quinta-feira, 27 de agosto de 2015

A alfabetização e a importância do professor alfabetizador: a magia de ensinar a ler e a escrever.

A alfabetização e a importância do professor alfabetizador: a magia de ensinar a ler e a escrever.
 
Eu nunca me esqueci de minha professora alfabetizadora, Dª Martha de Albuquerque. Ela tinha uma forte e tenra presença entre nós. Carinhosa, autêntica e acima de tudo motivadora. Foi minha professora em um grupo escolar (ensino de 1º grau como se falava) no interior de Minas Gerais. Todo ano, quando ao participar da cerimônia de final de ano em minha escola quando as professoras alfabetizadoras “entregam” aos familiares as crianças alfabetizadas, eu me lembro dela. 

Em meu discurso, sempre faço menção a ela. Foi a Dª Martha quem me ensinou a ler e a escrever. O mundo era outro, basicamente se alfabetizava o aluno sem a preocupação de viabilizar às crianças a oportunidade do contato com as práticas sociais. O mundo letrado daquele tempo não estava contextualizado na realidade dos alunos. Na verdade, nem as educadoras. A preocupação era fazer a criança ler e escrever em pouco tempo e de forma mecânica. Hoje, não é assim mais.

Emília Ferreiro, educadora por nós todos muito admirada, contribuiu e muito para a mudança de paradigmas na alfabetização e certamente influenciou na postura dos professores alfabetizadores. As alfabetizadoras passaram a entender que esse processo não deve ser mecânico, mas sim algo que vai muito além da fusão de signos e que deveria envolver um complexo processo de hipóteses sobre a representação linguísticas, entendendo que o letramento deveria estar sintonizado com a compreensão da dimensão sócio-cultural da língua escrita e também do aprendizado, pois necessita focalizar os aspectos sociais e históricos da sociedade em que a criança vive.
 
Certamente esse paradigma exige das professoras alfabetizadoras um novo olhar, uma postura diferente e um compromisso com a contextualização e com a realidade social, cultural, econômica e política de seu tempo e de seu meio. A alfabetizadora é chamada, então, a fazer uso dos instrumentos alfabetizadores, preparando os alunos para a vida social deles.

O educador, a partir dessa perspectiva, passa a ter que envolver a leitura e a escrita às práticas sociais contemporâneas. Desta forma, o alfabetizar é um processo de integração humana, em que o educando, em seu processo de aquisição da escrita e da leitura, adquire de forma contextualizada a inclusão no universo da linguagem, não só o domínio da escrita, mas também a consciência de seu próprio universo. Resta aí, então, uma professora alfabetizadora que não seja apenas conhecedora das práticas pedagógicas, mas também conhecedora do mundo que as cerca.
No sentido mais didático-pedagógico, a alfabetizadora deverá ser também capaz de conhecer a estrutura da língua e seu funcionamento, o que certamente exige um preparo técnico muito maior. A formação linguística ganha importância máxima. É dizer, então, que o professor, em toda sua dimensão e em toda a capacidade laboral, necessita de conhecimentos sócio-culturais e político-econômicos do mundo em que vive; deixa-se de lado a simples memorização de sílabas, conceitos linguísticos e regras de escrita. Sem a contextualização, os alunos não irão aprender bem a ler e a escrever, aí é que o compromisso do educador ganha importância e o seu trabalho qualificado torna-se a diferença entre formar bons leitores e bons escritores. Crianças capazes de escrever, ler e interpretar com consciência e capacidade reflexiva é o que desejamos com a alfabetização.
Nesse sentido, a perfeita condução do processo de alfabetização recai sob a responsabilidade da educadora. Paulo Freire (1996, p. 92) diz que “o professor que não leva a sério sua formação, que não estuda, que não se esforça para estar à altura de sua tarefa não tem força moral para coordenar as atividades de sua classe”.

Todos nós, educadores e educandos, sofremos uma forte pressão advinda das constantes transformações nas áreas econômicas, política e social. Também é notório que as novas tecnologias e a globalização mundial têm forçado a escola a adequar os seus objetivos e os professores a se colocarem diante de novos desafios. A escola tem sido desafiada a buscar soluções às imposições do sistema econômico que se moderniza. O novo homem exigido pela sociedade contemporânea exige também um novo educador. Alfabetizadoras igualmente estão sendo chamadas a desenvolverem novas habilidades. Estão o tempo todo sendo desafiadas a aprender para ensinar. Aliás, só pode ensinar quem aprende, e o aprender é um ato contínuo, sem fim. 

Por isso mesmo, a educadora alfabetizadora de nosso tempo tem que estar conectada com a evolução e disposta a lidar com o novo. Seus alunos estão chegando mais críticos, carregando uma bagagem de “conhecimento informal” cada vez maior. Chegam desejosos de aprender, com prontidão. Cabe a todos nós, educadores, a missão de ensiná-los. Sei que o peso é grande, mas a parcela maior na educação é mesmo nossa. Por isso, a professora tem que se perceber como um ser indivíduo em constante aprendizagem para poder ensinar.

É sabido que a prática docente reflete um complexo processo que depende da história individual de cada educador. Depende também das práticas educativas e certamente do jogo social da professora com os educandos. Por isso, o ato de alfabetizar tem que compreender a sua prática enquanto formadora de sujeitos. Saber que como possuidora de informação e das técnicas didático-pedagógicas, cabe a ela a responsabilidade de despertar (ou inibir) na criança o desejo de aprender. Cabe às educadoras alfabetizadoras possibilitar aos seus alunos o domínio da linguagem oral e escrita como forma de possibilitar a manifestação de cada eu existente em cada ser que elas educam. 

Assim sendo, alfabetizar ganha um significado gigante e a professora, nesse processo, uma responsabilidade muito significativa. A magia de ensinar a ler e a escrever é algo muito mais do que técnica de ensinar. Passa pela capacidade humana de se ler e de saber ler aqueles que estão aos seus cuidados.

Referências:
- Ferreiro, Emília. Reflexões sobre alfabetização. São Paulo, Cortez, 2001;
- Freire, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários a prática educativa. São Paulo, Paz e Terra, 1996;

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