Entre
20 e 24% do total de crianças em fase escolar têm tiques. As causas
podem ser consequências de uma somatização de angústias psíquicas ou até
mesmo de uma sequência de acontecimentos traumáticos. Os pais devem
ficar bem atentos para evitar que as manias não evoluam para Transtornos
Obsessivos Compulsivos (TOC).
Os
tiques classificados como motores e vocais são caracterizados por
movimentos involuntários, rápidos, repetitivos e estereotipados, que
surgem de maneira súbita e não apresentam ritmo determinado. A
intensidade dos movimentos é variável. Alguns são quase imperceptíveis,
outros, bastante complexos, como saltos ou fortes latidos. Há também
casos em que são "camuflados" em atitudes corriqueiras, como afastar o
cabelo do rosto ou ajeitar a roupa (neste caso, só são reconhecidos por
seu caráter repetitivo). Piscar os olhos continuamente, fazer caretas
faciais, movimentos com o nariz e boca, repuxar o pescoço, franzir a
testa, trincar os dentes, estalar a mandíbula, levantar os ombros, ou
mexer outras partes do corpo, como também coçar a garganta, fungar e
emitir algum som são os sinais mais freqüentes de quem apresenta
Distúrbio de Tique Transitório, que se não for tratado, pode evoluir
para Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC).
Para
o professor e psicólogo Luiz Gonzaga Leite, chefe do Departamento de
Psicologia do Hospital Santa Paula, cerca de 3% da população apresenta
tiques em determinadas fases da vida, mas é mais comum na infância. "O
distúrbio surge por volta dos sete anos de idade, mas esse evento pode
variar dos dois aos quinze anos. No caso dos meninos, pode ocorrer entre
os cinco e oito anos, e nas meninas, na adolescência".
Conforme
Leite, de 20 a 24% do total de crianças em idade escolar têm tiques.
Ele explica que "isso acontece pelo fato de a criança, na fase escolar,
sair de um círculo familiar às vezes protecionista demais, incapacitando
a mesma de lidar com os conflitos do mundo externo - nestes casos, o
tique pode ser uma demonstração somática de angústias psíquicas".
Entre
outras causas, esses tiques podem ter início na seqüência de
acontecimentos traumáticos, como uma dramática separação de casais; a
morte de algum ente querido; a mudança de escola ou mesmo de cidade (em
que se deixa para trás as pessoas de convívio diário); o nascimento de
um irmão, ou ainda quando a criança é submetida a uma presença
amedrontadora. "Pais muito rígidos ou hiper protetores costumam
contribuir para o aparecimento de tiques e manias em seus filhos que, em
geral, demonstram ansiedade, fragilidade emocional, insegurança e
medo".
Os
pacientes que apresentam o distúrbio conseguem evitar os tiques, porém
com esforço e tensão emocional. Algumas vezes, as manifestações são
precedidas por uma sensação desconfortável, chamada premonitória e,
freqüentemente, seguidas por um sentimento de alívio. Os tiques costumam
desaparecer durante o sono ou durante atividades que exijam
concentração. Por outro lado, fatores como estresse, fadiga, ansiedade e
excitação aumentam a intensidade dos movimentos característicos.
Para
lidar com os pacientes vítimas do distúrbio, Leite recomenda aos pais
muita paciência, compreensão e carinho com a criança e nunca recorrer à
violência. "Os pais devem ter a consciência de que se trata de um ato
involuntário, um transtorno de psiquiatria e que necessita de
tratamento", explica. O tratamento deve ser realizado por meio de
psicoterapia (psicologia) e de medicação.
Na
maioria dos casos, essas manifestações são dissipadas com o tempo.
"Calcula-se que um terço dos pacientes apresente remissão completa no
fim da adolescência, o outro terço melhora dos tiques e o restante
provavelmente continuará com o problema inalterado durante a vida
adulta".
Os
pais devem estar bastante atentos ao surgimento de toda e qualquer
manifestação de tique infantil. "Caso os tiques não sejam tratados ou
permaneçam por um longo período, podem evoluir para Transtorno Obsessivo
Compulsivo (TOC)", alerta o psicólogo Luiz Gonzaga Leite.
Transtorno Obsessivo Compulsivo
As
"manias", alguns tiques e pensamentos "absurdos" que não saem da cabeça
podem fazer parte do quadro de Transtorno Obsessivo Compulsivo,
conhecido como TOC. "Embora esse quadro tenha geralmente início na
adolescência ou começo da idade adulta, ele pode aparecer na infância de
forma tão comum quanto em adultos. A idade de início costuma ser um
pouco mais precoce nos homens", afirma Leite.
A
causa do Transtorno Obsessivo Compulsivo ainda é desconhecida. O TOC é
provavelmente resultante de fatores causais diferentes. Algumas formas
de TOC são familiares e podem estar associadas a uma predisposição
genética. Outras se apresentam como casos esporádicos. Entre os casos
familiares, parte parece estar relacionada aos transtornos de tiques,
como por exemplo, a Síndrome de Tourette (distúrbio neurológico ou
"neuro-químico" que se caracteriza por tiques). O TOC de início precoce
está associado com uma preponderância masculina e um risco aumentado de
transtorno de tiques.
Como identificar o TOC infantil?
Para
suspeitar-se do TOC, os pais devem tentar identificar em seus filhos
algumas lesões cutâneas devido à lavagem excessiva das mãos, gasto
excessivo de sabão e papel toalha, trejeitos e tiques, tempo gasto em
demasia para a realização das tarefas (de casa e da escola), buracos nos
cadernos ocasionados por apagar seguidamente, solicitação exagerada
para familiares responderem à mesma pergunta, medo persistente e absurdo
de doenças, aumento excessivo na quantidade de roupas para lavar,
demora para preparar a cama, medo persistente de que algo terrível
aconteça para alguém, preocupação constante com a saúde dos familiares,
entre outros.
http://www.alobebe.com.br/site/revista/reportagem.asp?Texto=412
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