O
livro “quem educa quem?” faz os educadores pararem para refletir sobre
sua prática. A autora faz neste livro muitas criticas com relação a
alguns aspectos da educação, como, a necessidade do diploma
universitário, as aprendizagens fora da sala de aula, os erros no ensino
de educação artística, e também com a postura dos professores. Fanny
cita vários artigos e palestras, muitas vezes questionando as perguntas e
experiências, melhor dizer a falta de experiência de professores, a
descrença entre eles mesmos, o conteúdo extremamente desvinculado da
vida humana e de outros conteúdos e a preocupação exagerada por parte
das escolas e dos pais apenas com o vestibular, preocupação esta, já
desde a educação infantil. Ajudar o aluno a ter novas experiências,
sentindo prazer é muito importante, ela diz, só o aprendizado cognitivo
não torna o ser humano feliz, há uma preocupação da autora com o
primeiro da classe, que segundo ela, não vive a vida, o aluno deveria
competir com ele mesmo, superar suas próprias deficiências e falhas, o
primeiro da classe tende a aceitar tudo, não questiona, não tem chance
de crescer como pessoa. Fanny pesquisou alunos a respeito das aulas de
arte e diz que os alunos gostam mais das aulas de artes, pela liberdade
de pensar e desenvolver as próprias idéias livremente fazendo porque
gosta, enquanto nas aulas de classe só faz o que a professora manda
evidentemente que não são todas as aulas de arte que as crianças gostam,
mas foram colhidas respostas das próprias crianças o porque gostam de
uma e de outra não. Quando a autora fala sobre como saem despreparados
dos cursos superiores e além de tudo ganham tão mal que precisam
ministrar muitas aulas para viver alem de tudo diz ela ganham tão mal
que precisam ministrar muitas aulas para viver, sabemos muito bem do que
ela está falando, pois é fácil comprovar isso, continuamos saindo
despreparados. Mesmo o livro tendo sido escrito há tanto tempo, ainda
nada mudou. Essa falta de preparação impede o professor de trabalhar o
lado criativo do aluno, já este também não o tem, ficando evidente a
preocupação apenas com o cognitivo. A escola também não fornece nenhum
incentivo, atolando o professor com planejamentos elaborados
antecipadamente, limitado e sem possibilidades de conquistas junto aos
alunos, é impossível fazer um bom trabalho dessa maneira, não há ligação
com o aluno. O educador deve saber o seu papel na história e valorizar
isso, ter postura de educador onde quer que seja, ser um transformador
de si e dos alunos, para que possam atuar na sociedade com criticidade e
ter segurança ao ensinar. A escola é muito separada da vida, Fanny
relata que em uma de suas palestras havia professores de educação
artística que nunca tinham ido ao teatro, ou seja, os professores são
despreparados em suas próprias funções e foram preparados por
professores também mal preparados, ficando totalmente perdidos, não
sabem o que é arte, nem como e o que ensinar, muito menos o que
significa desenvolver a criatividade. Há uma incapacidade de despertar o
interesse e a curiosidade tão importante para um aprendizado
significativo da criança. O professor deveria estimular, o que hoje em
dia é só teoria, que a criança traga conceitos de sua própria realidade,
tornando o conhecimento em qualquer área muito mais amplo, tanto para o
aluno quanto para o professo Em um dos capítulos ela aborda a respeito
do visual das escolas, onde entrevista Madalena Freire e o artista
plástico Valdir Sarubbi, os três têm a mesma opinião sobre como são
decoradas as escolas, dizem que uma olhada e já se nota-se qual é a
proposta da escola, e como a professora encara o processo educacional e
quais os valores que estão em jogo. É importante que a sala não tenha
tantos detalhes e que não atrapalhem o efeito visual na hora de expor um
trabalho feito pelos alunos feita em sala de aula. As brincadeiras de
rua, as cantigas de roda os brinquedos inventados e muitas vezes
desinventados, segundo Fanny são brincadeiras educativas
insubstituíveis, e que qualquer lugar bem aproveitado se torna
educativo. Defende bem os aspectos sentimentais e as experiências
pessoais, assim como deveríamos todos nos educadores fazer, mas teimamos
em fingir que não entendemos isso e ainda insistir em conteúdos
isolados. Os trabalhos produzidos pelas crianças na escola são muito
importantes para elas, pois é a sua expressão, devendo ser levado pra
casa e aceito pela família, ela tem necessidade de mostrá-lo, pois
coloca neles parte de si e sente necessidade de expor, cabe a família
entender este processo e recebê-los. A autora aborda um tema muito comum
hoje em dia em projetos escolares que é o concurso dentro da escola, em
que premia o melhor trabalho feito por alunos, segundo ela este tipo de
premiação destina precocemente a criança a uma área especialista
podendo bloquear manifestações posteriores, a criança deveria se
expressar com liberdade, o educador deve saber respeitar e entender
isso. Este capítulo é muito especial, devemos perceber o que podemos
fazer com as crianças quando colocamos em nosso planejamento algo assim.
O nome da escola é um atestado ideológico, diz a autora, há falta de
imaginação na escolha do nome, muitas vezes infantilizando a escola
mesmo quando já não é apenas uma escolinha infantil ou então nomes tão
incompreensíveis para as crianças ou nomes que elas sentem vergonha em
dizer onde estudam. No capítulo que trata a respeito dos mestres que
contribuíram em sua formação, entrevista seus três grandes mestres que é
Antônio Candido de Mello e Souza, João Vilanova Artigas e Paulo Freire,
também falando de seus mestres. O relato de Paulo Freire é comovente,
fala de como aprendeu com a fome, com os amigos, as namoradas, os
alunos, a mulher, enfim, e diz que aprender a lidar com a liberdade e a
autoridade é essencial à formação de qualquer educador. Os três têm em
comum que seus primeiros mestres foram seus pais, a família tão
comentada atualmente como ponte entre a escola e o aluno, os mestres têm
também consciência de sua história, e valorizam a pesquisa. A
necessidade dos diplomas, abordado no livro, nós nos deparamos com
situações de pessoas muito bem em suas carreiras sem ter estudado em
escola e outras em carreiras completamente diferentes das que se
formaram, concluindo que na escola não há uma ligação com a vida
afastando muitas vezes os estudantes que fogem dela,como alguns
relataram, preferindo estudar sozinhos, ser autodidata. O que tem em
comum entre essas pessoas, é que todas elas lêem muito e aprenderam com a
experiência da vida. Ou seja, a experiência vivida ensina mais que a
escola, e a leitura interessada na escolha que fez é muito mais
abrangente, pois ensina conteúdo vinculado ao fazer útil, na hora em que
a necessidade impõe, existindo uma ligação entre o aprender por prazer,
por querer. A leitura deste livro nos remete a variadas sensações, ora
nos faz sentir raiva, ora prazer, muitas vezes descrença na educação,
nos professores e nas escolas, mas o maior recado da autora é a
conscientização de como anda nossa prática e mudá-la se necessário.
ABRAMOVICH, Fanny, quem educa quem?, Summus editorial. 9ºed. São Paulo.
1985.
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