. Quando os responsáveis
vierem buscá-los, compartilhe esse painel na presença dos bebês e crie um
contexto de conversa que demonstre o pertencimento deles à creche ("Agora
esta sala é da Estela também. Olha onde fica sua foto."). Na segunda
semana, planeje os cantos com base nos interesses das crianças e no que julga
pertinente para ampliar as experiências delas com o mundo -- a repetição de
propostas é importante.
Avaliação
Observe o comportamento dos bebês.
Se possível, empreste um brinquedo às mais resistentes, diga para cuidarem bem
e trazerem de volta à escola.
Consultoria: Clélia Cortez
Formadora do Instituto Avisa Lá,
em São Paulo.
__
Assim, ela entende que
há um lugar coletivo, mas que também existe um cantinho só dela, com seus
objetos de apego ou brinquedos. Isso faz com que se estabeleçam vínculos com o
local. Também é importante definir uma rotina, com horários e regras, para que
os pequenos se sintam amparados.
O choro nos momentos iniciais da
separação é normal e deve passar logo, à medida que a criança percebe que é
acolhida e compreendida. Caso o berreiro persista, isso pode ser sinal de
insegurança. Outras manifestações de desconforto são o sono constante, a apatia
e a recusa em comer. Reuniões e estudos periódicos permitem aprofundar o
conhecimento a respeito do universo infantil e agir nesses casos. "A
insegurança dos responsáveis influencia ansiedade dos pequenos. Por isso, os
profissionais precisam estar preparados", explica Ana.
Cabe ao educador acolher os bebês,
reconhecer seus sentimentos e fortalecê-los emocionalmente. "As ações
devem estar voltadas para a apresentação do novo ambiente de uma forma
delicada", explica Clélia Cortez, formadora do Instituto Avisa Lá, em São
Paulo. "O que está em jogo é o compromisso em transformar os sentimentos
de angústia presentes neste momento em segurança e afeto", completa.
__
Processo de acolhimento das crianças e das famílias (2-3 anos)
Objetivos
-
Envolver as famílias que chegam à escola pela primeira vez num clima de
acolhimento, segurança, cuidado e afeto.
-
Incluir as crianças na construção do espaço e do tempo da escola (rotina)
-
Acolher as singularidades de cada criança e incluí-las no desenvolvimento das
situações planejadas.
-
Mediar as experiências da criança com a cultura
Conteúdos
-
Inclusão das famílias no processo de adaptação
-
Envolvimento das crianças na construção da rotina
-
Respeito e valorização das singularidades das crianças
-
Mediação das experiências da criança com a cultura
Idade
2 e 3
anos (a sequência pode ser adaptada para acolher crianças de até 5 anos)
Tempo
estimado
Duas
semanas
Materiais
necessários
- Objetos
para casinha, bonecas, carrinhos, giz ou fita crepe, massinha, papel para
desenho, fantasias;
- Uma
caixa de papelão;
- Uma
foto de cada criança;
- Fotos
ou desenhos de situações da rotina;
-
Livros de literatura infantil.
Flexibilização
Para
crianças com deficiência física
Para
incluir crianças com deficiência física nos membros inferiores, o primeiro
passo é garantir a acessibilidade dos espaços da creche. Faça um passeio com a
criança pelas salas e áreas externas e apresente-a aos colegas. Deixe que as
crianças interajam e conversem. Caso as crianças tenham dúvidas, como por
exemplo "por que ele não anda?", responda de forma clara. Aproveite a
oportunidade para contar a todos que a limitação motora do colega, de forma
alguma o impede de fazer as atividades propostas, mas que, para algumas ações,
ele pode precisar de ajuda. Explique isso à criança com deficiência física e
mostre que ele pode recorrer a você ou aos colegas sempre que precisar. Conte
com a ajuda da família para compreender melhor as necessidades e hábitos da
criança. Procure manter objetos ao alcance dos pequenos e respeite o tempo de
aprendizagem da criança.
Desenvolvimento
A
adaptação começa antes da entrada da criança na escola. Solicite, portanto, aos
familiares que preencham previamente uma ficha, ou então, realize uma
entrevista com perguntas que retratem quem é a criança: seu nome, se possui
irmãos na escola, suas brincadeiras preferidas, comidas que aprecia ou não, se
possui objetos de apego, chupeta e o que costuma gerar conforto ou desconforto
emocional (por exemplo, a resistência para relacionar-se com pessoas
estranhas).
Ao ler
as fichas e estabelecer um primeiro contato com as crianças inicie o
planejamento.
1º dia
Organize
o ambiente contemplando, também, as preferências observadas nos relatos das
famílias: por exemplo, um canto de casinha com carrinhos de boneca e bonecas;
um outro, com carrinhos e algumas pistas desenhadas no chão com giz ou fita
crepe; um canto com massinha ou materiais para desenho. O tempo de permanência
da criança na escola pode ser aumentado gradativamente, mas é importante que
nos primeiros dias uma pessoa de sua referência afetiva permaneça o tempo que
for necessário próximo dela, mesmo que seja em outro lugar que não seja a sala
de aula.
Já neste
primeiro dia mostre que houve interesse em conhecer a história de cada um, faça
comentários do tipo: "João, sua mãe me contou que você gosta muito de
bola, você viu que aqui nesta sua escola você pode brincar de futebol? Veja
quantas bolas separei para você, quer brincar comigo?", ou: "Marina,
eu já sei que você adora massinha, vamos fazer um bolo e uma festa com seus
novos colegas?".
No
encerramento dessa proposta, anuncie para as crianças o que será feito a
seguir. Faça um passeio pela escola e apresente os espaços e pessoas que
pertencem a este lugar. Em seguida, apresente uma brincadeira cantada para as
crianças e os pais. No final do dia faça uma roda de conversa com as crianças e
relembre o que observou de mais significativo do movimento do grupo; narre
algumas cenas que revelaram envolvimento, interesse e anuncie o que viverão no
dia seguinte.
Solicite
aos pais uma foto da criança para que seja organizado um canto do grupo na sala
de aula.
Avaliação Observe
e registre posteriormente as crianças que mais se envolveram com as propostas e
as mais resistentes à aproximação dos adultos para pensar em formas de convite
e construção de vínculos nas próximas situações.
2º dia
Organize
os cantos de atividades diversificadas de desenho, massinha, jogos e fantasias
e compartilhe com as crianças as opções que terão neste dia. Procure circular
pelos diferentes cantos e participe das situações junto com os pequenos.
Num
outro momento, apresente para as crianças o canto que foi escolhido para
colocar as suas fotos e envolva-as nesta situação. Crie um contexto de
interação neste momento: ao colocar as fotos no painel cante músicas com os
nomes das crianças ou então faça uma brincadeira referindo-se a algumas
características físicas ou ações observadas no dia. Por exemplo: "esta
menina que vou mostrar agora brincou muito de bola, comeu muita banana e está
ao lado do Lucas. Quem será?"
Faça a
leitura de uma história e mostre onde será o canto de livros do grupo.
No
final, apresente uma caixa onde ficarão os objetos trazidos pelas crianças de
casa.
Solicite
aos pais que façam um desenho com seus filhos e tragam no dia seguinte para ser
colado nesta caixa. Se possível tire uma foto do grupo para identificar este
objeto que será de todos.
Avaliação Observe
a movimentação das crianças nos cantos e a forma de envolvimento com as
propostas. Anote como foram as reações daquelas crianças mais caladas, das que
resistem aos contatos, ou mesmo daquelas que demonstram uma certa euforia
diante de tanta novidade.
3º dia
Faça
mais uma vez a brincadeira com as fotos das crianças e com as músicas "A
canoa virou"; "João roubou pão". Proponha mais uma vez os cantos
de atividades diversificadas de massinha, casinha, pistas de carrinhos e
bichos.
Monte
com as crianças a caixa onde ficarão seus objetos e escolham um canto onde ela
ficará guardada.
Compartilhe
mais uma leitura e guarde mais um livro na biblioteca que será do grupo.
Encerre
o dia recuperando oralmente o que foi vivido pelas crianças e anuncie algo que
as aguardará no dia seguinte. Faça também um clima de surpresa, de expectativa
para as novas experiências.
Avaliação Invista
na interação com as crianças que demonstram maior dificuldade e resistência.
Chame-as para pegar algum material com você para a organização do ambiente,
sente-se ao lado para fazer um desenho, faça você um mesmo um desenho ou
escultura de massinha para que leve para casa e observe as reações a estas
formas de convite. Não se esqueça de que aquelas crianças que aparentemente
estão achando que tudo é uma "festa", merecem um olhar especial, um
colo, momentos de atenção para se entregarem às propostas e para compreenderem
o que está acontecendo com elas.
4º dia
Receba
as crianças com os cantos de atividades diversificadas (no mínimo 3). Faça mais
uma vez a brincadeira com as fotos. Apresente em forma de desenho ou por meio
de fotografias das crianças, cada situação da rotina (o professor deve
organizar este material previamente). Converse com as crianças o que fazem em
cada momento e organize junto com elas a sequência temporal das atividades.
Diga que essas fotos ou desenhos ajudarão a saber o que farão na escola e que
logo após o lanche ou então da brincadeira no parque, por exemplo, seus pais
voltarão para buscá-las. Cole o quadro da rotina num lugar de fácil acesso para
as crianças.
Avaliação Ao
anunciar os momentos que retratam a rotina, diga às crianças que ainda choram e
demonstram sofrimento em estar neste novo ambiente, quais são as situações que
viverão e quando será o momento de reverem as pessoas de sua família todos os
dias. Observe as reações e sempre que chorarem recorra a esta estratégia para
ajudar a tranquilizar as crianças.
5º
dia
Receba
as crianças em roda e conte que escolheu montar os cantos que mais gostaram no
decorrer da semana. Quando encerrar, recorra ao quadro da rotina para situar o
que farão a seguir. Faça mais uma leitura e guarde mais um livro na biblioteca
do grupo. Comente que, aos poucos, conhecerão muitas histórias. Em seguida,
mude a atividade e faça com o grupo uma salada de frutas (se possível, peça no
dia anterior que cada criança traga de casa uma fruta). Ou então, no lanche,
faça um piquenique no espaço externo da escola.
Encerre
o dia com uma brincadeira. Conte que ficarão dois dias em casa sem vir para a
escola, mas que muitas novidades as aguardam na próxima semana. Fale que
brincarão muito e que o professor estará sempre presente quando precisarem de
algo.
Avaliação Ajude
as crianças mais resistentes à aproximação a transformarem sentimentos em
palavras. Reconheça os desafios ainda existentes, mas reafirme que na próxima
semana estará novamente na escola para recebê-las e investigar quais são as brincadeiras
e outras situações que lhes farão se sentir bem neste ambiente. Se possível,
empreste algum livro ou brinquedo e peça para que cuide bem e traga novamente
para a escola na próxima semana. Isso ajudará neste processo de construção de
vínculo com a escola e com o educador.
Consultoria
Clélia Cortez
Formadora
do Instituto Avisa Lá, em São Paulo.
__
Reflexões
sobre a chupeta
Objetivos
-
Estimular a autonomia da turma, favorecendo um processo tranquilo de abandono
da chupeta e respeitando o ritmo e a necessidade de cada um.
-
Promover um diálogo com as famílias, favorecendo ações em conjunto com a
creche.
Conteúdos
-
Cuidados.
-
Identidade e autonomia.
Faixa
etária
2 a 3
anos.
Tempo
estimado
O ano
todo.
Material
necessário
Outros
objetos de apego que não a chupeta, como cobertores e brinquedos, de acordo com
a anuência da família.
FlexibilizaçãoPara
crianças com deficiência intelectualO grande desafio, ao trabalhar com crianças
com deficiência intelectual é mostrar que é possível fazê-las pensar para além
da 'concretude' dos objetos. Esses pequenos tendem a apegar-se mais a objetos
como a chupeta. Por isso, é importante não oferecer a chupeta diante de
qualquer sinal de desconforto da criança e conduzi-la, aos poucos, a deixar o
objeto, da mesma forma que as outras crianças do grupo - desde que respeitado o
tempo de aprendizagem e as conquistas de cada criança. As conversas com a
família e a socialização na creche também contribuem nesse processo.
Desenvolvimento
Questionamento
Busque
compreender o significado da chupeta na vida dos pequenos. Para tanto, reflita
sobre as seguintes questões:
- Por
que bebês e crianças pequenas geralmente chegam à creche com ela na boca?
- Por
que para algumas ela é importante na hora do sono? E quando acordam
também?
- Por
que muitas delas param de chorar imediatamente quando esse objeto lhes é
entregue?
- Em
quais momentos as crianças costumam deixá-lo de lado?
Interação
com as crianças
Ao
entender que a chupeta é um objeto de apego e fundamental para a adaptação na
creche, busque os momentos mais adequados para sugerir aos pequenos que ela não
seja usada, como durante as refeições, e na hora do parque e das atividades,
explicando que ela atrapalha os movimentos e a fala. Vale também planejar
atividades divertidas, como a manipulação de massas e tintas, e sempre oferecer
um aconchego especial, como o colo ou uma canção, para quem se mostrar mais
sensível.
Interação
com a família
Converse
com os pais para saber em que situações os pequenos costumam usar a chupeta em
casa (e se usam). Informe-os também sobre a postura adotada na creche de
sugerir que o objeto saia de cena em alguns momentos - como as refeições e as
atividades - e proponha que façam o mesmo em casa, reforçando que o objetivo maior
não é abandonar a chupeta, mas promover a autonomia da criança em vários
aspectos gradualmente.
Solidariedade
Quando
o combinado é não usar a chupeta, algumas crianças podem não lidar bem com o
fato, mesmo com você oferecendo atenção e outros objetos de apego. Nesses casos
de resistência, devolva a chupeta para que elas não se sintam desamparadas.
Desapego
Os
objetos de apego podem ser usados para ajudar nos momentos críticos, mas, com o
tempo e a progressiva integração das crianças ao grupo, você deve lembrá-las de
que podem ficar sem a chupeta durante um período.
Avaliação
Mesmo
que influenciado pelas experiências de socialização que os pequenos viverão na
creche, o sucesso em deixar a chupeta é uma conquista pessoal, que está
relacionada ao crescimento individual. Então, quando algum deles conseguir
passar muito tempo sem o objeto por perto, parabenize-o. Sempre que possível,
chame a atenção também para as coisas que as crianças estão conseguindo fazer
sem ajuda e comente o desempenho delas em outras atividades, como desenhos e
pinturas, demonstrando o quanto estão crescidas e independentes.
Professora do Instituto de Educação Superior Vera
Cruz (ISE Vera Cruz) e assessora da Secretaria Municipal de Educação de São
Paulo.
__
Eu,
nós, todo mundo na escola!
Introdução
A
construção da identidade se dá por meio das interações da criança com o seu
meio social. A escola de Educação Infantil é um universo social diferente do da
família, favorecendo novas interações, ampliando desta maneira seus
conhecimentos a respeito de si e dos outros. A auto-imagem também é construída
a partir das relações estabelecidas nos grupos em que a criança convive. Um
ambiente farto em interações, que acolha as particularidades de cada indivíduo,
promova o reconhecimento das diversidades, aceitando-as e respeitando-as, ao
mesmo tempo que contribui para a construção da unidade coletiva, favorece a
estruturação da identidade, bem como de uma auto imagem positiva.
Tendo
em vista estes propósitos, a utilização de fotos pode ser amplamente aproveitada
pelo professor de educação infantil. Este recurso visual promove situações de
interação, reconhecimento e construção da auto-imagem, favorece as trocas e a
percepção do outro e, das igualdades e diferenças, e consequentemente, de
si.
Objetivos
- Interagir
e relacionar-se por meio de fotos.
-
Perceber-se a si e ao outro, as igualdades e diferenças, mediante as interações
estabelecidas.
-Sentir-se
valorizado e reconhecido enquanto indivíduo.
-Enxergar-se
a si próprio como parte de um grupo, de uma unidade complexa.
Tempo
estimado
Um a
dois meses.
Esta
sequência de atividades foi traçada considerando as necessidades das crianças
de se reconhecerem no grupo no início do ano letivo. Desta forma, foram
pensadas atividades numa sequência, que pode ser alterada conforme as
necessidades e interesses de cada grupo. Depois desta sequênica inicial é
interessante que algumas atividades ocorram diariamente no decorrer do ano,
como a elaboração da rotina e a elaboração do quadro de presença.
Material
necessário
- Fotos
das crianças sozinhas, com seus familiares, com seu brinquedo preferido, e
outras, realizando atividades que gosta sozinhas e junto de seus colegas na
escola.
-
Caixinhas de sapato infantil para servir de caixinhas surpresa. Podem ser
pintadas, ou forradas.
- Papel
craft para fazer cartazes de pregas.
- Papel
cartão colorido e cola para confeccionar os cartazes com janelinhas.
- Fita
adesiva.
Flexibilização
Para
crianças com deficiência visual
É
importante que as crianças com deficiência visual também tragam fotos, para que
os colegas as reconheçam. Mas, para que esses bebês sejam incluídos e consigam
reconhecer a si e aos colegas, é muito importante trabalhar estímulos
relacionados aos outros sentidos. Músicas, cheiros e objetos que caracterizem
os colegas - a Mariana usa óculos, o João está sempre de boné etc. - são
fundamentais nesse processo. Substitua algumas brincadeiras com fotos por
brincadeiras com objetos de cada criança. O móbile da sala também pode ser
construído com brinquedos e as caixinhas, encapadas com tecidos de diferentes
texturas. Descreva bastante as imagens e as características de cada criança.
Você também pode trabalhar com as imagens em relevo (em braile, cola de relevo
ou barbantes nos contornos).
Desenvolvimento
das atividades
Sequência
1 : eu, eu e eu
1. Numa
roda, distribuir caixinhas supresa para as crianças com suas respectivas fotos
dentro, de forma que abram e encontrem a sua imagem.
2.
Distribuir as fotos e ajudar as crianças a colá-las sobre os cabides, onde
ficam penduradas suas sacolas. Deixar as fotos sempre no mesmo lugar para que
as crianças saibam o lugar destinado a ela guardar seus pertences. (Pode-se
também fazer um mural de bolsos e, com ajuda das crianças, colar suas fotos, uma
em cada bolso).
3.
Fazer um cartaz de pregas representando a escola e outro representando a casa.
Disponibilizar as fotos das crianças numa caixa que fique disponível a elas no
início do dia. Deixe que olhem as fotos, encontrem as suas próprias e ensine-as
a colocar no cartaz referente à escola.
4. Numa
roda, sortear uma foto por vez para que o grupo identifique quem é quem.
Incentivar as crianças a nomear e a relacionar foto e colega. Também podem
cantar alguma canção simples, que diga os nomes das crianças neste momento,
como "Bom dia Mariana, com vai? Bom dia Mariana, como vai? Bom dia,
Mariana, bom dia Mariana, bom dia, Mariana, como vai?". Cada um leva a sua
foto ao cartaz da escola.
5.
Espalhar fotos pelo espaço e brincar com as crianças de encontrar. Pode cantar
uma canção simples como: "Cadê o Léo, cadê o Léo, o Léo onde é que
está?". Cada um leva a sua foto ao cartaz da escola.
6.
Fazer um cartaz com xerox repetidos e misturados das fotos de todas as
crianças. Brincar com as crianças de cada uma encontrar as suas próprias fotos
entre as demais.
Sequência
2: eu, tu, eles
1.
Preparar um pequeno cartaz com janelinhas que abrem e fecham, uma sobre a
outra, para cada criança (uma coluna, com espaço para quatro ou cinco fotos).
Na janelinha de cima, colocar a foto da criança e fechar, de forma que a foto
fiue escondida. Sugerir às crianças que abram as janelinhas e encontrem qual é
o seu cartaz.
2. Nas
caixinhas surpresas colocar as fotos das crianças com seus familiares.
Distribuí-las entre as crianças aleatoriamente. Deixar que abram e sugerir que
descubram de quem é a foto que encontraram. Cada um entrega a foto que
encontrou para o seu dono. O dono da foto cola-a, com ajuda do professor, no
seu cartaz de janelinhas.
3. Em
roda, cada criança mostra a foto do seu brinquedo preferido para o grupo e, com
ajuda do professor, conta o que é e como brinca com ele. Depois, colam na
janelinha seguinte de seu cartaz.
4.
Repetir a atividade acima quantas vezes quiser, acrescentando fotos de outras
coisas significativas do universo familiar de cada criança (foto do quarto, do
animal de estimação etc.)
Sequência
3: nós e todo mundo
1. Com
os cartazes, montar um biombo para sala, ou um grande mural, ao qual as
crianças terão acesso livre para verificar as fotos de suas janelinhas e as de
seus colegas.
2.
Tirar fotos das crianças na escola, em suas atividades cotidianas, em pequenos
ou em grandes grupos. Montar um móbile na altura das crianças para enfeitar um
canto da sala.
3.
Entre algumas fotos tiradas na escola, selecionar as mais ilustrativas das
atividades que acontecem diariamente para confeccionar um quadro de rotina do
grupo.
4.
Todos os dias montar a rotina, sequenciando as atividades representadas pelas
fotos, com ajuda das crianças.
Quer
saber mais?
Bibliografia
As cem
linguagens da criança, Carolyn
Edwards, ARTMED
Aprender
e ensinar na Educação Infantil, Eulália
Bassedas, ARTMED
Referencial
Nacional para a Educação Infantil, MEC,
1998.
Orientações
Curriculares: Expectativas de Aprendizagem e Orientações Didáticas para a
Educação Infantil, PMSP - SME/ DOT, 2007.
Ana
Lúcia Antunes Bresciane
Psicóloga, Formadora de professores e Coordenadora
Pedagógica da Escola Recreio, em SP.
__
Atividade:
Visita aos amigos
Objetivos
-
Favorecer o cuidado com o outro e regras de convivência.
-
Resgatar a história de cada criança.
-
Aprender a confiar no processo de dar e receber.
Tempo
estimado Quatro dias.
Flexibilização
Para
crianças com deficiência visual
Para
incluir os pequenos com deficiência visual, é possível trabalhar com fotos em
relevo (com os contornos pontilhados em braile, em cola de relevo ou destacados
com barbante) ou com gravações em áudio do riso, do choro e de outras
expressões dos bebês. Pode ser um estímulo interessante para mostrar às
crianças de dois anos que elas também já foram menores. Ensinar músicas à
criança, que caracterizem os colegas, é outra boa atividade. Um ambiente
sinalizado na creche ajuda a criança a se localizar no berçário. Oriente o
pequeno a encontrar o bebê e a presenteá-lo. Amplie o tempo de confecção do
presente e, se julgar necessário, faça com que a criança reconheça os espaços
do berçário antecipadamente, com a sua ajuda.
Material
necessário Bolinhas de plástico (maior do que a boca dos bebês), tinta
atóxica e não solúvel, cola, pedaços de pano, revistas de bebês, cartolina,
tesoura e lápis de cor.
Desenvolvimento 1ª
etapa Proponha uma atividade às crianças maiores de 2 anos para que
conheçam a vida dos menorzinhos: coloque várias revistas de bebês no chão e
sugira que escolham algumas imagens. Recorte-as e cole numa cartolina. Enquanto
isso, pergunte a cada uma por que escolheu aquela figura (aos que não
responderem, indague como está o bebê na foto: sorrindo, chorando, comendo, se
parece feliz ou triste etc.). Deixe o painel de fotos de bebês exposto até o
fim da atividade. Diga às crianças que irá pedir à família uma foto delas
quando bebês. Ao fazer o pedido, sugira que os pais escrevam alguma
característica marcante, um fato interessante ou algo que o filho fazia ou de
que gostava quando era menor.
2ª
etapa
Apresente
ao grupo as fotos e as histórias encaminhadas pelos pais. Proponha que cada
criança cole sua foto numa folha e faça uma moldura pintada com lápis colorido.
É fundamental que você explique a elas que já foram bebê um dia - uma boa
estratégia é comentar as semelhanças físicas que a imagem revela.
3ª
etapa
Conte
para aos maiores de 2 anos que eles farão uma visita ao berçário e sugira que
construam um presente para dar aos bebês. Para confeccioná-los, entregue duas
bolas de plástico para cada criança, explicando que uma será para ela brincar e
a outra deverá servir de base para o presente dos bebês. Utilize tinta
misturada à cola branca ou pedaços de pano para decorá-las.
4ª
etapa
As
professoras do berçário devem organizar os bebês em grupos para receber a
visita. Em um que reúna bebês de 4 a 8 meses, as auxiliares e professoras
precisam permanecer ao lado para ajudar aqueles que ainda não seguram a bola.
Ao receber os presentes dos maiores, elas devem pegá-lo e agradecê-lo. Em outro
grupo, com bebês de 9 meses a 1 ano, deve-se dizer para eles que estão recebendo
um presente, feito pelo seu amigo, e que poderão brincar com ele. É muito comum
que o bebê devolva a bola. Nesse momento, é fundamental que o professor
explique o ato, dizendo à criança que deu o presente que o bebê quer brincar de
dar e receber. Não se esqueça de monitorar o toque das crianças nos bebês,
pontuando a cada gesto que se deve ter cuidado, "traduzindo" as
expressões de satisfação ou desprazer do bebê para as crianças.
Avaliação Analise
a atividade em conjunto com a equipe do berçário, identificando a forma como
cada um interagiu com os outros e como foi a qualidade das trocas afetivas do
encontro. Verifique, ainda, o nível de confiança do processo de dar e receber
para cada pequeno.
Respectivamente, psicóloga da Clínica Infans e
coordenadora pedagógica da Escola Jacarandá, ambas em São Paulo, SP.
__
Na
creche, o que fazer na hora do choro?
Adaptar-se
ao ambiente e à equipe da creche, despedir-se da família, avisar que a fralda
está suja ou que a barriga dói, perder um brinquedo para um colega... Pode não
parecer, mas a vida de uma criança até 3 anos tem uma porção de desafios e uma
boa dose de estresse! Sem contar com a fala bem desenvolvida, os pequenos não
têm muitas opções além das lágrimas, que podem acompanhar chorinhos sofridos ou
mesmo choradeiras de assustar a vizinhança.
Para o
educador, enfrentar momentos como esses está longe de ser fácil. É natural que
surjam sinais de frustração, irritação e, principalmente, falta de paciência.
Mas tudo fica mais simples quando se conhece o desenvolvimento infantil e há
acolhimento e uma permanente construção de vínculos afetivos com os bebês e as
crianças - um trabalho fundamental, que começa ao iniciarem a adaptação e segue
ao longo do ano.
Nos primeiros
dias da criança na creche, a equipe ainda não distingue os tipos de choro dela.
"Há o que expressa dor, o de ‘acordei, vem me buscar’ e o de saudade,
entre tantos outros. Quem investe em um cuidado atento passa a identificar
essas diferenças e, assim, descobre qual é a melhor atitude a tomar", diz
Edimara de Lima, psicopedagoga da Associação Brasileira de
Psicopedagogia.
Para
decifrar as lágrimas, é preciso ter em mente que o objetivo dos bebês é
comunicar que algo vai mal. "Eles relacionam o choro a uma reação boa.
Afinal, alguém vem atendê-los. Esse é o jeito que eles têm de dizer ‘estou
tentando lidar com um problema, mas não está fácil’. Por isso, deve-se evitar
ideias preconcebidas e tentar entender o que o choro expressa", orienta
Beatriz Ferraz, coordenadora do Núcleo de Educação Infantil do Centro de
Educação e Documentação para Ação Comunitária (Cedac).
Essa
pesquisa parte de tentativas e erros e, com o tempo, chega a várias respostas.
Quando há dor física, deve-se agir no ato e buscar as devidas orientações
médicas. A dor emocional também merece ação rápida e aconchego. "Costumam
dizer que, se pegar no colo, a criança fica manhosa. Mas colo e carinho não
estragam ninguém e são sempre bem-vindos", garante Regina Célia Marques
Teles, diretora da Creche Carochinha, em Ribeirão Preto, a 319 quilômetros de
São Paulo.
Partindo
dessa premissa, Vera Cristina Figueiredo, coordenadora de projetos da
associação Grão da Vida, em São Paulo, desenvolveu com sua equipe uma proposta
preventiva baseada no acolhimento constante. "Logo notamos a importância
do brincar junto e do estar próximo, atento às realizações e descobertas dos
pequenos. Dar atenção nesses momentos, e não apenas na hora de impor limites,
gera tranquilidade e faz o pranto diminuir", conta. Essa experiência jogou
por terra a teoria de que acolher deixa os pequenos grudentos e dependentes.
"O carinho gera ganhos consideráveis em termos de autonomia", garante
Vera.
Não é
raro que um simples conflito tome proporções de catástrofe mundial, com direito
a gritos, sacudidas pelo chão e soluços sem fim. "Às vezes, a criança
perde o controle e não consegue voltar ao normal sozinha. Não dá para cruzar os
braços e esperar isso passar nem tentar resolver na conversa", relata
Regina Célia. Também não vale cair na armadilha de fazer chantagens para o
choro cessar. O melhor é mostrar que entende o problema e pedir que ela respire
fundo, lave o rosto e sente no seu colo, passando a mensagem de que você confia
que ela vai se acalmar. Não perca a chance: respire fundo e tome fôlego também.
Quer
saber mais?
CONTATOS
Creche
Carochinha , Av.
Bandeirantes, 3900, 14040-901, Ribeirão Preto, SP, tel. (16) 3602-3580
Edimara
de Lima
Grão da
Vida, R. Oswaldo Quirino Simões, 140,
04775-010, São Paulo, SP, tel. (11) 5523-2406
BIBLIOGRAFIA
Creche:
Organização, Montagem e Funcionamento, Gilda Rizzo, 400 págs., Ed. Record, tel.
(11) 3286-0802, 53 reais
"Bebês e crianças pequenas se
sentem à vontade quando a creche acolhe as famílias e os objetos pessoais de
todos".
Cristiane
Marangon (Revista Nova Escola, Nov, 97)
A
decisão de matricular o filho na Educação Infantil é movida por diferentes
razões. Alguns precisam apenas de um lugar para deixá-lo, enquanto outros
entendem que esse é o ambiente mais apropriado para os pequenos. Nos dois
casos, os primeiros dias na creche costumam não ser fáceis. As mães (ou
responsáveis) choram discretamente, se sentindo culpadas pela separação, e a
criançada abre o berreiro ao ver os adultos saírem pela porta. Evitar cenas
assim é possível quando os profissionais escolares programam uma boa adaptação
para todos. "Como, na maioria das vezes, essa é a primeira vivência de
meninos e meninas num espaço coletivo fora de casa, devemos fazer dessa
experiência a grande e boa referência para as próximas relações", diz
Beatriz Ferraz, diretora de projetos de formação continuada da Escola de
Educadores, em São Paulo.
No
Colégio Farroupilha, em Porto Alegre, a professora Edimari Rodrigues Romeu tem
grande preocupação com a adaptação. "Para amenizar o sofrimento das
famílias, é preciso mostrar que as crianças ficam bem na creche", lembra.
Com isso em mente, ela desenvolveu no início deste ano o projeto Um Cantinho da
Minha Casa na Escola com sua turma de berçário. O trabalho com os pequenos, de
até 1 ano e meio, durou dois meses e rendeu um diploma por ter ficado entre os
50 melhores do Prêmio Victor Civita Educador Nota 10 em 2007.
Durante
a entrevista com as famílias, Edimari pediu fotos das crianças com os parentes,
os animais de estimação e os brinquedos preferidos. "É importante que elas
encontrem objetos pessoais na escola", justifica. "Isso dá a sensação
de extensão de casa na instituição." Com o material, escolheu um canto,
colocou um tapete colorido de EVA no chão e espalhou almofadas e brinquedos
devidamente identificados. Em paralelo, confeccionou um painel com os retratos.
Tirou cópias coloridas e as fixou em cartolina branca com um adesivo
transparente largo. Por fim, colocou o mural na parede numa altura acessível ao
grupo.
Álbum
de fotos
As
imagens originais foram para álbuns individuais. A professora cortou ao meio
folhas coloridas de tamanho A4 e colou as fotos em cada pedaço. Depois, digitou
as legendas no computador e imprimiu em papel branco. Nelas, o nome das pessoas
e a situação ("Pedro com seus avós no parque", por exemplo). Para
garantir mais durabilidade, envolveu as folhas com plástico adesivo
transparente. Com o furador, fez dois orifícios em todas as páginas e as uniu
com barbante. Na capa, escreveu "Eu e minha família". Como a intenção
era deixá-los ao alcance da criançada, ela tomou o cuidado de não usar
grampeador nem fio de náilon para não causar machucados.
Todos
os dias, alguém chegava com um brinquedo para juntar ao canto. Edimari reunia a
turma numa roda, fazia a chamada e mostrava o novo objeto. "Eu contava
quem havia trazido e estimulava o empréstimo, mas nem sempre era atendida. Quem
não queria compartilhar era respeitado", diz. Dessa maneira, ficava
entendido o que pertencia a quem. O mesmo aconteceu com a inserção de fotos
inéditas, com destaque para o nome e as peculiaridades de cada família.
O tempo
todo, os pequenos estão livres para explorar o espaço. "Em alguns
momentos, eles ficam um longo período olhando e observando seus parentes e os
dos colegas", conta. Mas nem todos se acalmam vendo a imagem da família na
parede. No princípio, era comum alguns chorarem de saudade. Quando isso
acontecia, a educadora os pegava no colo e conversava sobre o momento em que se
reencontrariam com os pais novamente. Um de seus argumentos era a proximidade
da hora de saída. Para os que não têm autonomia para se locomover, como os
bebês de colo e os que ainda não engatinham ou andam, a estratégia é levá-los
ao painel ou fixar as fotos no chão com plástico adesivo transparente. Desde o início
do ano, Edimari já refez o material algumas vezes por causa da manipulação, mas
isso não é problema. O que importa mesmo é o bem-estar da turma.
Envolvimento
de todos
O CEI
Mina, na capital paulista, tem um projeto institucional de adaptação bastante
elogiado. Assim que recebe a lista de interessados em fazer a matrícula, a
diretora Rosangela Santos Barbosa marca uma entrevista com os pais ou os
responsáveis. No dia combinado, ela aplica um questionário com perguntas sobre
concepção, gestação, parto, relações afetivas, higiene, alimentação, sono e
outros aspectos da vida da criança em casa. Sua intenção é reunir informações
para que a equipe consiga fazer um atendimento personalizado. Depois, ela
explica o planejamento pedagógico e apresenta todos os espaços e funcionários,
dando ênfase aos lugares onde a criança vai ficar. O fim da conversa é um
convite para que os adultos passem alguns dias na creche, acompanhando a
rotina.
Rosangela
tem objetivos definidos. "Quero proporcionar tranquilidade e fazer com que
todos se sintam seguros acompanhando nosso trabalho", explica. A medida
tem um ganho adicional. Com a família dentro da instituição, os professores
aprendem mais rapidamente a melhor maneira de cuidar do novo integrante da
turma. "O ideal é que a primeira troca de fraldas seja feita pela mãe com
a observação do educador", defende a consultora Beatriz.
Na CEI
Mina, os adultos participam ainda de palestras e discussões pedagógicas.
"Sempre exibo um vídeo e leio sobre o tema adaptação antes de iniciar uma
reflexão", conta a diretora. Além do ambiente preparado com mesa, cadeiras
e videocassete, ela oferece um lanche. Nesse clima descontraído, todos se
sentem à vontade para compartilhar impressões e angústias. Com o entrosamento
no espaço escolar, Rosangela propõe uma oficina de sucata para a confecção de
um brinquedo. A produção dos pais é sempre colocada na sala da creche. Outra
iniciativa é integrar os participantes às atividades do dia-a-dia. "O
envolvimento é tão grande que as pessoas não se restringem a dar atenção aos
seus", narra.
Os
especialistas recomendam ainda compartilhar um texto sobre o desenvolvimento
infantil e explicar o que acontece em cada época da infância, principalmente na
fase em que está o filho.
A
equipe e a família
A equipe
pedagógica também merece uma adaptação. "A rotina da instituição se altera
completamente com a chegada de cada novo integrante, seja no início do ano,
seja agora", justifica Silvana Augusto, assessora para Educação Infantil e
formadora de professores, de São Paulo. Nesse caso, coordenadores e diretores
devem orientar professores e demais funcionários sobre como se comportar: por
exemplo, explicar aos cozinheiros que, se acriança rejeitar a comida, não é um
problema do trabalho dele.
A
adaptação é um período de aprendizagem. Família, escola e crianças descobrem
sobre convívio, segurança, ritmos e exploração de novos ambientes, entre tantas
outras coisas. Para as famílias das crianças do CEI Mina, fica a clareza de
fazer parte da creche, pois a equipe considera o sentimento delas para
desenvolver o próprio trabalho. "Estamos prontos para receber os pais.
Eles são nossos parceiros!", diz Rosangela.
No
Colégio Farroupilha, a professora gaúcha também alcançou seu objetivo: as
crianças rapidamente ficaram tranqüilas dentro do novo ambiente. Para
demonstrar isso aos pais ou responsáveis, fez fotos de diferentes situações,
como a brincadeira no tanque de areia, a hora do lanche, o abraço apertado no
brinquedo querido e os olhares felizes em direção ao mural. "As crianças
aprendem a ficar longe da família e, com isso, se apropriam dos espaços da
creche", avalia.
***
Entrevista
feita pela Revista Nova Escola, com a professora Beatriz Ferraz, leia
abaixo:
"Unir cuidados e conteúdos é
oferecer ao mesmo tempo afeto e Educação desde os primeiros anos de vida",
diz a professora e pesquisadora Beatriz Ferraz
Como funcionam as creches hoje?
BEATRIZ FERRAZ Há dois modelos mais comuns. Um com foco nos cuidados (o
bem-estar físico e as questões biológicas) e outro que usa a pré-escola como
referência (foco nos conteúdos curriculares). E ambos têm problemas. No
primeiro, a creche se organiza em torno das refeições e da higiene. A troca de
fralda não é feita de acordo com a necessidade. Ela tem hora marcada. Como
sempre, há muitos bebês e crianças pequenas sendo trocados e ninguém dá conta
de todos ao mesmo tempo. Alguns ficam esperando, sem nada para fazer. Já o
segundo exagera na escolarização. Professores não propõem atividades de
Matemática para que os pequenos explorem materiais relacionados ao assunto, mas
para aprender a contar. Na hora do banho, muitos querem ensinar sobre as partes
do corpo, quando o correto é estimular os pequenos a participar desses momentos
com mais autonomia, fazê-los entender a importância da higiene e ajudar com
pequenas ações, como lavar as mãos e levantar os braços.
Qual o modelo mais indicado, então?
BEATRIZ O ideal é encontrar o meio-termo entre os cuidados e a
escolarização. Há muitos benefícios no primeiro modelo porque os professores
são sensíveis ao carinho, ao acolhimento e ao vínculo, fundamentais nessa época
da vida. No segundo, o bacana é entender que as crianças são competentes,
ativas e produtoras de cultura. Mesclar isso é a chave.
Os pais entendem essas diferenças?
BEATRIZ Sim. E sofrem com a polarização. A referência que eles têm é a
da escola regular. Mas, quando encontram essa escolarização na creche, sentem
falta do colo, do afeto, da emoção. Ao mesmo tempo, muitas famílias acham que
as crianças, desde cedo, devem ter cadernos e atividades de linguagem. É papel
do profissional de Educação Infantil explicar essa dupla função da escola para
os pequenos.
Quais são os ingredientes de uma boa proposta pedagógica?
BEATRIZ É fundamental inteirar-se sobre a concepção de bebê e criança
pequena. Existe um discurso mais difundido sobre a pré-escola: os meninos e as
meninas são ativos, construtores de cultura, fazem escolhas e tomam decisões.
Para a creche, é essencial definir os grandes marcos do desenvolvimento:
sentar, engatinhar, andar, falar, desfraldar etc. Da mesma forma, a boa
proposta pedagógica deve contemplar que esses sujeitos tenham possibilidades de
interação (e não sejam tratados como passivos, completamente dependentes dos
adultos, sem outra necessidade além das básicas). Estudar o que os teóricos
deixaram é outro ponto. O que Jean Piaget (1896-1980) queria dizer com o
período sensório-motor? E Lev Vygotsky (1896-1934), ao afirmar que o bebê é um
sujeito social? Nenhum deles disse que os pequenos precisam aprender a contar
ou a segurar o lápis. Por isso, acredito que uma proposta pedagógica para a
creche deve ter espaço para a formação de valores, a constituição da criança
como sujeito, as relações sociais e as questões de vínculo, segurança e afeto.
Todos devemos estar conscientes de que os bebês conhecem o mundo em todas as
suas facetas: cheiros, gostos, formas, texturas, sons - e só depois vão organizar
esse conhecimento.
Como os bem pequenos aprendem na Educação Infantil?
BEATRIZ Sempre de forma ativa. Na relação com as pessoas, os objetos, o
ambiente, outros bebês ou crianças mais velhas. É preciso valorizar a
exploração e a manipulação, investindo em materiais que possibilitem isso, como
os brinquedos. Um cubo áspero de um lado e escorregadio de outro permite que o
bebê entenda essas diferenças. Os pequenos também aprendem fazendo escolhas. O
francês Gilles Brougère diz que o bebê já sabe se deseja ou não brincar. Quando
não quer, chora. Quando quer, estica a mão, mexe a perna, dá um grito. É
importante respeitar esse interesse. Além disso, é fundamental entender que não
é o professor que ensina a criança a explorar e escolher. Isso acontece naturalmente.
Seu papel é propiciar oportunidades. Daí a importância do ambiente para
garantir a interação com segurança e conforto.
Como deve ser o espaço da creche?
BEATRIZ Ele deve ter diferentes objetos motivadores, como brinquedos e
outros materiais que ofereçam diversas experiências. Não é preciso ter seis
bonecas na sala porque há seis crianças. Existe essa idéia de que elas têm
dificuldade de dividir. Na verdade, elas vêem o objeto do outro e querem
brincar junto para interagir.
Quais são as qualificações pessoais mais importantes para trabalhar em
creche?
BEATRIZ Gostar das crianças é essencial, mas não basta. A pessoa tem de
estar preparada para cuidar e educar. Precisa saber lidar com imprevistos, se
relacionar bem com outras pessoas e ter ética. Não é admissível tirar a
mamadeira da boca de um bebê, colocá-lo no berço e se despedir só porque está
na hora de ir embora.
Como deveria ser a formação inicial?
BEATRIZ Para começar, a expressão cuidado deve ser entendida como cuidar
e educar. Também é importante saber trocar fralda, dar banho, segurar no colo e
ter noções de primeiros socorros. É essencial entender como se dá o
desenvolvimento humano dentro de situações coletivas, como a escola, e ser
formado para refletir sobre a própria prática.
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