● Ele tem 7 anos e repete frases e palavras que chamam sua atenção,
muitas vezes frases feitas que ouviu em desenhos: "vermelho, amarelo,
azul e violeta" . Mas nem sempre esta comunicação é pra mim. Quase nunca
é. Ou não parece ser. Está falando sozinho? Não. Ninguém fala sozinho.
Há sempre "um outro" que ocupa um lugar na fantasia e para quem é
direcionada esta fala. E nós, adultos (pais, cuidadores, substitutos)
precisamos suportar este outro tempo, e participar das falas, por vezes,
apenas repetindo: "vermelho, amarelo, azul e violeta".
● Ela não fala muitas palavras com sons comuns, tem suas próprias
expressões para se comunicar e aponta para tudo que quer. Tem 5 anos e
outro dia contei pra ela a história de uma menina que não conseguia
falar direito e, por isso, muitas pessoas não conseguiam entendê-la.
Brincando com os móveis da casinha, olhava para mim, com certo
desinteresse naquilo que ouvia. Daí continuei: "mas enfim, ela estava
conseguindo algo para ajudá-la a se comunicar melhor". Imediatamente,
ela levantou do tapete e veio ver o livro que eu segurava em mãos. Ficou
do meu lado e pronunciou: "Hum?" - expressão de susto e surpresa. "Você
quer saber como podemos ajudá-la? Confirmou que sim com a cabeça. "Aqui
diz que brincar e contar histórias podem ser muuuito importantes". "É
xiiia" (é tia) - acompanhado de um largo sorriso.
O único diagnóstico que me interessa aqui, neste primeiro tempo, é se há
alguma disponibilidade afetiva para ser desenvolvida. E sim, até aqui,
sempre houve. Sempre ha(verá).
Psicóloga Mayara Almeida
mayarapsicologia@hotmail.com
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