Qual
a importância de integrar a afetividade à prática pedagógica? Como ela
pode interferir na vida do aluno, e do professor, a ponto de mudar a
realidade educacional na qual vivemos hoje? (...)
A relação afetiva professor-aluno
reflete bons resultados na aprendizagem, pois aquele aluno que vê, em
seu professor, um amigo, um companheiro, um colaborador, evita
causar-lhe desgostos, quer ser como ele, o tem como alguém da família e,
assim, adota, quase que inconscientemente, uma conduta de respeito,
cooperação e atenção nas suas aulas, frutificando uma assimilação mais
rápida e consistente do conteúdo por ele ministrado.
Queremos com isso
dizer que falta ao aluno um clima de camaradagem na escola, uma
elevação do grau de afetividade entre ele e os demais personagens,
também sujeitos, do processo ensino e aprendizagem para um resultado
positivo e animador do trabalho que o professor realiza e que a escola
oferece. Não podemos, no entanto, desprezar os primeiros anos de vida da
criança que são a base para um desenvolvimento saudável de sua
personalidade, observando sobretudo a relação que a criança tem com sua
mãe poderemos entender a constituição de um adulto com afetividade bem
ou mal construída. Muito menos podemos depreciar os fatores sociais,
culturais, religiosos, genéticos e neurológicos que podem interferir
significativamente na aprendizagem.
Intrinsecamente ligada à cognição, a
afetividade constitui-se fator essencial na vida escolar, devendo pois o
professor, sobretudo da Educação Infantil, estar ciente dos problemas
que pode enfrentar e estar preparado para resolvê-los. Isso porque
muitas crianças revelam rejeição à escola devido a uma primeira infância
tumultuada e carente de afetividade, principalmente da figura materna.
Somos humanos, e como tais, estamos
sempre em busca de algo que justifique nossa existência, que nos dê
razão para viver. Essa motivação faz dos educadores uma fonte
inesgotável de questionamentos e dúvidas que queremos e buscamos
solucionar. Uma delas é o baixo rendimento dos alunos justamente quando
se fala de uma Educação de Qualidade para Todos. O que falta? (...)
A Educação no Brasil enfrenta
crises. Técnicas, teorias, metodologias, programas são freqüentemente
implantados sem muitos resultados aparentes. A reprovação ainda é
grande. A evasão ainda é realidade. O vestibular ainda é o
"bicho-papão". O desemprego ainda existe. As multinacionais ainda estão
aqui, e cada vez mais fortes. Os alunos concluem os níveis de ensino sem
a bagagem esperada. E,diante dessa problemática, que não é só escolar,
mas cultural, social e depende do tempo em que se vive, resolvi
investigar sobre os resultados que a integração de uma política da
afetividade na sala de aula poderia trazer. E assim, proponho-me a
apresentar neste trabalho fundamentação e idéias para comprovar a
eficácia dessa didática do cuidado com o outro. (...)
Na escola, a afetividade vem sendo
debatida e defendida há alguns anos por psicólogos, pedagogos,
psicopedagogos, profissionais da educação e saúde em geral. Porém,
percebemos ainda uma grande defasagem em prestar um serviço profissional
que alie suas técnicas próprias a uma interação eficaz de
desenvolvimento de um relacionamento baseado no emocional. Professores e
educadores que incluíram essa teoria no seu cotidiano apontam para os
evidentes resultados positivos que conseguiram alcançar. Mas, antes de
pensarmos na escola como ambiente para desenvolvimento da personalidade
da criança, devemos alertar para o fato de que esta criança, ao entrar
na escola, já tem uma vida cheia de experiências, estímulos e respostas
que aprendeu a dar diante de determinadas situações de sua vida diária.
(...)
A problemática emocional está ligada
aos conflitos interiores e dispersão do indivíduo, o que dificulta sua
interação com o meio, prejudica sua capacidade de atenção, concentração e
de relacionamento interpessoal. A figura materna tem papel decisivo na
"prevenção" dessas dificuldades. O afeto que ela dedica à criança,
especialmente nos cinco primeiros anos de vida, é responsável por grande
parcela da sua personalidade na vida adulta, pois a ligação mãe-filho
nessa faixa etária é muito intensa e a criança se fixa na mãe, tendo-a
como exemplo e modelo para suas atitudes futuras.
NOVAES (1984) nos mostra que a
carência afetiva determina uma série de fatores que prejudicam o
desenvolvimento global da criança, tanto no âmbito físico como psíquico.
Essa carência pode ser identificada pela incapacidade do indivíduo em
manter trocas afetivas normais com outros seres humanos. Segundo ela,
esses sintomas diagnosticados na escola é conseqüência de um descontrole
na relação mãe-filho, pois tanto a carência como o excessivo cuidado
pode acarretar problemas emocionais graves na criança pequena.
O desvinculamento do seio da mãe
poderá desencadear sintomas de angústia e mal-estar que variam conforme a
sua idade, grau de dependência dos pais e, principalmente, quanto a
natureza dos cuidados maternos. Essa angústia revela uma relação
emocional e afetiva normal entre a mãe e a criança, pois retrata uma
quebra no processo de afetividade que vem sendo construído por ambas
(NOVAES, 1984).
Na escola, a criança terá
dificuldades de adaptação ao meio de acordo com o grau de relacionamento
com a mãe. Ao nascer, a criança se fixa naquela pessoa que ela
considera de sua posse, no caso a mãe. Na escola ela terá de se
relacionar com um número bem maior de pessoas ao qual está acostumada e
isso é um fator importante na avaliação do desenvolvimento emocional da
criança, funciona como um teste. Através dele podemos definir novos
rumos na educação da criança e dos seus pais. A socialização com outras
crianças de sua idade e professores é uma nova etapa no processo de
formação da personalidade da criança e deve ocorrer de forma saudável.
(...)
Enfim, a angústia provocada, em
crianças pequenas, pela perda ou separação da figura materna determina
mecanismos de defesa que podem comprometer e modificar a sua
personalidade.
Há, dessa forma, uma grande
importância do primeiro professor da criança, pois ele será, para ela, a
substituição da mãe. Cabe então a esse profissional o devido cuidado de
manter um bom relacionamento que dê continuidade à relação saudável
mãe-filho ou alterar seu comportamento para elevar a afetividade de uma
criança que demonstra problemas emocionais decorrentes da relação que
tem com sua mãe. Sendo assim, o professor não pode estar alheio à vida
do aluno. É necessário que ele conheça os pais, seus problemas físicos,
psíquicos e um pouco da vida que levava antes de ingressar na escola. Só
assim poderá entender as dificuldades na adaptação da criança ao novo
meio e no processo de aprendizagem.
Tanto o excesso como a falta de
afeto pode prejudicar a aprendizagem. Por isso, sua maturidade
afetivo-emocional deve estar até certo ponto desenvolvida quando esta é
levada a ingressar na escola. Esse grau de maturidade é o que vai
definir os rumos do desenvolvimento cognitivo da criança e para que tudo
corra bem ela precisa ter um clima de segurança emocional tanto em casa
como na escola.
Problemas físicos e psíquicos são
facilmente identificados como indicadores dos problemas de adaptação e
aprendizagem das crianças na escola. Não podemos deixar de lado os
problemas emocionais. A escola e professores, especialmente os de
maternal, devem prever e estar preparados para atender prontamente essas
crianças com problemas emocionais decorrentes de sua relação familiar,
propiciando-lhes um clima de estabilidade emocional e contribuindo para
que o ingresso e permanência da criança na escola ocorram de maneira
normal e tranqüila, onde haja uma socialização efetiva dessa criança com
os professores e funcionários da instituição bem como com as demais
crianças. O nível de aprendizagem deve ser avaliado observando o fator
emocional que condiciona a criança a ter certas atitudes como
desatenção, falta de concentração, apatia, agressividade ou indiferença,
dificultando seu desenvolvimento cognitivo.
Problemas de natureza emocional e
psíquica devem ser trabalhados em conjunto com a escola, família e um
profissional, psicólogo ou psicopedagogo, que estará responsável pela
avaliação e intervenção terapêutica auxiliada pelos professores e
familiares da criança.
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