Parece que é automático! É só apresentar para os pequenos algo com que riscar que o ato de desenhar se inicia na mesma hora!
Que bom! Porque quanto mais desenha, mais a criança desenvolve o desenho os ganhos cognitivos que o ato proporciona.
Até
os 12 meses a criança descobre a existência dos objetos que podem
deixar marcas nas superfícies (riscadores e suportes). Começa então uma
produção natural e espontânea de traços, inicialmente desordenados e sem
controle (garatujas desordenadas). Porque ainda não
tem maturidade para coordenar seus movimentos, os traços são fortes e
descontínuos. Também não existe percepção do espaço gráfico e nota-se
que os traços ultrapassam os limites dos suportes (papel, por exemplo).
Braço e antebraço são como um membro unido que se move a partir da
articulação do ombro.
Aos
18 meses o antebraço se movimenta com um pêndulo a partir do cotovelo e
a criança começa a fazer traços mais regulares. Com o amadurecimento, o
desenho vai conquistando fluidez e continuidade. Nessa fase a criança
percebe que existe uma relação entre seus movimentos e o resultado dos
seus traços.
Os movimentos do pulso ganham maturidade e os riscos ficam mais
curtos e controlados. Persistem as batidinhas que marcam pontos e as
linhas ganham curvas. Conquistando maior desenvoltura com o pulso, a
criança executa os desenhos circulares. As bolinhas e mais bolinhas das garatujas controladas
determinam a conquista do desenvolvimento da coordenação visual e
motora. É nesse momento que o pequeno descobre que pode produzir uma
marca voluntária e isso o estimula a variar seus movimentos,
enriquecendo a atividade. Esse controle motor reflete-se no desempenho
de outras atividades, como abotoar casacos e calçar sapatos.
Entusiasmada
com as garatujas, a criança começa a nomear o que produz. Isso indica
que seu pensamento ganhou novas dimensões, conectando seus movimentos
com o mundo que a rodeia. A criança passa do pensamento cinestésico* ao
pensamento imaginativo. Começamos então a escutar uma narrativa sobre o
desenho, mas as histórias e a nomeação mudam enquanto realiza as
produções.
Nessa fase a criança começa a utilizar intencionalmente as cores. Mas
até 4 ou 5 anos, as cores utilizadas não tem relação direta com os
objetos reais. Assim, são comuns os cachorros azuis e figuras humanas
verdes! Adotam com desenvoltura cores fortes e contrastantes.
Nessa etapa o ato de desenhar se caracteriza pela busca consciente da
forma e os adultos começam a reconhecer nos traços da criança os
objetos que ela nomeia. As figuras humanas são geralmente as primeiras
figuras desenhadas. Inicialmente representadas por um círculo com duas
linhas que partem verticalmente, as figuras vão ficando mais complexas
com o passar do tempo e o exercício espontâneo. A composição dos objetos
desenhados tem uma ordem particular, desordenada.
Somente
a partir dos 7 anos as formas ganham a complexidade nos detalhes,
ficando mais definidas. Nesta fase as figuras humanas são representadas
com minúcias que os adultos podem identificar. A composição apresenta a
linha do solo como base e, mais tarde, aparece o céu.
Percebemos então um claro processo de conquista de desenvolvimento
intelectual e motor que depende de estímulos e frequência, mas não deve
sofrer influências no sentido de avançar etapas não plenamente
amadurecidas. Ao acompanharmos esse processo precisamos assumir a
postura investigativa, de quem não sabe do que se trata e pergunta para
descobrir: o que você está desenhando? O que você desenhou?
Podemos trabalhar com “desenho livre” todos os dias e teremos
narrativas e resultados diferentes. Mas o professor pode ampliar a
experiência e propor desafios que promoverão maiores conquistas.
Uma possibilidade prática que desperta o interesse são as
interferências. Ao partir de um início, uma provocação, a criança pode
mergulhar em novas fantasias e descobrir outros caminhos para o seu
traçado.
Colar um recorte de revista, um papel colorido, uma forma, ou pedaços
de papel em tamanhos e proporções diversas são possibilidades
interessantes que trazem variações para o dia a dia. Contornar com o
dedo ou marcar traços com pedrinhas também são formas de desenhar e são
alternativas para novos desafios.
Algumas sugestões…
Recorte
formas simples em cores contrastantes – para não complicar a preparação
– e cole em folhas de papel sulfite. Cortar as folhas de A4 no meio
pode fazer render o material sem comprometer a experiência.
Na CEI Nossa Turma, SP, foram apresentadas folhas com interferências
em preto e branco. Foram preparadas 3 folhas para cada criança com
propostas diferentes. Para ganhar a nova proposta, as crianças
precisavam terminar a anterior e colocá-la agrupada por autor, num local
determinado para a exposição. A atividade manteve o interesse dos
pequenos até o final, que se demoravam na apreciação das produções.
É
muito instigante uma folha de papel branca com uma imagem de jornal ou
revista colada. Dá vontade de completar a cena, não é? Essa alternativa
de estimular o desenho foi proposta numa das CEIs da Obra do Berço. A
professora selecionou rostos de revistas e colou em folhas de sulfite. O
resultado foi muito bom! Uma variante é selecionar outras partes do
corpo e imagens diversas (o que será que acontece se colarmos nas folhas
pés? E olhos? Que tal um animal? E um carro?)
Contornar, marcar, acompanhar linhas e formas também fazem parte do
ato de desenhar, quando garantida a liberdade de expressão e criação.
Podemos apresentar folhas de cartolina (mais resistentes) com traçados
simples e algumas pedrinhas (pedras de jardim ou peças de jogos de
montar) para observar como as crianças vão interferir com os dois
materiais: será que os traçados vão influenciar o posicionamento das
pedras/peças logo de imediato? Podemos permitir a exploração dos
materiais e, depois de perceber que a pesquisa foi satisfeita,
apresentar a possibilidade de posicionar as pedras sobre os traços. Aí, é
novamente ver o que acontece!
Esse tipo de atividade pode (e deve!) ser repetida utilizando os
mesmos traços e materiais e alterando os tamanhos, que podem ganhar
dimensões “gigantes”.
Os pequenos desenham com todo o corpo! Os gestos são amplos e
convidam todo o corpo para participar do ato. Desse modo, alterando a
posição do desenho, a postura muda e se transforme em novos desafios. O
professor pode então, variar a colocação dos suportes para acionar os
novos estímulos: colocar papeis na mesa (tradicional!), no chão, na
parede, nos lados de caixas e caixotes e até embaixo da mobília! Imagine
quanto controle e percepção espacial estimularemos!
Ao observar o desenvolvimento
de cada criança através do desenho é importante saber que nem todas
passam de uma fase para outra ao mesmo tempo. As conquistas e
habilidades são individuais nos seus tempos e espaços.
* capacidade de coordenação de movimentos decorrente da
integração entre o comando central (Cérebro) e as unidades motoras dos
músculos e articulações.
Fonte: Blog Tempo de Creche.
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