Por: KARLA WANESSA
(ESPECIALISTA EM GESTÃO DA EDUCAÇÃO
Qual a estrutura de um projeto
político-pedagógico?
A proposta pedagógica de uma escola – elaborada a
partir do processo participativo de discussão dos temas anteriormente
apresentados – precisa ser consolidada num texto, para circulação e análise
permanente da sua execução no interior da unidade escolar, bem como para
encaminhamento ao órgão central da gestão municipal. Segundo Vasconcellos
(2002), a estrutura básica de um projeto político-pedagógico comporta três
grandes elementos: marco referencial, diagnóstico e programação.
MARCO REFERENCIAL. O marco referencial trabalha com
a dimensão da finalidade: Como a sociedade se
apresenta? Que aspectos precisam ser transformados? O que se espera da escola
pública hoje? Que cidadão queremos formar? Com que concepções de educação, de
ensino-aprendizagem e de avaliação queremos trabalhar?
DIAGNÓSTICO. O diagnóstico trabalha a dimensão da realidade:
Que características (sociais, econômicas, culturais) têm a comunidade, a escola
e a clientela a que a escola atende? Como se apresenta à realidade da escola
hoje? Que cacterísticas tem a gestão da escola? Como se dá a
participação da comunidade na gestão da escola? Que formas de organização
escolar são adotadas? Como estão as relações interpessoais no interior da
escola? Que características têm o trabalho pedagógico desenvolvido na escola?
Como se apresentam os resultados da aprendizagem? Que processos e instrumentos
de avaliação são utilizados? O diagnóstico não deve apenas ser
descritivo, mas tem de ser também analítico. Deve identificar necessidades de
mudanças, ou seja, responder: o que nos falta para ser o que desejamos?
PROGRAMAÇÃO. A programação é a dimensão do projeto,
da mediação, do desejo coletivamente construído: a definição do que vai ser
feito e dos meios para a superação dos problemas detectados, em busca da qualidade da
educação oferecida pela escola. É a proposta de ação. Ou seja: definição do que
é necessário e possível fazer para diminuir a distância entre o que a escola é
e o que deveria ser. Quanto à periodicidade, a programação ou projeto pode ter
abrangência anual, bianual ou outra definida pelo grupo.
Apresentamos a seguir, uma sugestão de
estrutura do texto de projeto político-pedagógico. Não se trata de um
modelo, mas de um roteiro que deverá ser discutido e, se necessário,
modificado, em função da realidade da escola.
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INTRODUÇÃO
Apresentação do
Projeto. Comentários sucintos sobre os objetivos de sua elaboração, circunstâncias
em que foi elaborado, idéias centrais, relevância etc.
DIAGNÓSTICO
Contexto da escola
· Ambiente
social, cultural e físico: a comunidade em que a escola está inserida -
características da população, costumes, lazer, grupos comunitários,
lideranças comunitárias, associações, clubes, igrejas, acesso a meios de
comunicação etc.; localização física da escola – características do bairro,
ruas, praças, espaços de lazer, equipamentos comunitários, instituições
educativas, meios de acesso, sistema de transporte, situação das residências,
saneamento, serviços de saúde, comércio.
· Situação
socioeconômica e educacional da comunidade: ocupações principais, níveis
de renda, condições de trabalho, acesso a bens de consumo, níveis de
escolaridade da população, crianças fora da escola, principais setores de
atividade econômica, perfil profissional dos pais, acesso aos serviços de
saúde e de assistência social, condições de habitação, etc. População
atendida pela escola: nível de instrução dos pais e irmãos, qualificação
profissional, hábitos alimentares e de higiene, lazer etc.
Caracterização da
escola (identidade)
· Histórico
da escola: fundação, denominação, lideranças históricas, vínculos com
egressos, participação na comunidade.
· Situação
física da escola: condições da edificação, dimensões, dependências,
espaços para atividades pedagógicas e de lazer, biblioteca, estado de
conservação, instalações hidráulicas e sanitárias, paisagismo, conforto
ambiental (iluminação, ventilação, etc.); adequação de salas de aula.
· Recursos
humanos e materiais: quantitativos do corpo docente, discente,
administrativo e de apoio; vínculos funcionais; distribuição de funções e
tarefas; nível de formação inicial e acesso à formação continuada
(qualificação). Características dos alunos. Condições de trabalho e estudo de
professores na escola. Condições de trabalho dos servidores da escola.
Direitos e deveres. Recursos materiais disponíveis e sua adequação: móveis,
equipamentos, material didático.
· Gestão
da escola: forma de provimento da direção; estilo de gestão; conselho
escolar; associação de pais e mestres; grêmio escolar; gerenciamento de
recursos materiais e financeiros: política adotada para o atendimento da
demanda (oferta de vagas); funcionamento de biblioteca; funcionamento da
secretaria; sistema de coleta e registro de dados.
· Organização
da escola e do ensino: estatuto, regimento, planos e projetos existentes;
distribuição e ocupação do tempo e dos espaços pedagógicos; constituição de
turmas; número de turmas; períodos ou turnos de funcionamento; organização em
séries ou ciclos; existência de classes de aceleração; sistema de
recuperação; distribuição do tempo escolar; condições de atendimento a
portadores de necessidades especiais; condições de atendimento a jovens e
adultos.
· Relações
entre a escola e a comunidade: formas de participação da comunidade educativa
(pais, autoridades locais, associações de moradores, clubes de mães);
parcerias com entidades, órgãos públicos e empresas; parcerias com
organizações da sociedade civil; relacionamento com outras escolas;
utilização dos espaços da escola pela comunidade; trabalho voluntário;
relacionamento escola-família (APM); participação dos alunos
(Grêmio); relações da escola com o órgão gestor da educação (Secretaria
Municipal de Educação).
· Currículo: Verificar
como a escola vem trabalhando: o atendimento à base nacional comum; como está
posta a parte diversificada; forma de composição curricular; definição de
conteúdos curriculares; interdisciplinaridade (integração de disciplinas) e
transversalidade (definição de temas transversais); distribuição do tempo
pelos componentes curriculares; orientação didática adotada; atividades
didáticas integradas; adequação dos materiais da biblioteca ao currículo;
materiais didáticos adotados: escolha e adequação; parâmetros de avaliação
adotados; instrumentos de avaliação.
·
Resultados
educacionais
· Desempenho escolar
dos alunos: aprovação, reprovação e evasão. Relação entre idade e série.
Medidas que estão sendo tomadas para a melhoria do desempenho dos alunos.
Desempenho global da escola: avaliação do desempenho global da escola: índices alcançados em
relação a outras escolas do município e do estado. Dados do censo escolar.
Medidas que estão sendo tomadas em relação a problemas. Relações
institucionais e com a comunidade atendida.
Convivência na escola
Relações
interpessoais na escola. Formas de tratamento de questões de violência
externa, interna; indisciplina.
DEFINIÇÃO DAS
BASES DO PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO OU PROPOSTA PEDAGÓGICA
Diretrizes
Tendo em vista os resultados do diagnóstico, definição dos
compromissos gerais a serem assumidos pelo coletivo da escola. Concretização
da Política Educacional do Sistema no âmbito da unidade escolar, tendo em
vista o atendimento de suas características particulares, quanto a gestão
(aspectos administrativos, financeiros e pedagógicos) e ação docente e
atividades de apoio.
·
Fundamentos
· Concepções, conceitos e
princípios que fundamentarão o trabalho da escola: conceito de educação,
papel da educação, papel da escola pública, concepção de aprendizagem,
concepção de avaliação, perfil do cidadão a ser formado etc.
Dispositivos legais
Dispositivos legais
e normativos a serem considerados e o que eles determinam em relação à
educação escolar. Ver: Constituição federal de 1988, Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional (Lei 9934/96), Plano Nacional de Educação, Plano
estadual de Educação, Plano Municipal de educação, Parâmetros Curriculares
Nacionais, disposições do CNE, e do CEE e do CME, regimento da escola.
Currículo
Concepção de currículo a ser trabalhada. Objetivos gerais e
específicos a atingir Base comum. Definição da parte diversificada. Definição
da forma de composição curricular. Definição de conteúdos curriculares e sua
distribuição no tempo. Definição da orientação pedagógica a ser adotada.
Definição de parâmetros, critérios e formas de avaliação da aprendizagem.
Definição de critérios para elaboração, escolha e uso de material didático.
Definição de espaços pedagógicos interdisciplinares e temas transversais.
Aspectos ou áreas prioritárias no que diz respeito à aprendizagem.
PLANO DE
ATIVIDADES
Prioridades
Considerar os
problemas mais urgentes ou mais graves detectados no diagnóstico, em relação
a: contexto da escola, características da escola, resultados educacionais e
convivência na escola.
Objetivos
Definir objetivos
gerais e específicos em relação aos problemas definidos, quanto a: contexto
da escola, características da escola, resultados educacionais e convivência
na escola.
Metas
Para cada objetivo
específico, definir metas. Metas são desdobramentos dos objetivos que indicam
os resultados esperados em termos quantitativos e em determinados prazos.
Previsão e provisão
de recursos
Definir a
necessidade de recursos para o alcance de objetivos ou metas.
IMPLEMENTAÇÃO
Acompanhamento e
assistência à execução
Prever o modo pelo
qual a equipe de direção da escola deverá acompanhar a execução do Plano, bem
como o trabalho dos professores, apoiando-os nas dificuldades que surgirem,
provendo os recursos necessários, etc. Poderão ser previstas reuniões
periódicas para discussão do andamento do projeto.
Avaliação
O projeto deve ser
objeto de avaliação contínua para permitir o atendimento de situações
imprevistas, correção de desvios e ajustes das atividades propostas. Podem
ser previstos momentos de avaliação (semestral, anual, bianual), com
participação de toda a comunidade escolar.
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A primeira etapa de elaboração do
Projeto Pedagógico da Escola engloba tanto o diagnóstico como a definição de
diretrizes. Diz respeito à reflexão sobre a educação, buscando esclarecer as
funções e finalidades da escola, sua inserção na comunidade, seus princípios,
valores e política educativa. Essa discussão, que deve contar com a
participação de toda a comunidade educativa, permite que a escola identifique
seus próprios problemas, seus objetivos de longo prazo e suas possibilidades de
atuação. Em síntese, na primeira etapa, a escola realiza o diagnóstico de sua
situação e delineia sua filosofia.
Outra sugestão
interessante de roteiro de elaboração de projeto é a de Libanêo (2004), que
inclui um tópico referente à proposta de formação continuada de professores e
outro atinente a uma proposta de trabalho com pais, comunidades e outras
escolas de uma mesma área geográfica. Sugere um roteiro de projeto “pedagógico
curricular” que contempla nove grandes itens:
1. Contextualização e
caracterização da escola;
2. Concepção de educação e de práticas escolares;
3.
Diagnóstico da situação atual;
4. Objetivos gerais;
5. Estrutura de organização
e gestão;
6. Proposta curricular;
7. Proposta de formação continuada de professores;
8. Proposta de trabalho com pais, comunidade e outras escolas de uma mesma área
geográfica; e
9. Formas de avaliação do projeto.
Que condições são necessárias para a operacionalização do
projeto político-pedagógico?
Para que o processo de elaboração de um
projeto político-pedagógico e, conseqüentemente, a consolidação de seu texto
final não representem apenas atividades burocráticas e formais a serem
cumpridas por exigência legal, é preciso que as equipes gestoras viabilizem as
condições necessárias não apenas para a sua construção, mas, sobretudo, para a
sua execução, acompanhamento, avaliação e reconstrução. A seguir, são colocadas
algumas dessas condições.
Acompanhamento da execução da proposta pedagógica
A construção e execução do projeto
político-pedagógico e do plano da escola precisam ser sustentadas por um
acompanhamento contínuo e sistemático da equipe gestora, que inclui a
participação efetiva de um coordenador pedagógico. Cabe às secretarias de
educação providenciar a presença desse agente na escola, seja ele um elemento
integrante da própria escola, seja ele um técnico da secretaria. O importante é
que haja responsáveis pela mobilização da escola, para que a comunidade como um
todo possa estar periodicamente discutindo os rumos que o projeto
político-pedagógico e o plano da escola vão tomando. Como partes desse processo
de acompanhamento, são sugeridas algumas ações:
·
Análise dos planos de trabalho dos professores, para verificar sua
relação com os objetivos, com os conteúdos curriculares e com as opções
metodológicas da proposta pedagógica;
·
Construção, juntamente com os professores, de um instrumento de
acompanhamento das aulas, a partir de parâmetros previamente discutidos, de
forma que eles possam participar da avaliação da sua própria prática de
trabalho;
·
Observação da sala de aula, a partir de um instrumento de
acompanhamento, para estabelecer relações entre a dinâmica da aula e os
objetivos e conteúdos curriculares da proposta pedagógica e identificar
aspectos que precisam ser mais bem trabalhados com os professores;
·
Acompanhamento do desempenho dos alunos, identificando pontos
nesse desempenho que precisam ser melhorados e que precisam ser discutidos com os
professores;
·
Acompanhamento do desenvolvimento de projetos propostos por
professores e por alunos;
·
Supervisão do uso do tempo e do espaço escolar, verificando sua
adequação aos objetivos e conteúdos curriculares;
·
Supervisão da qualidade dos recursos didáticos disponíveis,
observando sua variedade, sua adequação ao número de alunos e aos objetivos e
conteúdos curriculares da proposta pedagógica;
·
Reunião em dia fixo, que faça parte da programação normal da
escola, com os professores, para estudo teórico e discussão de questões
práticas;
·
Reunião periódica com toda a escola e com os pais dos alunos para
avaliação e replanejamento do projeto político-pedagógico e do plano de
trabalho da escola.
É importante considerar permanentemente, com
a comunidade escolar, se o projeto político-pedagógico, que é o plano global da
instituição, está efetivamente sendo cumprido e quais as reformulações que
precisam ser feitas para que o seu cumprimento represente, de fato, a
construção de uma escola de qualidade acadêmica e social.
Referências
MADEIRA, Ana Isabel. A importância do
diagnostico da situação na elaboração do projecto educativo de escola. IN: Inovação. Lisboa: Instituto de Inovação Educacional, vol. 8, nºs 1 e 2, 1995.
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