Os comportamentos indicadores para identificação do agressor são:
- Comportamentos de agressão física: apresenta comportamentos agressivos com membros da família, agride fisicamente seus colegas, perturba e persegue colegas, atua no grupo bloqueando ou encurralando o caminho dos outros, irrita-se com facilidade e com frequência provoca brigas em jogos;
- Comportamentos de agressão psicológica: destaca constantemente defeitos físicos de seus colegas, humilha e ridiculariza seus colegas para minar a autoestima dos outros, mostra-se irrito e impaciente, emprega tons depreciativos em suas classificações a respeito dos demais com frequência, é intolerante com os colegas, faz chantagens e ameaças;
- Comportamentos de agressão verbal: insulta, zomba, coloca apelidos nos demais, fala mal dos outros e mente, faz piadas desagradáveis com os demais;
- Comportamentos de exclusão social: rejeita alguns colegas e não permite que participem de algumas atividades em grupo, influencia colegas para excluírem os outros, ignora os direitos dos demais;
- Baixo rendimento escolar: sente-se insatisfeito, não possui motivação para estudar, tem baixo rendimento acadêmico em geral;
- Outros indicadores: pode frequentemente se envolver em conflitos, impõe suas regras usando de agressividade (física, verbal ou psicológica), é impulsivo, não controla suas reações, tem baixa tolerância à frustração.
Os comportamentos indicadores para identificação da vítima são:
- Comportamentos de medo, fuga e evitação: evasão, medo e ansiedade impedem que frequente as aulas de forma regular, espera até que não tenha ninguém para chegar ou sair da escola, escolhe caminhos ilógicos para ir e para voltar da escola, evita falar de temas relacionados à escola, esconde o problema, na maioria das vezes não comunica aos adultos o que está acontecendo;
- Comportamentos depressivos: chora e relata dores físicas ou psicológicas em certos momentos, mostra-se irritável, expressa ira ou raiva, possui humor instável, apresenta tristeza, se comunica pouco, comportamentos infantis e dependentes, ideação ou tentativa de suicídio, finge estar doente para evitar determinadas situações e determinados ambientes;
- Comportamentos ansiosos e que expressam insegurança: apresenta nervosismo e estresse, parece ansioso e angustiado, tem pesadelos, pode apresentar ataques de pânico, procura ficar perto de adultos na hora do recreio e em lugares comuns na escola, fica em lugares distantes dos outros colegas, demonstra dificuldades para falar em sala de aula, passa a impressão de insegurança, tem baixa autoestima;
- Dificuldades nas relações sociais: apresenta isolamento social, passa mais tempo em casa do que anteriormente, não tem nenhum amigo, não é convidado para festas de outros colegas e não organiza nenhuma festa porque acredita que não irá ninguém, busca amigos e colegas mais novos, é o último a ser escolhido em situações de jogo, se envolve frequentemente em discussões e brigas em que se encontra indefeso, pode começar a ameaçar ou agredir colegas;
- Declínio do rendimento acadêmico: apresenta declínio gradual no rendimento acadêmico, apresenta dificuldades de atenção e concentração, parece distraído, possui perda de interesse por atividades escolares.
- Outros indicadores de bullying: pede dinheiro sem dizer o motivo, pega dinheiro ou objetos para pagar “dívidas” que não existem, fica sem o lanche, faz as tarefas de outros colegas, apresenta sinais de agressão física, frequentemente desaparecem objetos pessoais, materiais sujos ou danificados, seu nome aparece em pichações ou pinturas de portas de banheiro ou paredes, recusa em dizer por que se sente mal, pode insistir que não está acontecendo nada ou usar pretextos para justificar seu estado;
- Outros indicadores de cyberbullying: recebe chamadas telefônicas estranhas que lhe deixam nervoso e cuja origem é oculta, parece alterado após acessar a internet, mostra-se alterado depois de ler uma mensagem.
Cabe aqui esclarecer que, tanto no processo psicoterapêutico quanto no contexto escolar, quando um ou mais comportamentos listados forem observados é necessário uma investigação mais profunda. Isso porque, apenas apresentar um destes comportamentos não é suficiente para constatar o bullying. É preciso verificar a frequência de sua ocorrência, se ocorre desigualdade de poder na relação e se há prejuízo para, pelo menos, um dos envolvidos.
Outro esclarecimento válido é o de realizar orientação com os pais. Muitas vezes os pais não sabem que seu filho é vítima de bullying, apesar de perceberem mudanças de comportamento. Na maioria dos casos, as crianças evitam falar sobre isso com seus pais por acreditar que não adiantará nada ou por temer que a situação se agrave.
Dentro do contexto psicoterápico é importante a realização da psicoeducação com os pais e com a criança/adolescente sobre questões pertinentes ao bullying, mostrando sua complexidade, esclarecendo mitos e auxiliando na busca de maneiras efetivas de se lidar com o problema.
Torna-se importante também dentro do processo psicoterápico buscar formas de desenvolver a autoestima da criança, seja através de atividades artísticas, esportivas ou de lazer que promovam bem-estar. O treino de habilidades sociais é indicado para que a criança aprenda respostas enfrentativas adaptativas às diversas situações sociais e fortaleça a emissão de comportamentos assertivos para lidar com a violência e a exclusão social.
O bullying não é apenas uma brincadeira entre jovens. Ele implica em sério sofrimento para a vítima, para o agressor e até mesmo para quem testemunha esse tipo de violência. O papel do psicólogo não é apenas tratar psicopatologias, mas também promover ações que visem o bem-estar individual e social. O desconhecimento dos profissionais da educação e da saúde a respeito do bullying pode contribuir ainda mais para a perpetuação desse fenômeno e muitas vezes subestimar suas consequências. Sendo assim, é fundamental que o papel do psicólogo ao intervir e prevenir o bullying seja o de desmitificar preconceitos e não reforçar a lógica da exclusão social.
Referências
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BANDEIRA, Cláudia de Moraes; HUTZ, Claudio Simon. Bullying: prevalência, implicações e diferenças entre os gêneros. Psicol. Esc. Educ., Maringá, v. 16, n. 1, p. 35-44, June 2012.
FREIRE, Alane Novais; AIRES, Januária Silva. A contribuição da psicologia escolar na prevenção e no enfrentamento do bullying. Revista Semestral da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional, São Paulo, v. 16, n. 1. 2012.
LINDERN, D.; LISBOA, C. S. M. Bullying e terapia cognitivo-comportamental. In Federação Brasileira de Terapias Cognitivas; NEUFELD, C. B; FALCONE, E. M. O.; RANGÉ, B. (orgs). PROCOGNITIVA Programa de Atualização em Terapia Cognitivo-Comportamental: Ciclo 1. Porto Alegre: Artmed Panamericana. (Sistema de Educação Continuada a Distância, v. 4).
MALTA, Deborah Carvalho et al . Bullying in Brazilian schools: results from the National School-based Health Survey (PeNSE), 2009. Ciênc. saúde coletiva, Rio de Janeiro, v. 15, supl. 2, p. 3065-3076, Oct. 2010.
SANTOS, Mariana Michelena; KIENEN, Nádia. Características do bullying na percepção de alunos e professores de uma escola de ensino fundamental. Temas psicol., Ribeirão Preto, v. 22, n. 1, p. 161-178, abr. 2014 .
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