O Autismo Infantil é uma condição que deve ser estimulada o quanto antes afim de minimizar os prejuízos sócio cognitivo
Cada pessoa é única. Ninguém é igual a ninguém. Cada ser humano tem sua personalidade, sua forma de enxergar o mundo e seu jeito de fazer as coisas. E é por isso que cada criança se desenvolve de uma forma diferente. Este é um consenso internacional e bem consolidado nas diversas comunidades científicas. Também, por este motivo, mesmo crianças com autismo devem ser estimuladas de forma individualizada. No caso do Autismo Infantil, soma-se ainda a necessidade do diagnóstico precoce e do envolvimento interdisciplinar para que esta abordagem seja o mais próximo do ideal.
As crianças com Autismo apresentam problemas significativos de desenvolvimento no que tange a várias habilidades cognitivas, como: percepção visual e auditiva, sensibilidade para perceber necessidades de compartilhamento social, atraso de linguagem para se comunicar e para entender expressões linguísticas sociais, dificuldade de aprendizagem simbólica e problemas em perceber espacialmente as referências faciais das pessoas. O Autismo infantil, por exemplo, têm dificuldade para compartilhar seus brinquedos com outros amiguinhos e apresentam pouca capacidade de fixar o olhar no interlocutor. Diante destas premissas, alguns pais não sabem como estimulá-las e de como se aproximar delas para esta tarefa. Um dos meios para que isso ocorra é ter consciência de que a comunicação com a criança não se dá apenas de forma oral mas de diversos outros caminhos. É preciso estar aberto para aprender outras formas que utilizem canais sensoriais para chegar a uma comunicação realmente efetiva.
Em artigo de revisão recente, publicado na revista Neurologia, a pesquisadora Sonia Martinis-Sanchez correlacionou os problemas sensoriais que normalmente aparecem no Autismo Infantil, com as alterações executivas e de linguagem nestas crianças e constatou que existe uma pobreza de conexões entre as áreas frontais e as áreas diretamente ligadas `a cognição social. isto sinaliza que estimular áreas frontais e outras áreas não-ligadas diretamente `a linguagem podem promover modificação nas habilidades sociais.
Vejam e entenda como podemos estimular o desenvolvimento de uma criança com Autismo Infantil:
1) Por meio da visão:
É muito importante trabalhar a fixação ocular das criança com autismo. Elas apresentam extrema dificuldade em centralizar sua visão na percepção de formas de olhos e boca dos seus cuidadores e das crianças com as quais elas brincam. Os pais se queixam frequentemente de que ” o meu filho não olha para mim ” levando a apreensão de seus entes queridos mas também gerando maiores obstáculos para a aprendizagem. O Autismo Infantil tem severas dificuldades em perceber o triângulo existente entre os olhos e a boca e sabemos que o reconhecimento de face depende da identificação deste trígono. Além disto, os movimentos dos olhos podem expressar dificuldades na regulação da atenção voluntária, descontrole na inibição de um comportamento e direcioná-lo para outro objetivo, falta de planejamento de ação e de iniciar uma resposta. Portanto, ao interagir com uma criança com Autismo Infantil, é essencial direcioná-lo para este trígono e fixar bem seus olhos nela. Sempre que for conversar com ela, abaixe-se e olhe para os olhos da criança. Procure mostrar objetos diferentes sempre colocando-os neste campo visual. Sucessivas ações neste sentido estimulará sua percepção visual e a “janela” para estimular áreas cerebrais diversas.
2) Por meio da sensibilidade táctil:
Muitos autistas apresentam grande hipersensibilidade na pele, na audição, na visão levando a crises de choro, reações de proteção ou auto-mutilação. Isto ocorre porque não há uma adequada integração destes estímulos com interpretação de estados mentais sociais (entender-se nos estímulos do mundo e entender o outro) e com os padrões simbólicos inter-humanos de percepção do além do concreto – como o significado de um estímulo doloroso e a reação subsequente a ele. A dificuldade de coesão central faz com que o autista interprete um estímulo como único e não dentro de um contexto super-valorizando as partes em detrimento do todo. Assim , estimular e trabalhar estes distúrbios em direção a auxiliar uma adequada integração dos mesmos permite ajudar esta criança a organizar e se harmonizar com a antes temida sensação. No Autismo Infantil métodos de Integração Sensorial tem sido empregados para este fim.
3) Por meio de cooperação e compartilhamento:
Ver o mundo de forma fragmentada, particularizada e desconectada de um sentido social é uma das marcas do Autismo Infantil. Isto não tem nada a ver com repúdio voluntário à interação social, mas sim a um déficit cognitivo neurológico que leva à falha no reconhecimento de estados mentais nas outras pessoas, ou seja, de interpretar – sem que se fale – o que deve estar aquela pessoa pensando ou imaginando antes que ela mesma fale abertamente. Consequentemente, assim, o autista fracassa em cooperar, compartilhar, em dar continuidade num ato social, em comunicar-se e em dialogar com reciprocidade. Um dos caminhos mais significativos é estimulá-lo por meio de tarefas e jogos sociais e meios estratégicos de compartilhamento de sequências. Atualmente, games que exigem compartilhamento para concluir um objetivo ou vencer etapas estão sendo desenvolvidos para este fim.
4) Métodos de comunicação alternativa ou por uso de figuras no Autismo Infantil
É comum que muitos autistas demorem excessivamente para começarem a falar ou em muitos casos nunca falarão…Neste contexto, é frequente se optar por formas de intervenção se utilizando de métodos de comunicação alternativa ou por meio de figuras (conhecidos mundialmente como PECS). Estes métodos se valem de estratégias alternativas para o desenvolvimento da linguagem e da comunicação em crianças com Autismo. Ao contrário do que se pensava, adotá-los não inibe o aparecimento da fala. Além disto, permite que novos caminhos de comunicação sejam desenvolvidos e implementados; novas formas de expressão podem surgir; compartilhamentos – antes intransponíveis – podem aparecer e permitir novos compartilhamentos. O uso de figuras / imagens do cotidiano familiarizam a criança com códigos que podem ser utilizados para se fazer entender. Muitas das reações agressivas que presenciamos nos autistas são oriundas de suas limitações para se comunicar e a obtenção de habilidades comunicativas ( mesmo que alternativas ) podem reduzir ou fazer com que desapareçam estes comportamentos.
5) Contato frequente com outras crianças
Disponibilizar momentos sociais é fundamental para desenvolver, desde cedo, percepções e formas de interagir. No Autismo Infantil, é dispensável afirmar quão importante é esta conduta! Aniversários, passeios em ambientes sociais, confraternizações, brincar em espaços com outras crianças, escolarização precoce, participação em eventos familiares e em clubes, explorar momentos de compartilhamento e cooperação e estar, enfim, sempre predisposto a sair de casa são situações das mais diversas para estimular o cérebro de seu filho autista. Muitas vezes, buscamos tecnologias, meios vultosos, experiências mirabolantes…mas nada é tão importante quanto a colocá-lo em situações sociais.
6) Musicalização
No Autismo Infantil alguns artigos e teses acadêmicas vem evidenciando cada vez mais o papel da música como manejo eficaz para o desenvolvimento de crianças com autismo. Possui como objetivo principal “abrir um canal de comunicação” com a criança, quer seja através do olhar, do toque (nos instrumentos) ou da escuta (perceção dos estímulos sonoros). Neste momento também se gera a possibilidade de canalizar as estereotipias e/ou comportamentos inadequados, utilizando os instrumentos sonoro-musicais para re-significar ações e/ou condutas para atividades construtivas. Não se trata de inibir as estereotipias e/ou fixações, mas de canalizá-las para a auto-expressão, através dos diferentes tipos de interação. As interações podem ocorrer de diversas formas e em diversos âmbitos: interações com o instrumental, tendo o instrumento como objeto intermediário de uma relação, quer seja com o musicoterapeuta e/ou com seus pares; interação com o som/música, quer através de melodias ou ritmos conhecidos, quer através de sons novos ao seu universo sonoro, buscando oportunizar a percepção de novas fontes sonoras; interação com a atitude lúdica, tanto com o musicoterapeuta (que possibilitará a inserção dos elementos novos) como com os familiares e/ou grupo, oportunizando novos encontros e novas percepções sociais e sonoras, onde irão captar a atenção do seu bebê e desenvolver em si mesmos a confiança e naturalidade de que necessitam para se engajarem no processo interacional. Sabemos, ainda, que a musica ajuda a desenvolver funções executivas, coordenação espacial e relação de nosso cérebro com ritmos e persistência motora.
Estes são alguns caminhos que podem ser experimentados no Autismo Infantil. Permitir estímulos que criam pontes e conexões podem ser valiosos para um cérebro que tanto precisa de novas integrações!!
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