É
muito comum que os filhos pequenos apareçam no meio da noite à procura
de um cantinho na cama da mamãe e do papai. Geralmente isto ocorre entre
os 2 e 5 anos. Mas será que permitir que eles se aninhem entre os
cobertores dos pais é uma atitude saudável? O que fazer quando isto
acontece?
A criança pequena ainda não tem a sua individualidade amadurecida.
Quando ela acorda no meio da madrugada, ela se sente sozinha,
desamparada, e ficará tranquila quando estiver próxima dos pais.
Uma atitude interessante nesta situação seria acolher esta criança
por alguns minutos com carinho e, posteriormente, levá-la de volta para a
cama dela – mesmo que isto implique em fazer este trajeto várias vezes…
e não vale levar a criança e dormir na cama dela! Caso necessário,
melhor seria ficar alguns minutos em uma cadeira a seu lado.
A criança precisa vivenciar que seus pais estarão sempre dispostos a protegê-la, mas que cada um tem o seu espaço na constituição familiar.
“Ah”, diriam alguns, “mas é tão bom dormir com meu
filho, ele é tão indefeso, ele chora desesperadamente e eu acabo
cedendo, é muito mais prático deixá-lo dormir comigo, que mãe ou pai eu
seria se deixasse meu filho (ou filha) sozinho naquele quarto escuro,
frio, solitário… e eu já fico tanto tempo longe dele, no trabalho”.
Estas são justificativas muito comuns ouvidas dos pais, e por detrás
delas há justamente uma intenção de resolver suas próprias questões
emocionais conflituosas. Mas isto já é um assunto para outras conversas.
Quando é permitido que os
filhos permaneçam na cama de seus pais, contribui-se para que a criança
venha a desenvolver inúmeros conflitos na sua vida adulta. Vejamos
alguns deles:
Quando o bebê nasce, ele não tem formada a sua individualidade; ele
não formou ainda o seu Eu. Há uma indiferenciação entre o bebê e o mundo
(ou seja, ele não sabe a diferença entre ele e o outro), e
principalmente entre o bebê e aquele que exerce o papel de
cuidador/cuidadora – na maioria da vezes a mãe (o bebê se percebe colado
à mãe). Quando a mãe age de maneira superprotetora, não permitindo que
este bebê comece lentamente a se afastar dela, ela pode dificultar a
formação do Eu. Esta ligação simbiótica entre mãe e bebê pode contribuir
para que a criança tenha dificuldades em se relacionar com o que – e
quem – estiver fora desta relação, causando inseguranças, dependências, e
até mesmo, em casos extremos, comportamentos com características
autísticas. “Mas tudo isso só porque durmo com meu bebê na cama?”. É
que, geralmente, uma mãe que não permite que seu bebê durma em seu
próprio quarto também, sem se dar conta, acaba tendo atitudes
simbióticas durante o dia. Dormir com o bebê, neste caso, é só um
sintoma.
Além disso, durante a formação psíquica da criança, ela necessita receber na medida certa amor e limites.
Excesso de proteção vai gerar uma criança dependente e insegura, que
sempre precisará de alguém que a complete. Ela poderá se tornar um
adulto fixado a uma fase infantil onde recebeu excesso de aconchego.
Ainda há outras questões: a estruturação da
personalidade e a orientação do desejo se forma na primeira infância.
Uma das bases da psicanálise – o complexo de Édipo – está intimamente
ligada a esta estruturação. Segundo Laplanche e Pontalis, o complexo de
Édipo consiste em um “conjunto de desejos amorosos e hostis que a
criança sente em relação aos pais (…), [e] apresenta-se como na história
de Édipo-Rei: desejo da morte do rival que é a personagem do mesmo sexo
e desejo sexual pela personagem do sexo oposto”. Assim a criança
(entre 4/6 anos) pode inconscientemente desejar o desaparecimento do
parental do mesmo sexo para poder ficar, de forma fantasiosa, com o
parental do sexo oposto: o filho quando dorme na cama quentinha com a
mamãe, concretiza um desejo fantasioso de ter a mãe e afastar o pai.
Para que, neste caso, o menino possa se tornar um homem que venha a
desejar e conquistar outras mulheres e não desejar mais a mãe, ou seja,
superar este complexo, faz-se necessário que haja uma interdição desta
fantasia pelo pai. É preciso ficar muito claro que a mamãe é a namorada
do papai. E o mesmo vale para as meninas.
Crianças que dormem regularmente na cama dos pais ainda acabam
interferindo na intimidade do casal: ponto para a criança sedutora!
por Tânia Regina Baptista
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