O comportamento hiperativo de crianças e adolescentes tem se acentuado nos últimos anos. Famílias, escolas e consultórios dos profissionais da saúde mental frequentemente lidam com essa questão. As pesquisas apontam que para cada vinte alunos em uma turma escolar, pelo menos cinco apresentam esse comportamento. O problema se torna mais acentuado quando o comportamento hiperativo dos filhos atravessa os muros da escola. Queixas dos professores pelo mau comportamento dessas crianças que não param quietas no momento da explicação do conteúdo, idas e vindas à direção da escola e em quase todos os casos, resultados insuficientes para acompanhar a média da sua turma, como preço final de seus esforços. A partir daí, além de ter que lidar com a hiperatividade dos filhos, as famílias precisam ajudá-los a recuperar as notas perdidas. O círculo vicioso está formado!
Contudo, queria destacar a diferença entre ser e estar hiperativa para evitar equívocos na hora de procurar um diagnóstico quando há suspeita de hiperatividade, por parte da escola ou da família. “Estar” hiperativa é diferente de “Ser” hiperativa! Estar indica que o processo é momentâneo, a criança pode estar vivendo uma fase mais agitada, por um motivo ou outro na sua vida. Ser, significa carregar o rótulo por toda a sua vida. E esse peso é com certeza muito pesado! O fato se agrava mais quando o indivíduo ainda compra a ideia de que seus desafios e fracassos se justificarão exclusivamente por causa dessa condição. É importante pontuarmos essa diferença. Toda criança apresenta um comportamento similar ao de hiperatividade até certa fase de seu desenvolvimento, principalmente nos anos que marcam sua descoberta do mundo. Explorar intensamente o território que se abre para elas no momento em que adquirem a habilidade de engatinhar, andar, correr, pular, falar e pensar, são processos considerados dentro dos parâmetros normais, mesmo que um pouco mais intensos nesse percurso de seu desenvolvimento.
Não somos todos iguais, não vivemos em uma sociedade padronizada. Nem precisaremos ir muito longe para reparar a criação de uma menina e de um menino. Aos meninos é “permitido”: correr, pular e se machucar. É “coisa” de homem! Se um garoto for tratado com um pouco mais de cuidado, logo somos tentados a pensar que irá ficar com modos de menina. Ao mesmo tempo, para as meninas o comando é: ser quietinha e recatada! Afinal, ela é menina! E por ser menina “parece” merecer maiores cuidados!
Esses modelos de comportamento transmitidos por nossa cultura, que perpassa aos nossos filhos e netos, pode ser variáveis importantes a serem consideradas quando tentamos compreender o porquê dos índices de hiperatividade serem mais elevado no sexo masculino.
Muitos profissionais principalmente da área neuropsiquiátrica alimentam a ideia de que a cultura não influencia o diagnóstico para TDA/H – Transtorno do Déficit da Atenção Com ou Sem Hiperatividade. Contudo, esses argumentos são de hipóteses subjetivas. Não podemos afastar essa dúvida simplesmente porque não há como constatar essa negação. Sabemos o peso que a cultura tem sobre o comportamento humano, ignorá-la seria pouco prudente.
Vivemos em uma sociedade do imediatismo. Necessitamos ser rápidos, eficazes eficientes para potencializarmos nossas competências. As crianças veem esse modelo ser construído em casa através das múltiplas funções desempenhadas por seus pais. Tal modelo pode levá-la a responder a vários estímulos, tais como ver televisão ao mesmo tempo em que conversa com seus trinta amigos da turma escolar no Facebook para atualizar as fofocas da escola e ainda fazer seus exercícios escolares.
O fato de haver um mapeamento através da imagem diferenciada no cérebro de pessoas com transtorno de déficit de atenção no lóbulo frontal desses indivíduos, comprovada pelas neurociências, não pode ser prova suficiente para afirmarmos que achamos a causa do problema. Costumamos dizer que não adianta combater a febre, que é o sintoma, sem identificar e combater a causadora da infecção. Constatar apenas que a febre está presente é tarefa das neurociências, importantíssima para o processo, mas isso apenas não basta. No caso do déficit de atenção com ou sem hiperatividade (TDA/H), não há como saber se a causa da ativação do cérebro no lóbulo temporal frontal dos hiperativos é realmente hereditária ,porque não há como verificar esse fato através de exames. Disfunção dos neurotransmissores: Noradrenalina e Dopamina? Por mais avançada que esteja as ciências não há sequer um exame que possa comprovar a origem dessas disfunções.A lógica pode ser clara, mas o que poucos sabem é que é pouco precisa!
Toda a abordagem neuropsiquiátrica está para uma percepção dimensional das causas do TDA/H. Precisamos abrir o leque e considerarmos outras variáveis na história de vida de uma criança ou adolescente antes de darmos um remedinho “mágico”, Ritalina(metilfenopropano) na maioria dos casos, pensando ser essa a solução do problema. As ocorrências que experimentamos diariamente no consultório do departamento psicopedagógico do Centro Apoio, nos apontam que a maioria das pessoas diagnosticadas com o TDA/H abandona o tratamento por não suportar as contra-indicações que tais medicações ,cujo o principio ativo é o metilfenopropano, a Ritalina, causam em seus organismos. Alguns fazem opções por tomarem apenas na época de provas, outros nem voltam ao consultório do psiquiatra e abandonam o tratamento por conta própria, principalmente devido à depressão, a insônia e a falta de apetite que o medicamento provoca.
Defendo a ideia de que a identificação das causas que levam as pessoas a serem desatentas ou hiperativas deveria ser tarefa para uma equipe especializada de profissionais da educação e saúde e não apenas de um psiquiatra ou neurologista. Ou seja, um diagnóstico mais próximo do “preciso”, se é que existe, deve ser realizado por uma equipe interdiciplinar que incluem: professores psicopedagogos, psicólogos, psicanalistas, neurologistas e psiquiatras. Felizmente, no Centro Apoio, temos essa oportunidade trabalharmos com essa visão. Nunca indicamos apenas o neurologista e/ou psiquiatra. Explicaremos nas próximas linhas o motivo de tal indicação.
Relativizando poderemos pensar em outros fatores que possam ser levados em conta, na tentativa de justificar o comportamento hiperativo e desatento na vida de crianças e adolescentes, em específico àqueles que não conseguem sucesso em seu processo de aprendizagem.
Por Bárbara Santos
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