No atendimento com criança a queixa inicial
é sempre trazida pelos pais e esta geralmente se apresenta de forma
confusa; neste momento o terapeuta tem que intervir como facilitador da
comunicação dos problemas, buscando uma definição dos objetivos
pretendidos. O profissional nesta situação deve ajudar aos pais a
optarem pelo bem-estar da criança definindo então metas para a atuação
terapêutica.
A posição da criança, no processo terapêutico, é diferente,
visto serem os pais ou outros responsáveis, que buscam atendimento para
ela. Em conseqüência, influenciam o estabelecimento de metas,
concordam ou não com o plano de atendimento, e determinam até mesmo
quando a terapia deve ser encerrada. Crianças de todas idades são
encaminhadas a profissionais da saúde mental podendo apresentar uma
infinidade de problemas desde disfunções na fala, dificuldade de
aprendizagem, medos, depressão, hiperatividade, desobediência,
retraimento, tiques, dificuldade para fazer amigos, entre outros.
Com freqüência os terapeutas entrevistam os pais antes de ver a
criança individualmente de modo a obter informações sobre os
problemas apresentados, a história dos problemas, formas anteriores de
lidar com os problemas, as forças da criança, acontecimentos
significativos na vida da criança, tais como mudança ou morte, além
de problemas ou doenças físicas. Geralmente as crianças podem
apresentar-se ansiosas em relação ao contato com o terapeuta. O
profissional deve auxiliar os pais a pensarem sobre algumas maneiras de
preparar a criança para este momento. "Apesar de sempre existirem
exceções, cremos que os pais podem ser suficientemente diretos quando
explicarem porque estão recorrendo à terapia. É provável que a criança
já esteja consciente de que os pais estejam preocupados com algo. Não
será surpresa se os pais, novamente, de forma aberta, expressarem suas
preocupações e explicarem que vão conversar com alguém especializado
que procura ajudar as pessoas com estes tipos de problemas. Os pais
deverão esclarecer à criança que o terapeuta fará perguntas aos
membros da família a respeito deles próprios e dos problemas que vêm
experimentando.(...) É importante que não a engane, levando-a a
esperar que o encontro com o terapeuta será mais ou menos como na
escola ou numa brincadeira. Quando crianças muito novas são informadas
sobre terapia, é também uma boa idéia pedir aos pais que não usem a
palavra doutor, pois isto pode evocar medos de tomarem injeção
ou de ter um dente arrancado.
Freqüentemente com crianças com menos de 10 anos utiliza-se
entrevistas lúdicas (com jogos ou brinquedos). As entrevistas com jogos
ou brinquedos podem ser parcialmente estruturadas ou não-estruturadas.
Essas entrevistas geralmente tem como início o modo totalmente não-estruturado,
pois a criança faz uso livre dos materiais, o terapeuta de forma
gradativa realiza perguntas sobre a problemática ou questões
referentes. Estas perguntas podem ser relacionadas ou não com o
brinquedo embora estas ocorram quando a criança está em relação com
ele, mas a criança deve estar à vontade para responder quando estiver
ocupada com atividades mais agradáveis.
As crianças variam na quantidade e tipo de verbalização durante as
sessões de brinquedo ou jogo. Seu discurso pode estar focado no
brinquedo ou em outros tópicos. O material de jogo em brinquedo não
precisa ser elaborado, mas deve incluir os seguintes materiais ou pelo
menos alguns deles: blocos de madeira; bonecos flexíveis e pequenos,
usados às vezes em casas de boneca, incluindo mãe, pai, menino, menina
e bebê; uma boneca-bebê, talvez com uma genitália anatomicamente
perfeita; carros e caminhões pequenos; soldados, cowboys e índios;
marionetes; massa de modelar; pequenas armas de brinquedo; papel e lápis.
A idéia fundamental no uso de entrevistas lúdicas é a de que as crianças
irão projetar suas questões-chaves no conteúdo do brinquedo e na
maneira com que utilizam o material; as crianças geralmente usam o
brinquedo para controlar suas preocupações. Elas podem, indiretamente,
revelar medos, fontes de raiva, preocupações sexuais, culpa e conflito
com os pais através do brinquedo. Através da observação do brinquedo
é possível avaliar a inteligência, criatividade, espontaneidade,
defesas, habilidades percepto-motoras, processos de pensamento, organização,
percepção de si próprio e dos outros e a natureza dos processos de
interação. O brincar com a criança pode oferecer informações acerca
de atitudes em relação a regras, modo de lidar com a vitória e a
derrota, impulsividade, comportamentos dependentes e independentes,
disposição para ser ensinada, estilos de aprendizagem, comportamento
de expor-se a riscos, modo de iniciar uma interação e atitudes em relação
à competição.
Os desenhos são considerados uma fonte rica de informações, pois há
muitas crianças que desenham espontaneamente durante a entrevista
enquanto que outras só quando solicitadas.
Outra técnica muito utilizada é o uso da fantasia que pode ser
empregada no relato verbal de estórias fictícias, "onde a criança
descreve os sentimentos dos personagens e as possíveis regras que
governam seus comportamentos, se deve ao fato de que este instrumento
– a fantasia – favorece a identificação de possíveis sentimento
da própria criança, através de inferências baseadas no seu relato
verbal. Oaklander retoma o uso da fantasia, ainda na proposta gestáltica,
escrevendo uma nova maneira de trabalhar com esse instrumento. Em
algumas situações, pede a criança que permaneça de olhos fechados,
enquanto descreve estórias irreais que devem ser imaginadas. É então
solicitado que a criança complete a fantasia. Em seguida, desenhe o que
imaginou; a cada contato com a criança são propostos cinco tipos de
atividades para que escolha uma delas: desenho livre, desenho em
quadrinhos, estórias de gravura, argila e construção de cena com
brinquedos. Cada atividade é finalizada com uma fantasia, sendo
registrado o relato verbal da criança. A seguir, são feitas perguntas
para tornar mais compreensíveis os pontos obscuros e omissões,
enquanto outros tipos de perguntas pretendem levar à identificação de
incoerências no relato.
Para a realização da entrevista lúdica pode ser usada uma caixa
onde seja incluído os seguintes materiais:
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A criança usa o material lúdico e gráfico para expressar aquilo
que se passa com ela; este material poderá ser utilizado como um reforçador
junto à mesma.
As informações obtidas através da avaliação devem ser
interpretadas e integradas para proporcionar um entendimento mais
profundo dos problemas apresentados. Esta formulação deve incluir
comentários sobre recursos e déficits específicos da personalidade e
o modo como eles relacionam-se aos problemas, gravidade do problemas,
variáveis fisiológicas, psicológicas, familiares e socioculturais
que contribuem para o desenvolvimento e manutenção dos problemas, consequências dos problema para a criança e a família e os meios
atuais de lidar com os problemas.
Fonte: http://www.psicanalise.psc.br/indexenter.htm
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