Inclusão é a nossa capacidade de entender e reconhecer o outro e, assim, ter o privilégio de conviver e compartilhar com pessoas diferentes de nós. A educação inclusiva acolhe todas as pessoas, sem exceção. É para o estudante com deficiência física, para os que têm comprometimento mental, para os superdotados, para todas as minorias e para a criança que é discriminada por qualquer outro motivo. Estar junto é se aglomerar no cinema, no ônibus e até na sala de aula com pessoas que não conhecemos. Já inclusão é estar com, é interagir com o outro.
Com a inclusão, enquanto a criança com deficiência tem a oportunidade do contato com o diferente, de aprender a lidar com as dificuldades do mundo e a diminuir os preconceitos, os outros alunos poderão aprender a lidar com as diferenças desde a infância, desenvolvendo solidariedade sem cair em sentimentos desnecessários de pena e estranhamento. Pensando assim, vemos que os benefícios da educação inclusiva são para todo o público envolvido no processo. Mas, para isso, a escola deve ser devidamente estruturada ou a exclusão pode ser ainda mais cruel. Do porteiro ao diretor, todos na escola devem estar devidamente preparados para o público portador de deficiência. Inclusive os pais dos outros alunos, que são os mais resistentes à educação inclusiva. De qualquer jeito, é necessário que as escolas repensem todo o seu projeto pedagógico para trabalhar com educação inclusiva. Não se faz educação inclusiva no improviso. Os gestores devem refletir acerca do novo paradigma da inclusão pois, somente dessa forma, a escola estará preparada para mostrar à toda a comunidade escolar a importância da educação inclusiva para a comunidade.
A escola tem que ser o reflexo da vida do lado de fora. O grande ganho, para todos, é viver a experiência da diferença. Se os estudantes não passam por isso na infância, mais tarde terão muita dificuldade de vencer os preconceitos. A inclusão possibilita aos que são discriminados pela deficiência, pela classe social ou pela cor que, por direito, ocupem o seu espaço na sociedade. Se isso não ocorrer, essas pessoas serão sempre dependentes e terão uma vida cidadã pela metade. Você não pode ter um lugar no mundo sem considerar o do outro, valorizando o que ele é e o que ele pode ser. Além disso, para nós, professores, o maior ganho está em garantir a todos o direito à educação.
Pedagogia centrada na criança:
“Entre os objetivos e metas consta a observância das metas estabelecidas pela educação especial, nos termos em que aparecem no capítulo a ela destinado. Estabelece o prazo de um ano para “elaborar padrões mínimos nacionais de infra-estrutura, incluindo adaptação dos edifícios escolares para o atendimento dos alunos ´portadores de necessidades especiais`” (MONTE; SIQUEIRA; MIRANDA, 2001, p.88).
Educação Especial incorpora os mais do que comprovados princípios de uma forte pedagogia da qual todas as crianças possam se beneficiar. Ela assume que as diferenças humanas são normais e que, em consonância com a aprendizagem de ser adaptada às necessidades da criança, ao invés de se adaptar a criança às assunções pré-concebidas a respeito do ritmo e da natureza do processo de aprendizagem. Uma pedagogia centrada na criança é benéfica a todos os estudantes e, consequentemente, à sociedade como um todo. A experiência tem demonstrado que tal pedagogia pode consideravelmente reduzir a taxa de desistência e repetência escolar (que são características de tantos sistemas educacionais) e ao mesmo tempo garantir índices médios mais altos de rendimento escolar. Uma pedagogia centrada na criança pode impedir o desperdício de recursos e o enfraquecimento de esperanças, tão freqüentemente conseqüências de uma instrução de baixa qualidade e de uma mentalidade educacional baseada na idéia que “um tamanho serve a todos”. Escolas centradas na criança são além do mais a base de treino para uma sociedade baseada no povo, que respeita tanto as diferenças quanto à dignidade de todos os seres humanos. Uma mudança de perspectiva social é imperativa. Por um tempo demasiadamente longo os problemas das pessoas portadoras de deficiências têm sido compostos por uma sociedade que inabilita, que tem prestado mais atenção aos impedimentos do que aos potenciais de tais pessoas.
Nas escolas inclusivas a progressão no ensino não é serial, linear, mas sincrônica e organizada em ciclos de formação/desenvolvimento, que cobrem as faixas etárias de 6 a 11 anos, de 11 a 14 anos para o caso do ensino fundamental.
Estes tempos permitem que o aluno transite num dado nível de ensino sem reprovações, sem desvios para o ensino especial, sejam quais forem as suas necessidades, pois não estabelecem, quando uma criança ou jovem devem mudar de suas passagens.
Instaura-se uma nova lógica organizacional, em que o processo escolar não se limita exclusivamente aos avanços cognitivos e em que o tempo escolar é valorizado e entendido como uma etapa da vida do aluno que concorre para a formação de sua personalidade como um todo.
Cada ciclo representa e engloba uma experiência coletiva de ordem cultural, social afetiva e intelectual, que deve transcorrer sem interrupções, sem barreiras. A idade cronológica é a única categoria aceitável para distinguir os agrupamentos de alunos.
Formação e Postura dos Educadores
“A inclusão é um motivo para que a escola se modernize e os professores aperfeiçoem suas práticas e, assim sendo, a inclusão escolar de pessoas deficientes torna-se uma conseqüência natural de todo um esforço de atualização e de reestruturação das condições atuais do ensino básico”.(Mantoan,1997,p.120)
Um treinamento pré-profissional deveria fornecer a todos os estudantes de pedagogia de ensino primário ou secundário, orientação positiva frente à deficiência, desta forma desenvolvendo um entendimento daquilo que pode ser alcançado nas escolas através dos serviços de apoio disponíveis na localidade. O conhecimento e habilidades requeridas dizem respeito principalmente à boa prática de ensino e incluem a avaliação de necessidades especiais, adaptação do conteúdo curricular, utilização de tecnologia de assistência, individualização de procedimentos de ensino no sentido de abarcar uma variedade maior de habilidades.
As habilitações dos Cursos de Pedagogia para formação de professores de alunos dom deficiência deveriam ser extintas e que os cursos de especialização não deveriam se dedicar a especializar os educadores em tipo de incapacidade, em uma categoria de alunos, mas estar voltados para o aprofundamento pedagógico desse profissional, de modo que pudesse entender melhor a criança em geral, no seu desenvolvimento. Em outras palavras, os professores precisam dominar cada vez mais os conteúdos curriculares, os processos de ensino e de aprendizagem, isto é especializarem-se no “o que”, no “como” e no “para que” se ensina e se aprende.
Ao nosso ver, o tratamento das questões relativas ao ensino de pessoas com deficiência na formação geral dos educares eliminariam, em grande parte, os obstáculos que se interpõem entre a escola regular e esses alunos. A formação única para todos os educadores propiciaria a tão esperada fusão entre a educação especial e a regular, nos sistemas escolares.
Vivemos em uma cultura que valoriza mais as questões econômicas que as questões sociais. Essa verdade, tão conhecida por todos nós, vem explicar a desvalorização que, em nossa sociedade, se dá às crianças, aos adolescentes, aos idosos, e principalmente aos portadores de deficiência, que não fazem parte da população economicamente ativa, que são considerados “um peso” para o sistema.
A ação do professor, tanto no que se refere ao seu planejamento, como a sua atuação efetiva na vivência de sala de aula, é determinada pelo seu jeito de pensar a vida, pela sua visão de mundo, pela leitura que faz da sociedade, da educação, do ensino, do seu papel no trabalho, de si mesmo enquanto cidadão, de seu compromisso com o aluno, da relação professor/aluno. Todas essas idéias, essas concepções, constituem uma verdadeira teoria pessoal, subjetiva, particular, resultado da história de vida de cada um.
Cabe ainda a esse professor:
- Buscar formas de o aluno manifestar o que pode aprender e não se preocupar com as rotulações;
- Organizar práticas educativas que permitam aos alunos oferecerem uns aos outros, ajuda para a solução das dificuldades;
- Utilizar as experiências de vida do próprio aluno como fator motivador da aprendizagem dele;
- Ser flexível nos métodos de avaliação, pois sabe que os testes, provas e exames provocam medo e ansiedade nos alunos;
- Contribuir para a construção de uma escola de qualidade para todos, cooperando com o aprimoramento do sistema escolar, no sentido de melhorar o acesso à educação das pessoas com necessidades educativas especiais.
As seguintes orientações enfocam pontos a serem considerados na integração de crianças com necessidades educacionais especiais em escolas inclusivas.
São aplicáveis às classes de hoje, marcadas pela diversidade humana, os seguintes métodos: instrução multinível, a comunicação total, aprendizagem por cooperação, aprendizado baseado em atividades.
O currículo deveria ser adaptado às necessidades das crianças e não vice-versa. Escolas deveriam, portanto, prover oportunidades curriculares que sejam apropriadas à criança com habilidades e interesses diferentes.
O conteúdo da educação deveria ser voltado a padrões superiores e às necessidades dos indivíduos com o objetivo de torná-los aptos a participar totalmente no desenvolvimento. O ensino deveria ser relacionado às experiências dos alunos e a preocupações práticas no sentido de melhor motivá-los.
Para que o progresso da criança seja acompanhado, formas de avaliação deveriam ser revistas. Avaliação formativa deveria ser incorporada no processo educacional regular no sentido de manter alunos e professores informados do controle da aprendizagem adquirida, bem como no sentindo de identificar dificuldades e auxiliar os alunos a superá-las.
O sucesso de escolas inclusivas depende em muito da identificação precoce, avaliação e estimulação de crianças pré-escolares com necessidades educacionais especiais. Assistência infantil e programas educacionais para crianças até a idade de seis anos deveriam ser desenvolvidos e/ou reorientados no sentido de promover o desenvolvimento físico, intelectual e social e a prontidão para a escolarização.
Tais programas possuem um grande valor para o indivíduo, a família e a sociedade na prevenção do agravamento de condições que inabilitam a criança. Programa neste nível deveriam reconhecer o princípio da inclusão e serem desenvolvidos, de uma maneira abrangente, através da combinação de atividades pré-escolares e saúde infantil.
O papel político social e da família na Educação Inclusiva
A participação do aluno portador de deficiência nas atividades extracurriculares de forma integrada com seus colegas é muito importante, pois beneficia a percepção mais ampla da realidade social e favorece o desenvolvimento geral do aluno.
Sempre é bom lembrar a importância da participação da família. Por mais simples que sejam, os parentes mais próximos, como pais e irmãos, podem, querem e devem participar. E os professores devem ajudá-los nessa tarefa, prestando-lhes informação, orientações, e fazendo-os sentirem-se partes integrantes e indispensáveis do processo.
A educação de crianças com necessidades educacionais especiais é uma tarefa a ser dividida entre pais e profissionais. Uma atitude positiva da parte dos pais favorece a integração escolar e social. Pais necessitam de apoio para que possam assumir seus papéis de pais de uma criança com necessidades especiais. O papel das famílias e dos pais deveria ser aprimorado através da provisão de informação necessária em linguagem clara e simples, ou enfoque na urgência de informação e de treinamento em habilidades paternas constitui uma tarefa importante em culturas aonde a tradição de escolarização seja pouca.
O desenvolvimento de escolas inclusivas como o modo mais efetivo de atingir a educação para todos deve ser reconhecido como uma política governamental chave e dado o devido privilégio na pauta de desenvolvimento da nação. Somente desta maneira que os recursos adequados podem ser obtidos. Mudanças nas políticas e prioridades podem acabar sendo inefetivas a menos que um mínimo de recursos requeridos seja providenciado. O compromisso político é necessário, tanto a nível nacional como comunitário para que se obtenha recursos adicionais e para que se re-empregue os recursos já existentes. Ao mesmo tempo em que as comunidades devem desempenhar o papel-chave de desenvolver escolas inclusivas, apoio e encorajamento aos governos também são essenciais ao desenvolvimento efetivo de soluções viáveis.
Para Marta Maria Pontim Darsie, professora do Departamento de Ensino e Organização Escolar do Instituto de Educação da Universidade Federal de Mato Grosso, 2005, quando a dificuldade está na própria escola, a primeira e mais importante atitude é fazer com que todos tomem consciência desse preconceito e lutem para superá-lo. “O educador precisa compreender as diferenças para poder aceita-las” teoriza. “E falo da Pedagogia das Diferenças que não se trata, como muitos pensam, de ensino individualizado, mas de métodos organizados com base na realidade da classe, das diferenças presentes”.
Ela defende que ninguém pode priorizar uma só cultura, uma só linguagem. Na prática, isso significa conhecer e valorizar os conhecimentos e experiências que os alunos trazem de suas famílias e amigos, e estar atento às necessidades e interesses de cada um.
“Assim, é possível abrir o leque de atividades e atrair todos os estudantes, sem exceção”.
Já Marli André, mestre em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e doutora em Psicologia Educacional pela Universidade de Illinois, nos Estados Unidos, 2005, nos fala que o professor não consegue ficar alheio às diferenças na sala de aula, pelo contrário, ela vê um professor angustiado com isso, muitas vezes por não saber o que fazer com a diversidade. Ele tem consciência de que ali existe uma questão, mas não sabe resolvê-la.
Para ela o preconceito ainda existe por parte do professor em relação às variedades de comportamento, raciais e de aprendizagem, da mesma forma como persiste a questão do dom. Muitos educadores ainda pensam que alguns alunos vieram ao mundo mais inteligentes, são mais talentosos que outros. Infelizmente, as formas de vencer esse preconceito não são discutidas durante a formação do professor.
Segundo a Pedagoga, Mestranda da Unicamp na área de Educação Inclusiva, diz que há diferença entre inclusão e interação.
“Os termos integração e inclusão, embora tenham significados semelhantes abrangem formas diferentes de inserção. A integração pressupõe a inserção da pessoa deficiente preparada para conviver na sociedade. Já a inclusão propõe a modificação da sociedade como pré-requisito para que a pessoa com deficiência possa buscar seu desenvolvimento e exercer a sua cidadania. A inclusão provoca e exige da escola brasileira novos posicionamentos diante dos processos de ensino e de aprendizagem”.
A partir desses relatos podemos observar que cada criança tem um ritmo próprio. Cabe ao professor conhecê-lo e trabalhar suas dificuldades sempre respeitando sua cultura e linguagem.
O professor deve trabalhar as diferenças como diversidade, pois são nelas que construímos conhecimento. Devem ficar de lado os preconceitos e mostrar a todos os envolvidos no processo (pais, amigos, família e escola) que todos são capazes de desenvolver e aprender e para que isto se realize é necessário modificar a sociedade e fazer com que todos sejam inseridos na nela de forma autônoma e atuando como cidadão.
“Integração é um processo subjetivo e inter-relacional”(GLAT, 1997,p.199)
As escolas ainda resistem muito à inclusão, no sentido pleno e total, que engloba todos os alunos, sem exceção, entre os quais os que são ou estão mais severamente prejudicados. Mas há muitas que já estão aderindo à ideia e modificando seus procedimentos, incrementando seus projetos de ação, aprimorando o trabalho suas equipes pedagógicas para incluir, incondicionalmente, todos os aprendizes em suas salas de aulas, porque é justo e desejável agir assim.
Estas propostas rompem com as práticas escolares dominantes e apontam para a necessidade de o processo ensino/aprendizagem ser banhado na riqueza, na subjetividade, nas diferenças e no dinamismo das transformações que ocorrem na vida, dentro e fora das escolas, quando entendemos que o conhecimento é produzido no caldo do cotidiano e inventado no encontro dos saberes e dos fazeres dos que o constroem, com suas mães e com suas mentes.
Esperamos que com a escola inclusiva amadureçamos socialmente e não possamos mais esconder tantos problemas que ameaçam o futuro de nossos jovens debaixo do tapete.
Bibliografia e Dicas de Leitura:
- ANTUNES, Celso. As inteligências múltiplas e seus estímulos . – 3 a edição, 1998.
- GLAT, Rosana. Um novo olhar sobre a integração do deficiente. In: MANTOAN, Maria Teresa Egler .(org.) A integração de pessoas com deficiência: contribuições para uma reflexão sobre o tema. São Paulo: Memnon; SENAC, 1997.
- Larrosa, Jorge ( 1999). Pedagogia profana: danças, piruetas e mascaradas . Trad. Alfredo Veiga-Neto. Belo Horizonte: Autêntica.
- MANTOAN, Maria Teresa Egler. Inclusão escolar de deficientes mentais: que formação para professores? In: MANTOAN, Maria Teresa Egler.(org.) A integração de pessoas com deficiência: contribuições para uma reflexão sobre o tema. São Paulo: Memnon; SENAC, 1997.
- MAZZOTTA, Marcos José da Silveira. Deficiência, educação escolar e necessidades especiais: reflexões sobre inclusão sócio-educacional. São Paulo: Mackenzie, 2002 (Cadernos de Pós-Graduação; 7)
- TOURAINE, Alain. Poderemos viver juntos?: iguais e diferentes . Trad. Jaime A . Clasen e Ephraim F. Alves. Petrópolis: Vozes, 1998.
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