sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Ludoterapia


No atendimento com criança a queixa inicial é sempre trazida pelos pais e esta geralmente se apresenta de forma confusa; neste momento o terapeuta tem que intervir como facilitador da comunicação dos problemas, buscando uma definição dos objetivos pretendidos. O profissional nesta situação deve ajudar aos pais a optarem pelo bem-estar da criança definindo então metas para a atuação terapêutica.
A posição da criança, no processo terapêutico, é diferente, visto serem os pais ou outros responsáveis, que buscam atendimento para ela. Em conseqüência, influenciam o estabelecimento de metas, concordam ou não com o plano de atendimento, e determinam até mesmo quando a terapia deve ser encerrada. Crianças de todas idades são encaminhadas a profissionais da saúde mental podendo apresentar uma infinidade de problemas desde disfunções na fala, dificuldade de aprendizagem, medos, depressão, hiperatividade, desobediência, retraimento, tiques, dificuldade para fazer amigos, entre outros.
Com freqüência os terapeutas entrevistam os pais antes de ver a criança individualmente de modo a obter informações sobre os problemas apresentados, a história dos problemas, formas anteriores de lidar com os problemas, as forças da criança, acontecimentos significativos na vida da criança, tais como mudança ou morte, além de problemas ou doenças físicas. Geralmente as crianças podem apresentar-se ansiosas em relação ao contato com o terapeuta. O profissional deve auxiliar os pais a pensarem sobre algumas maneiras de preparar a criança para este momento. "Apesar de sempre existirem exceções, cremos que os pais podem ser suficientemente diretos quando explicarem porque estão recorrendo à terapia. É provável que a criança já esteja consciente de que os pais estejam preocupados com algo. Não será surpresa se os pais, novamente, de forma aberta, expressarem suas preocupações e explicarem que vão conversar com alguém especializado que procura ajudar as pessoas com estes tipos de problemas. Os pais deverão esclarecer à criança que o terapeuta fará perguntas aos membros da família a respeito deles próprios e dos problemas que vêm experimentando.(...) É importante que não a engane, levando-a a esperar que o encontro com o terapeuta será mais ou menos como na escola ou numa brincadeira. Quando crianças muito novas são informadas sobre terapia, é também uma boa idéia pedir aos pais que não usem a palavra doutor, pois isto pode evocar medos de tomarem injeção ou de ter um dente arrancado.
Freqüentemente com crianças com menos de 10 anos utiliza-se entrevistas lúdicas (com jogos ou brinquedos). As entrevistas com jogos ou brinquedos podem ser parcialmente estruturadas ou não-estruturadas. Essas entrevistas geralmente tem como início o modo totalmente não-estruturado, pois a criança faz uso livre dos materiais, o terapeuta de forma gradativa realiza perguntas sobre a problemática ou questões referentes. Estas perguntas podem ser relacionadas ou não com o brinquedo embora estas ocorram quando a criança está em relação com ele, mas a criança deve estar à vontade para responder quando estiver ocupada com atividades mais agradáveis.
As crianças variam na quantidade e tipo de verbalização durante as sessões de brinquedo ou jogo. Seu discurso pode estar focado no brinquedo ou em outros tópicos. O material de jogo em brinquedo não precisa ser elaborado, mas deve incluir os seguintes materiais ou pelo menos alguns deles: blocos de madeira; bonecos flexíveis e pequenos, usados às vezes em casas de boneca, incluindo mãe, pai, menino, menina e bebê; uma boneca-bebê, talvez com uma genitália anatomicamente perfeita; carros e caminhões pequenos; soldados, cowboys e índios; marionetes; massa de modelar; pequenas armas de brinquedo; papel e lápis. A idéia fundamental no uso de entrevistas lúdicas é a de que as crianças irão projetar suas questões-chaves no conteúdo do brinquedo e na maneira com que utilizam o material; as crianças geralmente usam o brinquedo para controlar suas preocupações. Elas podem, indiretamente, revelar medos, fontes de raiva, preocupações sexuais, culpa e conflito com os pais através do brinquedo. Através da observação do brinquedo é possível avaliar a inteligência, criatividade, espontaneidade, defesas, habilidades percepto-motoras, processos de pensamento, organização, percepção de si próprio e dos outros e a natureza dos processos de interação. O brincar com a criança pode oferecer informações acerca de atitudes em relação a regras, modo de lidar com a vitória e a derrota, impulsividade, comportamentos dependentes e independentes, disposição para ser ensinada, estilos de aprendizagem, comportamento de expor-se a riscos, modo de iniciar uma interação e atitudes em relação à competição.
Os desenhos são considerados uma fonte rica de informações, pois há muitas crianças que desenham espontaneamente durante a entrevista enquanto que outras só quando solicitadas.
Outra técnica muito utilizada é o uso da fantasia que pode ser empregada no relato verbal de estórias fictícias, "onde a criança descreve os sentimentos dos personagens e as possíveis regras que governam seus comportamentos, se deve ao fato de que este instrumento – a fantasia – favorece a identificação de possíveis sentimento da própria criança, através de inferências baseadas no seu relato verbal. Oaklander retoma o uso da fantasia, ainda na proposta gestáltica, escrevendo uma nova maneira de trabalhar com esse instrumento. Em algumas situações, pede a criança que permaneça de olhos fechados, enquanto descreve estórias irreais que devem ser imaginadas. É então solicitado que a criança complete a fantasia. Em seguida, desenhe o que imaginou; a cada contato com a criança são propostos cinco tipos de atividades para que escolha uma delas: desenho livre, desenho em quadrinhos, estórias de gravura, argila e construção de cena com brinquedos. Cada atividade é finalizada com uma fantasia, sendo registrado o relato verbal da criança. A seguir, são feitas perguntas para tornar mais compreensíveis os pontos obscuros e omissões, enquanto outros tipos de perguntas pretendem levar à identificação de incoerências no relato.
Para a realização da entrevista lúdica pode ser usada uma caixa onde seja incluído os seguintes materiais:
  • Tinta a dedo;
  • Papel sulfite
  • Lápis de cor;
  • Lápis preto;
  • Lápis de cera;
  • Canetinhas Hidrocor;
  • Apontador;
  • Borracha;
  • Cola;
  • Durex;
  • Barbante;
  • Tesoura sem ponta;
  • Palitinhos de madeira;
  • Revistinhas,
  • Livros;
  • Massa de modelar, de diversas cores;
  • Família de pano;
  • Família de animais selvagens e domésticos;
  • Revolver de brinquedo;
  • Carrinhos ou caminhões ( pelo menos dois);
  • Xícaras e seus respectivos pires;
  • Fogão, panelinha;
  • Dominó;
  • Blocos de Madeira ou de Plástico;
  • Pinos de Encaixe;
  • Material de Sucata;
  • Fantoches e,
  • Jogos Comerciais Estruturados.
A criança usa o material lúdico e gráfico para expressar aquilo que se passa com ela; este material poderá ser utilizado como um reforçador junto à mesma.
As informações obtidas através da avaliação devem ser interpretadas e integradas para proporcionar um entendimento mais profundo dos problemas apresentados. Esta formulação deve incluir comentários sobre recursos e déficits específicos da personalidade e o modo como eles relacionam-se aos problemas, gravidade do problemas, variáveis fisiológicas, psicológicas, familiares e socioculturais que contribuem para o desenvolvimento e manutenção dos problemas, consequências dos problema para a criança e a família e os meios atuais de lidar com os problemas.

Fonte:  http://www.psicanalise.psc.br/indexenter.htm

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