Na
escola em que trabalho, tivemos uma aluna autista durante uns 5 anos, e
percebo que os pais muitas vezes vendam os próprios olhos para não enxergar a diferença, é uma situação muito triste, mas estes pais
precisam de ajuda... tanto quanto os filhos. Achei este texto muito
interesse, ler sobre o assunto é sempre bom...
Todos imaginam os seus filhos como bons alunos na escola, a correr e a brincar com outras crianças, a falar pelos cotovelos ou a fazer birras. Ter uma criança diferente pode ser difícil de aceitar. Principalmente quando essa criança tem características que a afastam do mundo dos outros, inclusive do mundo dos seus pais. Ter um filho autista é um desafio que ninguém pretende, mas por que alguns passam. É disso que vamos falar hoje.
Todos imaginam os seus filhos como bons alunos na escola, a correr e a brincar com outras crianças, a falar pelos cotovelos ou a fazer birras. Ter uma criança diferente pode ser difícil de aceitar. Principalmente quando essa criança tem características que a afastam do mundo dos outros, inclusive do mundo dos seus pais. Ter um filho autista é um desafio que ninguém pretende, mas por que alguns passam. É disso que vamos falar hoje.
Alguns relatos soltos
A
descrição dos pais do Gonçalo, de quatro anos, é sugestiva. É uma
criança sozinha. Vive no seu mundo. Tem uma enorme dificuldade em fazer
amigos porque está sempre metido consigo próprio. Muitas vezes não
responde quando o chamamos.
A maioria das vezes não olha
directamente para nós e parece focar algo no infinito. E sorrir, isso só
por milagre. Parece não ter interesse nas brincadeiras das outras
crianças e tem uma enorme dificuldade em comunicar com elas. Muitas
vezes, tenho a sensação de que não o faz de propósito, simplesmente não é
capaz de estabelecer contacto com outras pessoas. Não temos dúvidas
que, para ele, a qualidade de um relacionamento é incomparavelmente mais
importante que o número de amigos.
A Catarina, de cinco anos,
sempre teve dificuldades na linguagem. Com um ano de vida ainda não
palrava. Pelos dezoito meses ainda não dizia uma única palavra e aos
dois anos, quando as restantes crianças da escola já se faziam entender
razoavelmente, ela ainda apenas repetia os sons. Chegada aos três anos
não consegue construir frases com mais do que 3 palavras e por isso não
é capaz de comunicar de forma eficaz com os seus colegas ou irmãos.
A mãe da Rita anda desesperada
pois a sua filha não consegue evitar fazer repetidamente movimentos de
rodar as mãos uma sobre a outra, como se de um tique se tratasse. Para a
Rita, tudo deve obedecer a regras precisas.
A forma como se veste, ou como
se despe, aquilo que deve ser o seu pequeno-almoço, o local dos móveis
do seu quarto ou a forma como os livros estão arrumados, de forma
decrescente de altura, ao longo das prateleiras. Qualquer alteração a
estas regras e a Rita torna-se extremamente ansiosa. Ultimamente
começou a querer que a mãe vestisse sempre a mesma saia e faz birra
quando a mãe veste algo diferente.
A Vera nunca foi uma criança
completamente normal. Talvez aquilo que chamasse mais atenção fosse o
facto de ser um pouco preguiçosa. Começou a sentar-se mais tarde, nunca
gatinhou, foi necessário um longo período até se saber apoiar de pé e
começou a andar quando os pais já estavam desesperados, por volta dos
18 meses.
Com 3 anos e continua a
necessitar de tomar diariamente um laxante para que os intestinos
funcionem correctamente. Agora, começaram a surgir os comportamentos
repetitivos, a dificuldade na linguagem e a extrema dificuldade em
lidar com outros, fechando-se no seu mundo.
Quais as principais características de uma criança autista?O
autismo nasce com a criança, mas pode ser aparente em diferentes
idades, consoante a gravidade e a profundidade das suas manifestações.
Alguns pais notam alguns sinais ainda no primeiro ou segundo ano de
vida dos seus filhos, e na maioria dos casos o autismo torna-se
evidente antes da criança ter atingido os três anos de idade.
É uma doença contínua, sem volta atrás. A partir do momento que se manifesta a criança vai ficar com ela para toda a vida.
As suas principais
características são uma grande dificuldade em desenvolver relações
sociais com outras crianças ou adultos, enormes dificuldades na
comunicação com os outros e a existência de comportamentos limitados e
muito repetitivos.
Fisicamente, pelo contrário, são
crianças com uma aparência completamente normal e saudável. A
incapacidade em desenvolver as relações sociais é uma das marcas
características da criança autista.
A incapacidade em desenvolver as
relações sociais é uma das marcas características da criança autista. A
criança vive como que fechada no seu mundo e não entende que outros
possam ter um ponto de vista ou uma opinião diferente da sua.
O desenvolvimento da linguagem
está sempre comprometido nestas crianças e cerca de metade delas nunca
chegam a desenvolver uma linguagem que lhes permita a comunicação
essencial para o dia-a-dia. Mais grave ainda, uma em cada dez destas
crianças nunca chega a desenvolver a linguagem de todo.
Todas estas crianças apresentam
comportamentos estereotipados, sem objectivo definido, como movimentos
de lavar as mãos, rodar a cabeça, ou abanar o corpo lentamente. Estes
movimentos surgem repetidamente e continuamente, principalmente em
situações em que a criança se sente sob stress.
Algumas crianças têm igualmente
comportamentos obsessivos como o de arrumar os seus brinquedos sempre
da mesma forma, e uma enorme resistência à mudança seja nos hábitos,
nas roupas ou na decoração do seu quarto. Muitas vezes, apenas se
interessam por uma característica de um objecto, ignorando por completo
as restantes.
Que outros problemas podem apresentar as crianças autistas?Para
além das características principais de que falámos atrás, a criança
autista pode apresentar muitos outros problemas, incluindo dificuldades
motoras com atraso na aquisição de algumas competências como o sentar,
gatinhar ou andar.
Algumas crianças apresentam
problemas alimentares, recusando sistematicamente alguns alimentos ou
apenas comendo outros, sendo extremamente selectivas e levando os pais
ao desespero.
Também os problemas com o sono
são mais frequentes nestas crianças, principalmente a dificuldade em
adormecer, acordarem muitas vezes durante a noite e a facilidade com que
acordam, ainda de madrugada, prontas para um novo dia.
Se
bem que a maioria das crianças autistas sofra de algum grau de atraso
mental, algumas desenvolvem capacidades extraordinárias em algumas
áreas como a música, as artes ou a matemática.
Cerca de um quarto das crianças
autistas desenvolve epilepsia nos primeiros anos de vida ou, mais
tarde, durante a adolescência.
Metade destas crianças apresenta
também uma obstipação crónica com necessidade de tomar regularmente um
laxante para que os seus intestinos funcionem de forma adequada.
Porque surge o autismo?
Há
décadas atrás, alguns defendiam a teoria que as crianças se tornavam
autistas por receberem pouco carinho das suas mães. Poucas teorias
terão sido tão cruéis para muitas mães, incapazes de lidar com a
situação de terem um filho autista e serem ainda responsabilizadas por
isso.
Hoje sabemos que a causa do
autismo está, esmagadoramente, nos genes. Em mais de 90% dos casos são
alterações genéticas que provocam esta doença. Estas alterações
genéticas são complexas e mais de vinte genes já foram implicados.
Isto significa que, ao contrário
de outras doenças genéticas em que apenas um gene está danificado, na
criança autista são muitos os genes que funcionam defeituosamente, nem
sempre os mesmos em crianças diferentes, tornando difícil o diagnóstico
mesmo com as tecnologias genéticas mais sofisticadas.
A maior parte destas mutações
genéticas surge por acaso, por erro da natureza. Isto significa que são
variações genéticas que surgem na criança, mas que não existem nos
seus pais.
De uma forma geral, em cada
cinco crianças autistas, quatro são rapazes. Não sabemos o porquê desta
relação, mas é um facto que a maioria das doenças mentais com atraso
de desenvolvimento em crianças ocorre com maior frequência no sexo
masculino.
Na criança com autismo, muitas
das zonas cerebrais não funcionam correctamente. Esta doença não afecta
uma zona particular do cérebro da criança mas diferentes áreas em
simultâneo.
Muitas outras possíveis causas
têm sido incriminadas no aparecimento desta doença, como por exemplo, a
utilização de determinados fármacos durante a gravidez, mas estes
casos são os mais raros e não são fáceis de provar.
A causa mais insistentemente
comentada tem sido o papel das vacinas, nomeadamente a vacina tríplice
para o sarampo, papeira e rubéola, que todas as crianças fazem cerca
dos 15 meses. Provavelmente porque muitas vezes os primeiros sinais da
doença na criança aparecem depois dessa idade. No entanto, e apesar de
muitos alarmes, nenhum trabalho científico demonstrou esta
possibilidade e ela continua ainda a ser uma teoria por provar.
O autismo é frequente?
Estima-se
que esta doença afecte uma criança em cada mil. Mas existem outras
doenças que são «próximas» do autismo e que partilham com ele algumas
(mas não todas) as características que falámos atrás. É o caso da
doença de Asperger ou da doença de Rett.
As crianças com doença de
Asperger, por exemplo, possuem muitas características das crianças
autistas, embora mais atenuadas, com uma diferença fundamental: não
apresentam problemas no desenvolvimento da linguagem. Se juntarmos o
autismo com estas doenças com ele relacionadas, no seu conjunto elas
afectam seis em cada mil crianças.
O que fazer a estas crianças?
O
primeiro passo, na presença da mais pequena suspeita, é falar com o
Pediatra que habitualmente segue a criança. Se a suspeita se mantém, a
criança deve ser avaliada por um Pediatra especialista na área do
Desenvolvimento Infantil.
Quanto mais depressa o
diagnóstico for feito e mais depressa se começar a actuar, melhores
serão os resultados. O ideal seria uma criança autista ser identificada
antes dos três anos. Na prática, os estudos científicos mostram que a
consulta com um especialista em Desenvolvimento só ocorre por volta dos
quatro anos e que o diagnóstico é muitas vezes feito apenas aos cinco
anos de idade.
Após o diagnóstico estar
confirmado a criança deve entrar num programa intensivo de estimulação e
modificação comportamental e de desenvolvimento da linguagem. Existem
já protocolos internacionais bem definidos e com resultados
satisfatórios.
Esta estimulação poderá
permitir à criança desenvolver algumas competências e desta forma
melhorar a sua qualidade de vida. Também aqui, cada criança é uma
criança e cada caso é um caso e a resposta aos programas de
desenvolvimento é muito variável.
O programa de estimulação deve
ser adaptado a cada criança e mesmo a cada família e não ser «cega» a
sua aplicação. Não existe um programa de actuação ideal para ser
aplicado a todas as crianças. Existe sim, seguramente, um programa de
actuação ideal para uma criança em particular.
Trata-se de um tratamento caro,
pois envolve vários especialistas e muitas horas de intervenção sobre a
criança. O objectivo é tornar a criança o mais independente possível,
se possível tornando-a num membro colaborante da sociedade.
O autismo tem cura?Não
se conhece uma cura para o autismo. Mas a intervenção psicológica e
comportamental podem ter um efeito muito benéfico nestas crianças.
Não existem medicamentos que
possam curar esta doença, mas alguns fármacos podem ser utilizados
quando estão presentes algumas manifestações como a agressividade,
depressão, ansiedade, hiperactividade ou convulsões. Nenhum
medicamento, no entanto, consegue curar o autismo, nomeadamente as
dificuldades em estabelecer contactos sociais ou em desenvolver a
linguagem.
Qual o futuro para estas crianças?
Tudo
depende da gravidade das manifestações. O autismo não é uma doença
simples e pode revestir-se de muitas formas, umas mais graves, outras
mais leves. Umas com mais dificuldades na interacção social, outras com
predomínio dos movimentos repetitivos. Nuns casos com alguma
linguagem, noutros sem capacidade de comunicar.
A evolução é imprevisível e com
a idade algumas crianças agravam os seus sintomas enquanto outras
melhoram. Provavelmente porque se trata de uma doença com diferentes
graus de gravidade, podendo envolver diferentes grupos de genes e
dependendo da idade em que as intervenções começam a ser feitas.
Para os casos mais graves, a
vida independente é impossível. Mas existem muitos casos mais suaves de
crianças que conseguem frequentar a escola no ensino regular e adultos
autistas vivendo com alguma independência seja em centros comunitários
ou hospitais residenciais, seja mesmo em suas casas. O número destes
casos tem vindo, graças a uma intervenção cada vez mais precoce, a
aumentar.
Em conclusão
O
autismo é uma doença grave pelas consequências que representa para a
criança e sua família. As suas características fundamentais são a
incapacidade em estabelecer contacto com outros, dificuldades na
linguagem e comportamentos estereotipados e repetitivos. Não tem cura
mas muito pode ser feito se um programa de estimulação psicológica e da
linguagem for iniciado precocemente.
retirado do site:
http://www.paisefilhos.pt
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