quarta-feira, 27 de novembro de 2019

Do A ao B, do B ao A - TERAPIA ABA


ABA é a sigla usada para referir-se à Análise do Comportamento Aplicado (em inglês: Applied Behavior Analysis). Em entrevista a professora do IPUSP Maria Marta Costa Hübner, nos conta que “ABA é uma ciência complexa derivada do behaviorismo de Burrhus Frederic Skinner (1904-1990). É uma abordagem baseada em evidências científicas, foi originada nos EUA, na década de 60”. 
Embora a ABA não tenha sido desenvolvida especificamente para a intervenção no comportamento da pessoa com Transtorno do Espectro Autista, a professora do PSE menciona que “na área do TEA, a ABA é a terapia comportamental que funciona porque é intensiva, sistemática e ensina habilidades. O autismo não é curável, mas é educável”. Assim sendo, ABA tornou-se a “queridinha” dos especialistas e recebe destaque considerável pela Organização Mundial de SaúdeMinistério da Saúde do Brasil e Governo do Estado de São Paulo; não só por isso, mas também por ter sua eficácia comprovada, diferentemente de outras aplicadas no campo.
Foi a partir de 1989 que os indivíduos com desenvolvimento atípico passaram a ser os sujeitos privilegiados nas intervenções relatadas no JABA (Journal of Applied Behavior Analysis), chegando muito perto de 50% do total de artigos até 1988 e crescendo progressivamente até atingir 75% em 1992.
A proposta básica da ABA resume-se em estimular comportamentos funcionais e fortalecer as habilidades existentes, além de modelar aquelas que ainda não foram desenvolvidas de forma que o indivíduo aprenda a interagir com a sociedade, estendendo o atendimento a todos os ambientes em que a criança vive.
Em paralelo com esse trabalho que é desenvolvido com a criança, é feito o treino dos pais e dada uma assistência, pois entende-se que os problemas de uma criança autista não estão restritos apenas a ela, abrangem a família também. Fora isso, sabe-se que as crianças se comportam de maneira diferente na clínica e em casa, portanto, é fundamental que os pais saibam como lidar com os problemas e dificuldades dos filhos no ambiente doméstico.
Como é a terapia ABA é realizada?
No livro da pesquisadora do IPUSP Luisa Guirado, “Tratamentos do autismo: a direção do olhar” encontramos a estrutura do tratamento que é dividida em quatro etapas (Windholz, 1995):  
1ª. Avaliação comportamental. Busca identificar as variáveis que controlam o comportamento-alvo. É necessário entender os fatores biológicos, sociais, econômicos e culturais, idade, estágio do desenvolvimentos e o contexto em que ocorreram e a consequência que os mantém.
2ª. Seleção de metas e objetivos. As metas são adquirir mais independência, desenvolver a comunicação e tornar o comportamento social mais aceitável e os objetivos são ligados a generalização dos comportamentos aprendidos, funcionalidade e adequação à idade, a médio prazo. Cada habilidade a ser aprendida é divida em pequenos passos ensinada com ajudas e reforçadores que poderão, gradualmente, ser eliminados.
3ª. Elaboração de programas de tratamento. Este é o momento em que são definidos os comportamentos a serem ensinados e as condições em que devem ocorrer. É preciso que os procedimentos sejam claros e que haja um reforçamento sistemático e eficaz. Verificação por dados da linha de base do quanto a criança já sabe, registrar e quantificar as respostas ao longo do programa para que seja possível verificar o processo e o progresso na aprendizagem. Neste caso, é comum o VB-MAPP (Verbal Behavior – Milestone Assessment and Placement Program) ser usado como protocolo de avaliação.
4ª. Intervenção. Há uma dificuldade das crianças com TEA no aprendizado e por isso a intervenção deve ser cuidadosamente planejada.
Além disso, é discutido que, para garantir a cientificidade e a qualidade da ABA, os analistas do comportamento devem nortear-se por sete dimensões de ciência aplicada (Baer e col (1968)). Primeiramente, ela deve ser Aplicada para atender às necessidades do indivíduo e da sociedade. A intervenção deve ser Conceitual, no sentido de seguir os princípios e filosofia do Behaviorismo Radical para que seja possível atingir a dimensão de uma intervenção Comportamental e, ainda, Analítica, demonstrando que a mudança comportamental foi produto dos procedimentos e programas comportamentais e não de outras variáveis.
 Obviamente, para atingir o objetivo buscado pelos que optam trabalhar com a ABA, a intervenção deve ser efetiva (deve ocorrer a melhora das condições comportamentais do indivíduo) e produzir mudanças generalizadas, ou seja, que os novos padrões comportamentais sejam mantidos no tempo, apareçam em diferentes ambientes ou contextos e que novos comportamentos relacionados sejam desenvolvidos sem uma intervenção direta. Por último, a ABA tem que ser Tecnológica. Assim é colocado pelas psicólogas Cíntia Guilhardi e Leila Bagaiolo que fizeram seu doutorado no IPUSP e Claudia Romano da PUC-SP.
É recomendada,  internacionalmente, que a intervenção com ABA seja aplicada em 40 horas semanais, de forma intensiva e individual (conhecida como Tratamento Precoce Intensivo), principalmente nos dois primeiros anos. Esta recomendação veio a partir de um  estudo de longo prazo, o de Ivar Lovaas: “O grande trabalho com ABA, é de um senhor chamado Ivar Lovaas em 1987. 
Ele faz uma avaliação com metodologia bastante rigorosa, com um grupo de crianças autistas que ele trabalha intensivamente o nível comportamental, e observa, inclusive, mudanças nos escores de provas cognitivas. É o primeiro grande trabalho com ABA”, relatou o professor do PSC Francisco Baptista Assumpção Júnior.
“Quase metade das crianças autistas no grupo de amostra obtiveram níveis formais de funcionamento intelectual (medidos por testes de QI) e tiveram desempenho satisfatório em classes da 1ª série regulares aos 7 anos de idade.” (source)
Não é apenas dentro da clínica que a intervenção deve ser feita, mas em todos os momentos de atividades, o que envolve a escola e o lar da criança. Além disso, quanto mais cedo for iniciada, melhores serão os resultados, pois em uma criança mais velha, certos comportamentos já estão solidificados. Portanto, o maior foco do trabalho acaba sendo barrar esses comportamentos em vez de ensinar novos e desenvolver capacidades.
Quem está apto a aplicar a ABA?
Como introduzido no início desta matéria, ABA é uma ciência. Portanto, idealmente, o profissional qualificado para planejar a aplicação dessa ciência por meio da terapia deve ser um conhecedor da análise do comportamento. Em seu novo trabalho, o pesquisador Robson Faggiani, que já atuou como supervisor do CAIS, afirma que o especialista, normalmente, é um psicólogo e possui especialização em Terapia Comportamental, Psicologia Experimental ou Análise do Comportamento. Todavia, a aplicação em si pode ser feita por qualquer um que passe por um treinamento com o perito. 
Devido a escassez de profissionais certificados no Brasil (o processo para obter um certificado é caro e extenso, mas, na verdade, o Brasil não possui certificação própria e também não reconhece outras) atuantes na área do espectro autista, cursos de ABA foram criados nos últimos tempos, tendo os pais de crianças com TEA e analistas como público-alvo.
O caráter singular de cada pessoa não pode deixar de ser levado em consideração. Nenhuma intervenção será igual para crianças diferentes; se o terapeuta apresenta uma proposta sem antes investigar o caso do cliente, é impossível obter embasamento suficiente para as práticas terapêuticas.

Fonte:Psico.USP

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