Atividade para ajudar a criança comer frutas:
“Pega-pega do Pica-pau acordando”
Os
pais do Matheus gostariam que ele passasse a comer outras frutas, como
as maçãs. Segundo a mãe do Matheus, ele “não comia fruta há 1 ano,
nenhum tipo de fruta ou suco, e uma das metas da visita domiciliar era
essa.”
O primeiro passo então foi verificar junto aos pais do Matheus quais
eram os interesses e motivações dele atualmente. Junior e Renata
contaram que o pequeno Matheus gostava de brincadeiras de pega-pega,
cócegas e, entre inúmeros personagens, estava fascinado pelo Pica-Pau.
Durante uma sessão, o Lincoln aproveitou que o Matheus falou a
palavra Pica-Pau e rapidamente criou uma brincadeira em que ele
(Lincoln) era o Pica-Pau e que iria pegar o Matheus e fazer cócegas (ou
seja, era um pega-pega com cócegas).
Para poder expandir a brincadeira e atingir a meta (que era o Matheus
comer as frutas), o Lincoln começou a oferecer um grande suspense.
Agora o Pica-Pau dormia no chão e lentamente acordava, ainda meio fraco.
Para despertar totalmente e ficar forte, o Pica-Pau representado pelo
Lincoln comia pedaços de maçã que estavam picadas em uma tigela. À
medida que o Lincoln ia acordando e comendo os pedaços da fruta,
pequenas partes do seu corpo iam se movimentando. Primeiro as mãos e
pés, depois braços e pernas, depois tronco e o corpo todo, até correr
para pegar Matheus. Quando Lincoln pegava o Matheus, ele agora o rodava
de cabeça para baixo ou nas costas, “jogava-o” (com segurança) para o
alto, soprava sua barriga e no final oferecia pressões com o colchão em
cima dele.
O Matheus sorriu durante a maior parte da brincadeira e gargalhou em
vários momentos. Matheus observava atentamente o Lincoln, que
representou um modelo social, comendo pedaços de maçã que estavam na
tigela de forma a despertar e ficar bem forte. Matheus disse “Você comeu
a maçã”. Depois, de forma espontânea, Matheus se aproximou da tigela de
maçã e a tocou. Lincoln respondeu imediatamente à iniciativa de Matheus
comemorando e voltando a oferecer as ações motivadoras (rodar, jogar,
soprar e pressionar o Matheus levemente com o colchão).
Alguns minutos depois, e novamente de maneira espontânea, Matheus
pegou um pedaço de maçã da tigela e o colocou em sua boca! Com
entusiasmo, o Lincoln comemorou muito e ofereceu rapidamente e
animadamente as ações motivadoras de rodar, jogar, soprar e pressionar o
Matheus levemente com o colchão.
Na sequência, Matheus comeu vários pedaços de maçã, sempre nos momentos em que o Lincoln fazia uma pausa nas ações motivadoras.
Resumo:
- Atividade: Pega-pega do Pica-Pau acordando
- Metas: Expandir a alimentação, incorporando novas frutas ao cardápio
- Interesses da criança: Pega-pega, cócegas, rodar, massagem, Pica-Pau, suspense
- Ações motivadoras: Ser o Pica-Pau que acorda e corre em direção à criança para fazer cócegas, rodá-la, jogá-la para o alto e pressionar partes de deu corpo com o colchão.
Importante!
O
mesmo princípio pode ser aplicado em diversas brincadeiras. Por
exemplo, outros personagens podem ser utilizados no lugar do Pica-Pau.
Outras frutas e alimentos podem também ser usados no lugar da maçã.
Abaixo
um trecho do lindo e carinhoso relato enviado pela mãe do Matheus –
Renata – sobre a atividade. A Renata nos mostra como ela conseguiu
utilizar o mesmo princípio para estimular o Matheus a tomar suco de Uva:
“(…) dias depois, fora do quarto de brincar, fizemos a mesma coisa com um pião que ele ganhou de brinde de um aniversário. Ele queria que eu rodasse o pião e, quando ele parava de girar porque tinha ficado fraco, eu tomava um pouco de suco de uva, ficava forte e girava o objeto com mais força. O Matheus nunca havia tomado suco de uva, nem tão pouco cheirado, e começou a tomar na brincadeira! O suco tinha um leão na caixa (…) então quem tomasse ficava forte como o leão da caixinha. Sei que isso não significa que o Matheus vá tomar suco outras vezes, mas só o fato de ele ter se permitido experimentar, para mim, já é tudo! (…) O que achei interessante foi que eu estava bem tranquila na brincadeira e não necessitava que ele tomasse o suco, então ficou muito leve e gostoso de fazer. E a recompensa foi ótima, ver ele se permitir experimentar algo completamente novo. Espero que possamos ajudar de alguma forma com esse depoimento!””
Dois dias após redigir esse depoimento, Renata nos contou ao telefone
que Matheus já estava tomando também suco de pêssego, tudo partindo de
expansões da brincadeira.
Atividade para a ingestão de novos alimentos:
“O cavalinho que come brócolis”
Crie
uma brincadeira interativa em que o papel da criança seja apenas
observar você comendo o alimento. Enquanto você come, demonstre gostar
do sabor da comida, do cheiro, da textura do alimento. Exagere suas
reações.
Um exemplo de atividade interativa pode ser o “Passeio de Cavalinho”.
Você oferece à criança um passeio de cavalinho a carregando em suas
costas. O “cavalinho” fica cansado e com fome, precisando então comer
deliciosos brócolis para ganhar forças e voltar a cavalgar. Você faz uma
pausa, come os brócolis animadamente e volta a oferecer a ação
motivadora de carregá-la pelo quarto.
Após
vários ciclos de brincadeira em que você pausa e come os brócolis para
voltar a cavalgar, se a criança continuar altamente motivada na
interação, solicite que ela lhe ajude a comer, por exemplo, o ajudando a
levantar o seu braço para que você leve os brócolis até a sua própria
boca (boca do “cavalo”). Neste caso, ela não precisaria nem chegar perto
dos brócolis ainda.
Quando a criança estiver respondendo à solicitação de forma
consistente, aumente o desafio e peça que ela pegue os brócolis do prato
e os coloque na boca do “cavalo” para ele ganhar forças e voltar a
cavalgar. Neste caso, ela apenas toca nos brócolis, mas eles vão direto
para a boca do adulto.
Exemplos de solicitações futuras para aumentar o desafio da
solicitação na atividade: a criança aproximar os brócolis de seu nariz e
do nariz dela para que vocês possam sentir o cheiro dos brócolis antes
de você comer, a criança encostar os brócolis em seu próprio lábio (dar
um beijinho no alimento) antes de oferecê-los para você comer, lamber os
brócolis, dar uma pequena mordida, e assim por diante, até que você e
ELA estejam comendo os brócolis de forma divertida para você ganhar
forças e cavalgar novamente.
Importante!
O
mesmo princípio pode ser aplicado em diversas brincadeiras, por
exemplo, a rodela da cenoura pode alimentar o fantoche de coelho faminto
antes de ele fazer cócegas na pessoa com autismo. Podemos também
investir em brincadeiras simbólicas com comidinhas de plástico, como
piqueniques dos fantoches, restaurante dos bonecos, feirinha do Barney,
etc. Cada comidinha pode levar você a oferecer uma ação motivadora
diferente para a pessoa.
Atividade para a escovação de dentes:
“Virando um leão”
1° passo:
Criar e aprofundar um vínculo relacional com a criança para que a
conheçamos melhor em seus interesses, talentos, medos, dificuldades,
estilo e ritmo de aprendizado. Da mesma forma, o vínculo relacional a
ajuda a nos conhecer, sentir-se confortável e segura conosco, o que
tende a levar também a uma maior flexibilidade por parte da criança
diante de desafios. Brincamos com a criança na brincadeira que ela
gosta, do jeitinho que ela gosta e, gradativamente, oferecemos nossas
contribuições às atividades dela, sugerindo variações divertidas e até
novas brincadeiras que incluam interesses da criança.
2° passo: Inserir a escova de dentes na brincadeira.
A escova estará relacionada a uma ação motivadora sua (algo que você
oferece à criança para entretê-la). Por exemplo, você imita um leão
algumas vezes e a criança gosta muito de sua ação (ação motivadora).
Você continua a fazê-lo, mas adiciona a escova de dentes como motor de
sua ação. Você pode escovar os seus próprios dentes e, então, virar um
leão.
3° passo: A criança escova seus dentes (ou ajuda você de alguma forma a escovar seus dentes) e você vira um leão.
4° passo: A criança escova os próprios dentes e você vira um leão.
5° passo: Você escova os dentes da criança e você vira um leão.
Se a sua criança não se interessar em ver você virar um leão, você
pode oferecer outras ações motivadoras como virar um macaco saltitante,
cantar as músicas favoritas dela, fazer cócegas ou massagem na criança,
desenhar um trem ou avião para ela, sempre associando sua ação
motivadora ao ato de se usar a escova de dentes.
Importante!
Lembre-se de comemorar qualquer movimento da criança como uma tentativa de fazer o que você solicitou!
Você poderá ainda utilizar escovas com um visual divertido e
pastas/substâncias com sabor agradável. Escovas elétricas ajudam em
alguns casos!
Procedimentos em consultório dentário
1° passo:
Antes de levar a pessoa ao consultório do dentista para os
procedimentos dentários, trabalhar a temática em casa, explicar o que
acontece no consultório do dentista, mostrar fotos e vídeos (se possível
do dentista escolhido pela família), brincar de ser dentista em casa,
tornar o evento da ida ao dentista algo mais previsível para a criança.
2° passo: No consultório, promover a gradual
exposição e dessensibilização dos odores, sabores, texturas, sons e
imagens de um consultório dentário.
3° passo: No consultório, permitir que a criança
utilize objetos de conforto e/ou se beneficie da companhia de pessoas
com quem se sinta segura.
4° passo: Conhecer e brincar com o dentista durante a
visita, sem pressa para iniciar o tratamento. O dentista poderia
brincar de escovar os dentes!
Fonte: Blog Inspirados pelo Autismo.
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