domingo, 26 de julho de 2015

Desenhar, desenhar, desenhar …todos os dias!

garatujas 
Parece que é automático! É só apresentar para os pequenos algo com que riscar que o ato de desenhar se inicia na mesma hora!
Que bom! Porque quanto mais desenha, mais a criança desenvolve o desenho os ganhos cognitivos que o ato proporciona. 
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Até os 12 meses a criança descobre a existência dos objetos que podem deixar marcas nas superfícies (riscadores e suportes). Começa então uma produção natural e espontânea de traços, inicialmente desordenados e sem controle (garatujas desordenadas).  Porque ainda não tem maturidade para coordenar seus movimentos, os traços são fortes e descontínuos. Também não existe percepção do espaço gráfico e nota-se que os traços ultrapassam os limites dos suportes (papel, por exemplo). Braço e antebraço são como um membro unido que se move a partir da articulação do ombro.

ad_143331586Aos 18 meses o antebraço se movimenta com um pêndulo a partir do cotovelo e a criança começa a fazer traços mais regulares. Com o amadurecimento, o desenho vai conquistando fluidez e continuidade. Nessa fase a criança percebe que existe uma relação entre seus movimentos e o resultado dos seus traços.
Os movimentos do pulso ganham maturidade e os riscos ficam mais curtos e controlados. Persistem as batidinhas que marcam pontos e as linhas ganham curvas. Conquistando maior desenvoltura com o pulso, a criança executa os desenhos circulares. As bolinhas e mais bolinhas das garatujas controladas determinam a conquista do desenvolvimento da coordenação visual e motora. É nesse momento que o pequeno descobre que pode produzir uma marca voluntária e isso o estimula a variar seus movimentos, enriquecendo a atividade. Esse controle motor reflete-se no desempenho de outras atividades, como abotoar casacos e calçar sapatos.
garatuja controladaEntusiasmada com as garatujas, a criança começa a nomear o que produz. Isso indica que seu pensamento ganhou novas dimensões, conectando seus movimentos com o mundo que a rodeia. A criança passa do pensamento cinestésico*  ao pensamento imaginativo.  Começamos então a escutar uma narrativa sobre o desenho, mas as histórias e a nomeação mudam enquanto realiza as produções.
Nessa fase a criança começa a utilizar intencionalmente as cores. Mas até 4 ou 5 anos, as cores utilizadas não tem relação direta com os objetos reais. Assim, são comuns os cachorros azuis e figuras humanas verdes! Adotam com desenvoltura cores fortes e contrastantes.
Nessa etapa o ato de desenhar se caracteriza pela busca consciente da forma e os adultos começam a reconhecer nos traços da criança os objetos que ela nomeia. As figuras humanas são geralmente as primeiras figuras desenhadas. Inicialmente representadas por um círculo com duas linhas que partem verticalmente, as figuras vão ficando mais complexas com o passar do tempo e o exercício espontâneo. A composição dos objetos desenhados tem uma ordem particular, desordenada.
Somente a partir dos 7 anos as formas ganham a complexidade nos detalhes, ficando mais definidas. Nesta fase as figuras humanas são representadas com minúcias que os adultos podem identificar. A composição apresenta a linha do solo como base e, mais tarde, aparece o céu.
figuraçãoPercebemos então um claro processo de conquista de desenvolvimento intelectual e motor que depende de estímulos e frequência, mas não deve sofrer influências no sentido de avançar etapas não plenamente amadurecidas. Ao acompanharmos esse processo precisamos assumir a postura investigativa, de quem não sabe do que se trata e pergunta para descobrir: o que você está desenhando? O que você desenhou?
Podemos trabalhar com “desenho livre” todos os dias e teremos narrativas e resultados diferentes. Mas o professor pode ampliar a experiência e propor desafios que promoverão maiores conquistas.
Uma possibilidade prática que desperta o interesse são as interferências. Ao partir de um início, uma provocação, a criança pode mergulhar em novas fantasias e descobrir outros caminhos para o seu traçado.
Colar um recorte de revista, um papel colorido, uma forma, ou pedaços de papel em tamanhos e proporções diversas são possibilidades interessantes que trazem variações para o dia a dia. Contornar com o dedo ou marcar traços com pedrinhas também são formas de desenhar e são alternativas para novos desafios.
Algumas sugestões…
Balão numero 1Papel com interferência de formas

Desenho com interferencia de formas exposição 
Recorte formas simples em cores contrastantes – para não complicar a preparação – e cole em folhas de papel sulfite. Cortar as folhas de A4 no meio pode fazer render o material sem comprometer a experiência.
Na CEI Nossa Turma, SP, foram apresentadas folhas com interferências em preto e branco. Foram preparadas 3 folhas para cada criança com propostas diferentes. Para ganhar a nova proposta, as crianças precisavam terminar a anterior e colocá-la agrupada por autor, num local determinado para a exposição. A atividade manteve o interesse dos pequenos até o final, que se demoravam na apreciação das produções.
Balão numero 2Folhas com imagens provocativas de revistas
Desenho com interferencia de recorteÉ muito instigante uma folha de papel branca com uma imagem de jornal ou revista colada. Dá vontade de completar a cena, não é? Essa alternativa de estimular o desenho foi proposta numa das CEIs da Obra do Berço. A professora selecionou rostos de revistas e colou em folhas de sulfite. O resultado foi muito bom! Uma variante é selecionar outras partes do corpo e imagens diversas (o que será que acontece se colarmos nas folhas pés? E olhos? Que tal um animal? E um carro?)
Balão numero 3Traçados e pedrinhas para experimentar
Desenho com traços e pedrinhasContornar, marcar, acompanhar linhas e formas também fazem parte do ato de desenhar, quando garantida a liberdade de expressão e criação. Podemos apresentar folhas de cartolina (mais resistentes) com traçados simples e algumas pedrinhas (pedras de jardim ou peças de jogos de montar) para observar como as crianças vão interferir com os dois materiais: será que os traçados vão influenciar o posicionamento das pedras/peças logo de imediato? Podemos permitir a exploração dos materiais e, depois de perceber que a pesquisa foi satisfeita, apresentar a possibilidade de posicionar as pedras sobre os traços. Aí, é novamente ver o que acontece!
Esse tipo de atividade pode (e deve!)  ser repetida utilizando os mesmos traços e materiais e alterando os tamanhos, que podem ganhar dimensões “gigantes”.
Balão numero 4Desenhar em diferentes planos e superfícies
Desenho em diferentes posiçõesOs pequenos desenham com todo o corpo! Os gestos são amplos e convidam todo o corpo para participar do ato. Desse modo, alterando a posição do desenho, a postura muda e se transforme em novos desafios. O professor pode então, variar a colocação dos suportes para acionar os novos estímulos: colocar papeis na mesa (tradicional!), no chão, na parede, nos lados de caixas e caixotes e até embaixo da mobília! Imagine quanto controle e percepção espacial estimularemos!
Ao observar o desenvolvimento de cada criança através do desenho é importante saber que nem todas passam de uma fase para outra ao mesmo tempo. As conquistas e habilidades são individuais nos seus tempos e espaços.
 
* capacidade de coordenação de movimentos decorrente da integração entre o comando central (Cérebro) e as unidades motoras dos músculos e articulações.
 
Fonte: Blog Tempo de Creche.

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