Falta de estímulo prejudica o desenvolvimento neurológico da criança.
Um ano e meio e já conseguem balbuciar "mama" ou "papa". É assim que acontece com a maioria dos bebês,
que deixam os pais em um misto de alegria e ansiedade para ouvir a
próxima palavra. Porém, para algumas crianças, essa fase pode demorar
bastante para se iniciar, deixando a ansiedade dos pais dar lugar à
preocupação.
Falar, para nós, é tão natural que é difícil perceber o quanto é
complexo esse processo. Imagine você converter movimento em vibrações
nas cordas vocais, que produzem sons. Como se não bastasse, você ainda
precisa articular muito bem a boca e os lábios, para que esse som saia
em forma de palavra. É muito difícil.
Por isso, a fonoaudióloga e
pediatra Amariles Muniz, da Unesp, explica que os pais exercem papel
fundamental na hora de estimular a criança. "Conversar bastante com ela,
desde pequena, faz com que ela queira imitar e acaba facilitando o
processo. Quando a criança não é estimulada a falar pelos pais, pode
ficar preguiçosa e acaba demorando mais do que o normal. Se os pais dão
tudo o que ela quer, ela não sente a necessidade de falar", completa.
Filha imitando a mãe |
Passou da hora?
A
especialista explica que, a partir dos cinco meses de idade, os bebês
já começam a emitir alguns sons na tentativa de se comunicar, mas é por
volta dos dez meses que eles começam a falar palavras bilabiais, tipo,
"ma" e "pa". "Com um ano, as crianças já falam palavras que são
reconhecidas pelos adultos. As meninas, normalmente, começam a falar
mais cedo que os meninos", diz a especialista da Unesp.
Com dois anos, dois anos e meio, a criança já é capaz de
formular pequenas frases e de sair tagarelando por aí. Se chegar a essa
fase e o bebê ainda não tentar falar, a mãe já deve notar que há algo
errado. A fonoaudióloga Amariles alerta: "Os pais precisam se certificar
de que o filho não esteja sofrendo com alguma patologia associada. A surdez,
por exemplo, é muito fácil de ser percebida pelos pais. É só notar se o
bebê reage aos sons do cotidiano, como uma porta batendo, adulto que
fala alto, cachorro latindo".
Caso os pais, ao levaram a criança a um especialista,
descobrirem que não há nenhum problema físico, não tenha dúvida de que o
motivo do silêncio está ligado ao psicológico e os próprios pais podem
ser, em grande parte, os responsáveis. "O excesso de zelo ou de mimo com
a criança pode ser o fator responsável. Um dos exemplos mais claros são
aqueles pais que dão tudo que o filho quer assim que ele aponta o
dedinho. Não deixam, portanto, espaço para ele falar e pedir. Isso, para
a criança, dá a impressão de que a comunicação é desnecessária", conta a
profissional.
Filha imitando a mãe |
Para
essas crianças com "preguiça" de falar, Amariles diz ser muito
importante o trabalho de um fonoaudiólogo. "Ele vai descobrir o que está
errado na relação entre pais e filhos e vai indicar a melhor maneira
para que os pais estimulem seus filhos, substituindo práticas comuns,
por corretas", esclarece.
A solução é conversar
Desde bem cedo, o bebê
já começa a ouvir os sons. "O nenê, mesmo na barriga da mãe, consegue
escutar alguns ruídos quando os pais falam com ele. Esse passo é muito
importante, pois o ajuda a já ir reconhecendo a voz da mãe e do pai,
através da percepção de sons agudos e graves", ensina a fonoaudióloga da
Unesp.
É por isso que conversar com seu bebê desde sempre nunca
é demais. Mas atenção! Nada de falar "quiancinha", em vez de
criancinha, ou "bincá", em vez de brincar. Amariles explica que, a
partir de um ano, o ideal é falar corretamente o nome das coisas, na
entonação correta. "Se os pais infantilizam demais ao falar com o bebê,
pode ser que ele cresça carregando uma fala infantilizada. Existem casos
também de a criança crescer no tamanho, mas não amadurecer. Quer ficar
sendo sempre o bebê e expressa isso na fala", conta a especialista.
Se o bebê não quer falar, não se afobe, estimule!
Os pais ficam muito ansiosos e, por isso, podem acabar pressionando a
criança e intimidando o desenvolvimento dela. "A linguagem é importante
porque, além de tudo, desenvolve também a parte neurológica da criança.
Sons, ruídos, fala e articulação da boca, tudo isso ajuda a criança a
estimular uma série de coisas no corpo e no cérebro dela", ensina a
especialista.
Se o bebê está se esforçando bastante para falar, não precisa se
assustar. O segredo é continuar incentivando a fala, mas sem exagerar. A
seguir, veja como fazer o pequeno se sentir mais seguro:
1.
Abaixe-se até ficar na altura da criança toda vez que for falar com ela.
Assim, ela poderá enxergar melhor os seus movimentos de lábio e
mandíbula;
2. Fale sempre a forma correta das palavras;
3. Se você perceber que ela tem dificuldade para
falar certas palavras, tente usá-las com mais frequencia quando estiver
conversando. Não se esqueça de que a criança aprende por repetição;
4. Incentive-a a conversar mais quando ela disser
alguma palavra. Faça sempre pequenas perguntas enquanto estiver
conversando com ela e espere a tentativa de resposta.
POR ANDRESSA BASILIO
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