O
medo é uma resposta emocional que faz parte do desenvolvimento normal e
é essencial para a sobrevivência humana. Antes de pensarmos no medo
como uma coisa ruim, precisamos nos lembrar que é, ao mesmo tempo,
adaptativo e protetor. Portanto, não ter medo é muito perigoso!
As crianças normalmente têm medos. Esse medos variam de acordo com a
idade e mesmo de um dia para o outro. Um objeto ou situação que era
indifirente um dia, pode se tornar assustador, no outro. Precisamos nos
lembrar que, como adultos, não temos a imaginação de nossos filhos.
Crianças possuem uma imaginação extraordinária e nós adultos não somos
capazes de entender o grau de terror que as crianças podem sentir, com
coisas que, por mais que nos esforçemos, somos incapazes de ver como
assustadoras. Portanto, a primeira coisa que os pais podem (e devem)
fazer é não desprezar ou desqualificar o medo de seus filhos.
Os medos podem se desenvolver como uma resposta a situações reais
vividas, como um acidente, um tombo, um choque, uma queimadura ou como
associações de dois eventos separados como assistir a um filme
assustador em dia de chuva e passar a ter medo da chuva.
Os pais devem se lembrar que, muitas vezes, são eles que incutem
medos nas crianças. Frase como: o médico vai te dar uma injeção se você
não comer o espinafre; faz o que a mamãe está pedindo senão o bicho
papão vem te pegar, são apenas dois exemplos de coisas ditas que podem
gerar medos.
Um dos primeiros medos que surge é o medo da separação dos pais. Esse
medo é claramente percebido entre 1 e 3 anos, quando a criança consegue
se expressar. No entanto, o medo da separação pode acontecer em bebês
maiores. Muitas vezes um bebê chora à noite simplesmente porque não vê a
sua mãe. Nem sempre o choro noturno de um bebê maior é fome ou fralda
molhada. Muitas vezes, a simples presença da mãe ou do pai, fazendo um
carinho, sussurando, embalando no colo, tranquilizam a criança e esta
volta a dormir. Quando a criança é maior, ela mesmo se levanta da sua
cama e vai para o quarto dos pais. O medo da separação é um temor de
que algo ruim possa acontecer com os pais e costuma se dissipar até os 5
anos.
Só reforçando o que disse a respeito do lado bom do medo, quando um
bebê ou uma criança tem medo de cachorros ou de estranhos, é nitidamente
uma emoção de proteção. Esses medos de proteção são compreensíveis para
os pais. No entanto, crianças, porque possuem uma imaginação
maravilhosamente criativa, podem ter medo de quase qualquer coisa. Os
medos mais comuns são os de abandono, percebido quando a criança começa a
frequentar uma creche ou escola. Algumas crianças se agarram nas mães,
chorando de forma inconsolável. No seu imaginário, as mães nunca mais
voltarão. Isso não é um excelente motivo para sentir medo? Crianças
podem sentir medo do escuro. No escuro tudo pode acontecer, sem que seja
visto. O escuro permite à imaginação povoar o espaço com coisas
terríveis (e invisíveis)! O medo de bichos é outro medo comum, como
algumas crianças têm medo de ruído (liquidificador, aspirador de pó
etc.). Monstros e bruxas são motivos de medos fantásticos, alguns com
histórias extraordinárias. Conheci um menino de 5 anos que tinha medo da
“loura do espelho”. Seria uma mulher loura que sairia do espelho do
banheiro para pegá-lo, à noite. Esse é apenas um exemplo da capacidade
imaginativa das crianças.
O que os pais precisam saber é que medos são comuns e se dissipam com
o tempo e a experiência. Sugiro que vocês tentem se lembrar de alguma
situação de medo que viveram na infância, apenas para sentirem o quão
criativos já foram também.
Quando a criança expressa o seu medo, não basta dizer que tal coisa
não existe. É importante reassegurar a criança de que, de fato, mamãe e
papai estão no quarto ao lado, de que bruxas e monstros não existem etc.
Em algumas situações de medo, os pais devem ir além e dizer algo como:
mesmo que existisse a tal bruxa (ou monstro), eu daria um soco no nariz
dela e um pontapé no bumbum que ela fugiria correndo e nunca mais
voltaria.
Muitos livros infantis falam dos medos de uma forma lúdica. Ler esses
livros com seus filhos permite que o assunto do medo surja em um
momento lúdico e permita que a criança fale dos seus medos, sem estar
sentindo medo.
Com crianças maiores, os pais devem evitar situações que desencadeam
situações de medo. As mais frequentes são filmes na TV ou alguns jogos
que, quando vistos ou jogados, principalmente antes de dormir, estimulam
a imaginação criativa da criança.
Por Dr. Roberto Cooper
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