quarta-feira, 9 de maio de 2018

SURDOCEGO

Comunicando-se com um Surdocego.
      
QUEM É O SURDOCEGO?

São várias as definições que tentam esclarecer a surdocegueira e definir o surdocego, de forma que, possamos conhecê-lo melhor para poder planejar o atendimento, elaborar os programas educacionais e também dar maior apoio às famílias.
Uma das definições mais antigas diz: ”Surdo-cegas são crianças que tem dificuldades auditivas e visuais, cuja combinação resulta em problemas tão severos na comunicação e outros problemas de desenvolvimento e educação, que elas não podem ser integradas em programas educacionais especiais para deficientes auditivos ou deficientes visuais” (Lieke de Leuw, 1997).
Atualmente temos uma postura diferente, nos preocupamos em descobrir quais as possibilidades que a criança apresenta e suas necessidades em vez de destacar suas dificuldades. Assim temos descoberto muitos recursos para atendê-las.
Também existem outros recursos para reconhecer um surdocego e outras informações sobre o seu desenvolvimento. Temos informações de que crianças surdo-cegas brasileiras desenvolveram condições de serem educadas com os surdos, comunicando-se em LIBRAS e usando o Braile para o reconhecimento da leitura e escrita. Mas para que isso aconteça é necessário que a intervenção seja precoce.
O portador de surdocegueira não pode ser assemelhado nem a um surdo nem a um cego, pois constitui um caso bastante particular.

Classificação de acordo com a intensidade das perdas:
  • Existência de um resíduo auditivo e de um resíduo visual;
  • Surdez total e resíduo visual;
  • Resíduo auditivo e cegueira total;
  • Surdez e cegueira totais.
Tipos:
*      Cegueira congênita e surdez adquirida;
*      Cegueira e surdez adquiridas;
*      Surdez congênita e surdez adquirida;
*      Baixa visão com surdez congênita ou adquirida; e
*      Cegueira e surdez congênitas.

Quais são as principais causas da surdocegueira?

O grupo mais numeroso de surdocegos é compostas por pessoas com 65 anos ou ainda mais idosas, que adquiriram a deficiência sensorial tardiamente. As causas da surdocegueira podem ser acidentes graves; a condição genética da síndrome de Usher (as manifestações clínicas desta síndrome incluem a surdez, que se manifesta logo no início da vida e a perda visual que ocorre, geralmente, mais tarde) e surdocegueira congênita resultante de doenças como a rubéola ou de nascimentos prematuros.
Alguns problemas e doenças podem causar deficiência múltipla, como:
ü  Icterícia: é comum em recém-nascidos. Refere-se à cor amarelada da pele e do branco dos olhos que são causados pelo excesso de bilirrubina no sangue. A bilirrubina é um pigmento normal, amarelo, gerado pelo metabolismo das células vermelhas do sangue. A criança fica ictérica quando a formação de bilirrubina é maior do que a capacidade do seu fígado de metaboliza-la. O acúmulo desse pigmento acima de certos níveis é extremamente tóxico para o sistema nervoso, podendo causar lesões graves e irreversíveis.
ü  Prematuridade: a prematuridade ainda é frequente em nosso meio; existem casos de prematuridade extrema que podem causar sequelas como: atraso motor, retinopatia e deficiência auditiva. Mas é importante ressaltar que nem todos os prematuros irão apresentar sequelas intelectuais ou motoras.
ü  Sífilis congênita: o contaminador é a mãe. O contágio ocorre por via placentária, exclusivamente após o quarto mês. Em caso de infecção maciça, o feto morrerá após o quinto mês. Sobrevivendo, o feto poderá adquirir lesões que se manifestam após o nascimento ou muitos anos mais tarde, como deficiência intelectual, surdez, defeitos dentários e outras consequências de lesões degenerativas do sistema nervoso central.
ü  Meningite: é uma inflamação das membranas que recobrem e protegem o sistema nervoso central: as meninges. A meningite pode ser de origem viral, adquirida depois de alguma gripe ou outra doença causada por vírus, ou de origem bacteriana. A pessoa com meningite apresenta alguns sintomas: febre, rigidez da nuca, dor de cabeça e vômitos. Saber se a meningite foi causada por vírus ou bactéria é importante porque a gravidade da doença e o tratamento diferem. A meningite viral é geralmente menos grave e cura-se sem tratamento específico, enquanto a meningite bacteriana pode ser muito séria e resultar em danos ao cérebro, perda de audição ou dificuldade de aprendizado.
ü  Síndrome de West: é um tipo raro de epilepsia. As convulsões afetam geralmente crianças menores de 1 ano. Os espasmos são diferentes para cada criança. Podem ser tão leves no inicio que nem são notados. No inicio, a criança pode apresentar um ou dois espasmos por vez, mas, no decorrer de um período de dias ou semanas, evoluem para dúzias de espasmos que ocorrem em intervalos de poucos segundos. Podem aparecer em diferentes circunstâncias, por exemplo: em crianças com enfermidades estruturais do cérebro (fenilcetonúria, esclerose tuberosa, entre outras) ou em crianças com lesões cerebrais não progressivas (sequelas de infecções pré-natais, anóxia pré ou perinatal, meningites, entre outras).
ü  Anóxia: é definida como ausência de oxigenação das células cerebrais. Cada indivíduo apresenta um quadro específico, podendo perder o movimento muscular, a visão, a audição, ter dificuldade para falar e, mais raramente, ter comprometimento mental. Dependerá de quais células forem afetadas.
ü  Fator RH Negativo: apresenta-se devido à incompatibilidade de RH; se um pouco de sangue fetal entrar em contato com a corrente sanguínea da mãe, o corpo produzirá anticorpos. Esses anticorpos podem voltar para a placenta e danificar o desenvolvimento dos glóbulos vermelhos do bebê, causando uma anemia no feto que pode ser de muito suave a muito grave. É bem mais comum na segunda gestação e nas subsequentes. As consequências são sérias lesões neurológicas.
ü  Glaucoma: é uma alteração em que a pressão do líquido que preenche o globo ocular está anormalmente aumentada. Esse acúmulo se produz pelo aumento da formação do líquido ou pela obstrução do conduto pelo qual normalmente esse líquido sai do olho. O glaucoma ocasiona lesão no olho; se não for tratado e se o processo não for controlado, podem levar à cegueira. As pessoas que tem maior risco de sofrer de glaucoma são as diabéticas e as com familiares que têm glaucoma.
ü  Síndrome de Usher: de origem genética, tem graus variáveis, associando a surdez, presente já no nascimento, com a perda de visão, que se inicia na infância ou na adolescência. A cegueira parcial ou total é causada pela retinose pigmentar. A doença afeta, primeiro, a visão noturna e, depois, a periférica, das laterais, preservando por mais um tempo a central. Também há sensibilidade a excesso de luz.
Existem quatro tipos:
ü  Tipo I: provoca deficiência auditiva profunda de nascimento e retinose pigmentar, cegueira noturna com perda de equilíbrio;
ü  Tipo II: provoca deficiência auditiva leve à moderada, não progressiva, com retinose pigmentar no inicio da puberdade; cegueira noturna com perda de equilíbrio, na maioria dos casos, na fase adulta.
ü  Tipo III: provoca deficiência auditiva congênita progressiva, com retinose pigmentar e cegueira noturna na infância com perda de equilíbrio;
ü  Tipo IV: é um tipo mais raro, afeta apenas 10% da população com a síndrome.
v  Toxoplasmose: é uma doença infecciosa causada por um protozoário chamado Toxoplasma Gondii, que pode ser encontrado em fezes de gatos e em outros animais contaminados. Ter a doença durante a gestação significa risco elevado de comprometimento fetal. Pode ocorrer aborto, crescimento intrauterino abaixo do normal, morte fetal, prematuridade, microftalmia (olhos pequenos), microcefalia (crânio pequeno), hidrocefalia, deficiência intelectual, lesões de pele e calcificações do cérebro.
v  Consanguinidade: significa o grau de parentesco entre indivíduos de ascendência comum. Podem ocorrer diversas sequelas, entre elas: síndromes degenerativas, deficiência intelectual, deficiência física, deficiência auditiva e deficiência visual.

Classificação de acordo com a época de aquisição:

Surdocego pré-linguístico: classifica-se como aquele que apresenta a surdocegueira congênita (no período gestacional), após o nascimento, mas antes da aquisição da linguagem ou surdez antes da aquisição da linguagem e posterior cegueira.

Surdocego pós-linguístico: classifica-se assim, aquele que adquiriu surdocegueira após a aquisição da linguagem ou cegos com posterior surdez.

Como comunicar-se com um surdocego?

Os surdocegos possuem diversas formas para se comunicar com as outras pessoas. A LIBRAS, Língua Brasileira de Sinais, desenvolvida para a educação dos portadores de deficiência auditiva, pode ser adaptada aos surdocegos utilizando-se o tato. Colocando a mão sobre a boca e o pescoço de um intérprete, o portador de surdocegueira pode sentir a vibração de sua voz e entender o que está sendo dito, esse método de comunicação é chamado de tadoma. Também é possível para o surdocego escrever na mão de seu intérprete utilizando um alfabeto manual ou redigir suas mensagens em sistema Braille (língua formada de pontos em relevo criada para a comunicação das pessoas cegas). Existe ainda o alfabeto moon, que substitui as letras por desenhos em relevo e o sistema pictográfico, que usa símbolos e figuras para designar os objetos e ações.

Alfabeto manual - Consiste em fazer, com a mão, um sistema de signos sobre a palma do interlocutor. São variados os códigos adotados nesse procedimento; a forma mais usual é aquela onde cada letra é representada pelas diferentes posições dos dedos e da mão.


Língua de Sinais - Consiste em uma forma de comunicação construída no espaço através de configurações das mãos em movimentos diferentes e pontos de contato no corpo.

Tadoma - Método de linguagem receptiva onde a pessoa surda-cega, através do tato, decodifica a fala do seu interlocutor. Consiste em colocar a mão no rosto do locutor de tal forma que o polegar toque, suavemente, seu lábio inferior e os outros dedos pressionem, levemente, as cordas vocais. Este procedimento possibilita a interpretação da emissão dos sons através do movimento dos lábios e da vibração das cordas vocais.



Sistema Braille - Sistema de escrita e leitura tátil criado por Louis Braille, em 1824. Ainda aluno da "Instituition des Jeunes Aveugles", em Paris, o jovem cego Louis inspirado na "grafia sonora", idealizada pelo Capitão de Artilharia Carlos Barbier de la Serre, inventou o Sistema, ainda hoje utilizado, com pequenas modificações, em todo o mundo. Consiste no arranjo de seis pontos em relevo, dispostos em duas colunas de três pontos. As diferentes posições desses seis pontos permitem a representação de todas as letras do alfabeto, dos sinais de pontuação, dos símbolos da matemática, da música e outros.



                                                        Importante
O termo Congênito (a) designa o que Está Presente ao Nascimento. Estar presente ao nascer Não Significa que as deficiências são de grau severo. Mas sim, podem apresentar diferentes graus de perdas.
O termo Adquirido (a) designa o que Não Está Presente ao Nascimento, mas sim, adquire-se ao longo da vida. Também neste caso, as perdas podem se apresentar de vários graus, desde as mais severas até as mais leves.


Como Ajudar um Surdocego.
1.  Ao aproximar-se de um surdo-cego, deixe que ele perceba sua presença com um simples toque.
2.  Qualquer que seja o meio de comunicação adotado faça-o gentilmente.
3.  Combine com ele um sinal para que ele o identifique.
4.  Aprenda e use qualquer que seja o método de comunicação que ele saiba. Se houver um método, conheça-o, mesmo que elementar.
5.  Se houver um método mais adequado que lhe possa ser útil, ajude-o a aprender.
6.  Tenha a certeza de que ele o percebe, e que você também o está percebendo.
7.  Encoraje-o a usar a fala se conseguir, mesmo que ele saiba apenas algumas palavras, para os que têm resíduos auditivos.
8.  Se houver outras pessoas presentes, avise-o quando for apropriado para ele falar.
9.  Avise-o sempre do que o rodeia.
10.  Informe-o sempre de quando você vai sair, mesmo que seja por um curto espaço de tempo. Assegure-se que fica confortável e em segurança. Se não estiver, vai precisar de algo para se apoiar durante a sua ausência. Coloque a mão dele no que servirá de apoio. Nunca o deixe sozinho num ambiente que não lhe seja familiar.
11.  Mantenha-se próximo dele para que ele se perceba sua presença.
12.  Ao andar deixe-o apoiar-se no seu braço, nunca o empurre à sua frente.
13.  Utilize sinais simples para avisá-lo da presença de escadas, uma porta ou um carro.
14.  Um surdo-cego que esteja se apoiando no seu braço, perceberá de qualquer mudança do seu andar.
15.  Seja cordial, exerça sua consideração e senso comum.
16.  Escreva na palma da mão do surdo-cego.
a.   Qualquer pessoa que saiba escrever letras maiúsculas pode fazê-lo na mão do indivíduo surdo-cego, além de traços, setas, números, para indicar a direção, e do número de pancadas na mão, que podem indicar quantidades.
b.   Escreva só na área da palma da mão e não tente juntar as letras. Quando quiser passar a escrever números, faça um ponto, com o indicador, na base da palma de sua mão, isso lhe indicará que dali em diante virá um número.

Algumas características dos alunos surdocegos.
·         Podem apresentar movimentos estereotipados;
·         Não demonstram saber as funções dos objetos ou brinquedos;
·         Podem rir e chorar sem causa aparente;
·         Podem apresentar resistência ao contato físico;
·         Movimentam os dedos e as mãos em frente aos olhos;
·         Não se comunicam de maneira convencional;
·         Tropeçam muito e batem nos móveis, objetos, etc;
·         Gostam de ficar em locais com luminosidade;
·         Podem não reagir aos sons.

Algumas orientações para professores:
ü  Evite o toque de muitas mãos;
ü  Planeje atividades funcionais para o aluno;
ü  Não infantilize, considere sua idade cronológica;
ü  Criar uma rotina previsível, com uma possível comunicação;
ü  Estabelecer uma relação de confiança;
ü  Respeitar o tempo de aceitação;
ü  Desenvolver um diálogo não verbal, utilizando os movimentos da criança;
ü  Utilizar as habilidades que o aluno apresentar;
ü  Enfocar o processo de aprendizagem e não resultados;
ü  Perceber suas intenções comunicativas;
ü  Dar novo significado a objetos e pessoas.
ü  Respeitar o tempo do aluno e não ser invasivo.
                15/07/2006 - Helen Keller National Center New York.

Fonte: Revista Ciranda da Inclusão, 2010.

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